"Tenham o cuidado de não praticar suas ‘obras de justiça’ diante dos outros para serem vistos por eles. Se fizerem isso, vocês não terão nenhuma recompensa do Pai celestial. "Portanto, quando você der esmola, não anuncie isso com trombetas, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem honrados pelos outros. Eu lhes garanto que eles já receberam sua plena recompensa. Mas quando você der esmola, que a sua mão esquerda não saiba o que está fazendo a direita, de forma que você preste a sua ajuda em segredo. E seu Pai, que vê o que é feito em segredo, o recompensará".

Mateus 6:1-4
A pobreza é um dos mais persistentes e vexatórios problemas da humanidade. Por muitas vezes, instaura-se por culpa do próprio indivíduo que se entrega à inatividade; mas, outras vezes, é imposta às pessoas por força das circunstâncias, pela falta de educação e pela ignorância acerca de como as pessoas
devem tirar proveito das oportunidades. Jesus mencionou a proverbial persistência da pobreza entre os homens: “Porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim, nem sempre me tendes” (Mateus 26:11).
Os sociólogos reconhecem a necessidade de dar aos pobres os meios e o conhecimento necessários para eles escaparem de sua pobreza, e não meramente suprir suas necessidades gratuitamente. No entanto, a pobreza é uma situação econômica na qual as pessoas são incapazes de obter os meios
de sustento por seus próprios esforços. Quem é verdadeiramente pobre precisa depender de outras pessoas ou instituições como agências de caridade, religiosas e seculares, a fim de receber seu sustento. Essa categoria de pessoas pobres, geralmente, são aquelas que dependem inteiramente de outras pessoas para sua simples sobrevivência, como crianças abandonadas que mendigam pelas ruas ou adultos com famílias que moram debaixo de pontes, em palafitas e que dependem das agências de caridade e dos programas de socorro dos governos.
No Antigo Testamento, no Livro de Deuteronômio 15:7-11, Deus nos fala da Lei em favor dos pobres e o verso 11 diz: “Pois nunca deixará de haver pobres na terra; por isso, eu te ordeno: livremente, abrirás a mão para o teu irmão, para o necessitado, para o pobre na tua terra”. Como vemos, a pobreza era uma constante na vida do povo de Israel e que devemos estar sempre prontos a ajudar e cooperar com nosso irmão. No Novo Testamento, encontramos uma
espécie de modificação nas atitudes diante das questões econômicas, geral e da pobreza em particular. Ali, o estado, abençoado por Deus, parece envolver a adversidade, e não a abundância material, porquanto os primeiros discípulos de Jesus foram homens perseguidos e, naturalmente, empobrecidos. Bem- aventurados os pobres... é a declaração simples em Lucas 6:20. O Evangelho é anunciado aos pobres (Lucas 4:18). Estaríamos equivocados se pensássemos
que Jesus via qualquer bem-aventurança na pobreza em si mesma. Antes, visto que o Seu Evangelho parecia ser mais eficaz entre os pobres, embora não tão eficaz entre a classe abastada, tornando-se paralelos os termos “pobres” e “espiritualmente bem-aventurados”.

Jesus reconheceu o caráter permanente da pobreza entre os povos do mundo, embora isso não significasse que Ele era indiferente com o sofrimento causado pela pobreza material. Entretanto, a vida espiritual é viável mesmo em meio à pobreza (Mateus 12:42). Paulo interessava-se em que os crentes trabalhassem e tivessem o suficiente, de modo a não encontrarem obstáculos em sua atuação cristã, o que ele exemplificou com os seus esforços pessoais (2 Coríntios 9:8). O próprio apóstolo dos gentios sabia o que era desfrutar de abundância e o que era passar privações e continuava atuando no Evangelho sob ambas situações (Filipenses 4:12). Os cristãos primitivos foram ensinados a não ser indiferentes à pobreza (Romanos 15:26; Gálatas 2:10) e deveriam ajudar os irmãos pobres. Aqueles que
ajudavam meramente com palavras, mas não com ação, eram tidos como hipócritas (Tiago 2:15). Viver segundo a lei do amor era a grande prova de espiritualidade. O ofício eclesiástico dos diáconos veio a existir devido à pobreza entre a classe dos órfãos e das viúvas.

Dois milênios passaram e nada mudou em relação aos menos favorecidos. O crescimento populacional, o êxodo rural, a massificação nas cidades geraram falta de moradia, de emprego, de oportunidades e por último, a pandemia que acelerou todo um desequilíbrio na saúde emocional e social dos seres humanos. A lição de amor e solidariedade existentes na Igreja primitiva são exemplos a serem seguidos como prática atuante entre os cristãos, buscando
não apenas o valor positivo que há na justiça prática, mas buscando a submissão a Deus e tão somente o amor a Ele em primeiro lugar e a nossos irmãos em Cristo Jesus.

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Em Romanos 12:8 a Palavra de Deus nos exorta a que façamos com dedicação a obra do Senhor Jesus: “O que contribui que o faça com liberalidade; o que preside, com diligência; quem exerce a misericórdia, que o faça com alegria”. O apóstolo Paulo reconhece a grande variedade e a natureza da prática desses dons (no grego charismata) espirituais. Mas por toda parte, torna-se claro que a bênção daqueles que recebem esse ministério da profecia deve ser a consideração suprema do emprego dos dons espirituais em amor ao seu próximo sem alarde e com discrição.

Não poderia deixar de registrar um exemplo de doação na ajuda ao próximo na pessoa de uma mulher chamada Raimunda Alves Lima. Uma senhora de 92 anos, nascida em Eirunepé, Município da Calha do Rio Juruá no Estado do Amazonas em 11 de setembro de 1928. Com toda essa idade, chamou-me a atenção o fato de que essa senhora costura roupas infantis para os indígenas da região da prelazia de São Gabriel da Cachoeira, um outro município mais ao norte do estado, onde as tribos indígenas ainda são em grande quantidade e de várias etnias. Ela recebe doações de retalhos, tecidos e aviamentos de
armarinho para essa tarefa que faz com tanto esmero e amor. Em conversa com ela, disse-me ser isso um dom de Deus que a faz sentir-se gratificada e rejuvenescida. Mora sozinha com uma cuidadora é solteira e aposentada. Em sua juventude foi professora e continua amando seu ministério, ajudando os indígenas mirins que vivem pela floresta amazônica protegidos pela graça sublime e redentora do nosso Mestre Jesus Cristo. Que haja mais Raimundas, velhas ou novas, mas que possuam no coração o desejo gracioso de ajudar os menos favorecidos sem querer retribuição, sem tocar trombetas e nem
fazer alarde. Que a bênção deste ministério seja supremo para todos quantos se engajem nele. Vale lembrar que ela, D.Raimunda, nunca viu um
indiozinho sequer.