Há uma diferença numérica elevada entre o número de pesquisas científicas envolvendo a maternidade e a paternidade. Até há poucos anos, os pais (daqui em diante, os genitores masculinos) eram negligenciados em estudos, que se focavam principalmente nas influências maternas sobre os filhos. Mas isso tem mudado. A obra “O Novo Papel do Pai: A Ciência Desvenda o Impacto da Paternidade no Desenvolvimento dos Filhos”, de Paul Raeburn (Editora Agir, 2015, 224 páginas) resume inúmeras descobertas que vêm sendo feitas nos últimos anos. Conforme o autor, “a evidência mostra que os pais fazem contribuições importantes e singulares para seus filhos de diversas formas” (p. 21). Organizei um esboço de algumas das principais informações apresentadas, classificando-as em três categorias: as influências físicas dos pais sobre os filhos; as influências psicológicas dos pais sobre os filhos; e as influências da paternidade sobre o próprio pai.

Influências Físicas dos Pais

A evidência apontava que mães que comem em excesso ou são obesas durante a gravidez aumentavam as chances de seus filhos serem obesos. Agora, sabe-se que filhos de pais obesos também são mais propensos à obesidade.

Os filhos de pais que começaram a fumar mais cedo eram mais propensos a estar acima do peso com nove anos de idade.

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Crianças cujos pais fumavam quando as mães estavam grávidas eram mais propensas a terem excesso de peso. Essa foi a primeira evidência de que a obesidade infantil pode ser afetada pela exposição da mãe ao consumo de cigarros de seu parceiro durante a gravidez.

A obesidade do pai, e o que se denomina de obesidade central ou gordura abdominal, estava associada com um aumento de 60% no risco do bebê nascer com peso abaixo do normal, não importando se a mãe era obesa. 

Certas profissões dos pais são associadas a um risco maior de defeitos congênitos nos filhos. As ocupações de maior risco incluem trabalhador de petróleo ou gás, químico, gráfico, cientista da computação, cabeleireiro e operadores de veículos motorizados. Alguns trabalhos específicos foram associados a doenças específicas: catarata e glaucoma ligados a pais fotógrafos e anomalias digestivas ligadas a paisagistas.

Várias doenças genéticas graves são relacionadas ao imprinting genômico paterno, um fenômeno biológico em que um dos genes é expresso e o outro é metilado (desativado). Quando um gene paterno específico do cromossomo 15 não se expressa, as crianças nascem com uma desordem chamada Síndrome de Prader-Willi. A redução na atividade de três genes específicos de origem paterna faz com que a pessoa tenha tendências para o lado do espectro de esquizofrenia-depressão.

Nascimentos adversos eram mais comuns à medida que a idade do pai avançava, bem como se o pai havia nascido abaixo do peso. Filhos de pais com mais de 40 anos tinham seis vezes mais risco de autismo do que os com pais com menos de 30. Filhos de pais com mais de 50 anos tinham 10 vezes mais risco de ter autismo. Idade paterna avançada também está relacionada a maior risco de transtorno bipolar precoce, defeitos congênitos, fissura labiopalatal, água no cérebro, nanismo, aborto espontâneo, parto prematuro, esquizofrenia e síndrome de Down. 

Paradoxalmente, filhos de pais mais velhos apresentam tendência a uma longevidade maior, e o mesmo acontece com os filhos deles, ou seja, a probabilidade de vida mais longa se estende a duas gerações pelo menos.

Outros dados mostram que filhos de pais mais velhos tendem a ser um pouco mais altos e magros do que os filhos de pais mais jovens.

O maior envolvimento do pai no cuidado do bebê, juntamente com a mãe, está ligado a um menor número de despertamentos do bebê durante a noite, gerando um melhor sono.

 

Influências Psicológicas dos Pais

O pai não apenas é importante para o desenvolvimento da linguagem, mas é ainda mais importante do que a mãe. Embora as mães tendem a passar mais tempo com as crianças, os pais utilizam um vocabulário mais diversificado quando estão com elas (as mães tendem a utilizar na comunicação palavras que os filhos já conhecem).

A sensibilidade dos pais, seu afeto e estímulo intelectual aos filhos geravam melhores resultados em testes futuros de desenvolvimento intelectual e vocabulário. 

Crianças com pais envolvidos tinham um QI mais elevado aos 3 anos do que as crianças cujos pais não tinham brincado com elas ou ajudado na sua criação.

A depressão do pai aumenta o risco de depressão nos filhos, assim como a das mães, mesmo que os pais não tenham conexão direta com o feto durante a gravidez de suas parceiras.

Filhos de pais com depressão têm um vocabulário menor aos dois anos do que outras crianças, uma relação não observada em mães com depressão. Filhos de pais que sofrem com depressão séria são 8 vezes mais propensos a terem problemas de comportamento e 36 vezes mais propensos a ter dificuldade de relacionamento com seus amigos. 

Há indícios de que o medo produzido por experiências traumáticas pode ser passado do pai para a sua descendência.

Um estudo em que pais e mães brincavam com seus filhos a mesma quantidade de tempo demonstrou que os bebês respondem mais positivamente ao pai. Os pais eram mais propensos a contato físico em suas brincadeiras. As mães davam muito mais colo do que os pais, mais os pais eram mais propensos a brincar com as crianças quando davam colo. Os bebês reconheciam a diferença claramente. Bebês veem as mães como fonte de bem-estar e segurança, mas veem mais os pais como parceiros de brincadeiras, o que faz com que respondam mais positivamente ao seu colo, pois acham que é a hora de brincar. Além disso, as brincadeiras mais “arriscadas”, feitas geralmente pelos pais, são um fator de estímulo psicológico que prepara melhor a criança a lidar com eventos inesperados e a assumir riscos. O papel dos pais é especialmente importante para ajudar a criança a lidar com novos ambientes, como a escola.

O bom comportamento do pai também melhora o comportamento das mães em relação aos próprios filhos.

Interações mais remotas entre pai e bebê estavam associadas a um índice maior de comportamento agressivo nas crianças. Os efeitos eram maiores em meninos do que em meninas, e isso independentemente de como as mães agiam com as crianças.

Crianças cujos pais brincavam, passeavam e ajudavam a cuidar delas tinham menores problemas comportamentais nos primeiros anos escolares e menor probabilidade de delinquência ou comportamento criminoso quando adolescentes. 

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Há uma forte associação entre a ausência do pai, tanto física quanto psicológica, e o desenvolvimento reprodutivo acelerado e o comportamento sexual de risco em filhas. Meninas com um bom relacionamento afetivo com seus pais entre cinco e sete anos têm menor chance de puberdade precoce, iniciação sexual precoce e gravidez na adolescência (uma hipótese explicativa para isso é o cheiro do pai!).

Adolescentes que se envolvem em atividades com as famílias (como refeições, atividades religiosas ou diversão) eram menos propensos a se envolverem em comportamentos sexuais de risco. O mesmo era verdade para filhos cujos pais estavam mais bem informados sobre os amigos e as atividades de seus filhos.

Pais ressaltam nos filhos, mais do que as mães, a destreza física, o desenvolvimento atlético e a arte de consertar as coisas.

Pais que liam para meninas aos 7 anos e conversavam com elas aos 16 anos ajudavam a prevenir depressão e outras doenças psicológicas nas décadas seguintes.

Crianças aceitas pelos seus pais são independentes e emocionalmente estáveis; elas são mais propensas a ter uma autoestima forte e uma visão positiva do mundo. Aquelas que se sentiram rejeitadas mostraram o oposto: hostilidade, sentimentos de inadequação, instabilidade e uma visão negativa do mundo. A influência da rejeição paterna pode ser ainda mais importante do que a da mãe.

“Vários estudos sugerem que a orfandade paterna é um dos principais colaboradores para o crime e a delinquência juvenil; sexualidade precoce e gravidez entre adolescentes solteiros; deterioração educacional; depressão, abuso de substâncias e isolamento entre os adolescentes” (p. 186). O autor cita David Popenoe, da Universidade Rutgers, que diz que o declínio da paternidade é “uma das maiores forças por trás de muitos problemas perturbadores que assolam a sociedade americana” e que “os pais - o pai e a mãe - são melhores para a criança do que apenas um deles”.

Influências da Paternidade sobre os Pais

Pais que se envolvem durante a gravidez são mais propensos a brincar e ler para seus filhos, e geralmente ajudam a cuidar do bebê. São mais propensos a arrumar emprego caso sejam desempregados, e se mudarem para junto de suas parceiras, caso morem em outro lugar. Esses efeitos cascata beneficiam ao pai, a mãe e a criança.

Pais presentes durante o nascimento, na sala do parto, tornam-se mais apegados a seus filhos e mais envolvidos em seu cuidado.

O homem passa por mudanças físicas e psicológicas durante o período de gravidez de sua parceira, da mesma forma que ocorre com ela. Alguns homens deixam a barba crescer, perdem peso e começam a cuidar de machucados que não haviam percebido antes. 

Os níveis dos hormônios testosterona, cortisol e prolactina diminuem no homem durante o período de gravidez e pós-parto, um mecanismo biológico para diminuir sua agressividade e competitividade, e torná-lo mais carinhoso e interessado nos bebês. E não apenas isso, mas há uma correlação entre os níveis hormonais das mulheres e de seus parceiros. Os níveis hormonais das mulheres subiram e desceram de acordo com o processo fisiológico que estava acontecendo na gravidez, e os níveis hormonais dos homens subiram e desceram de acordo com as mudanças hormonais de suas parceiras. Quanto mais íntimo e próximo era o casal, mais as mudanças hormonais entre ambos se assemelhavam, tornando-os melhores pais.

Pais envolvidos com seus filhos têm um risco menor de mortalidade e de contrair doenças, o que pode ser explicado pela redução do hormônio testosterona. Altos índices desse hormônio aumentam o risco de câncer de próstata e os níveis de colesterol ruim.

O cérebro masculino é esculpido e moldado por suas experiências com seu bebê, em especial produzindo uma maior atividade no córtex pré-frontal. As áreas que aumentam em atividade parecem estar associadas às motivações, ao estado de espírito do pai e ao seu envolvimento com o bebê. 

Entre três e quatro meses após o nascimento, há uma maior atividade do córtex auditório do pai, o que o prepara a atender melhor às necessidades do bebê. 

À medida que os pais interagem com seus bebês ao longo do tempo, sistemas hormonais de prolactina e ocitocina em ambos criam novas conexões entre eles.

Homens que tiram licença quando nasce o seu bebê são mais envolvidos com eles mais tarde e produzem posteriormente avaliações mais positivas no trabalho.

É importante destacar que as evidências “não mostram que crianças que crescem sem o pai em casa estão condenadas ao fracasso ou algo semelhante” (p. 21). Os dados apontam tendências e probabilidades, mas não um determinismo, visto que há diversos fatores envolvidos que moldam a formação integral de uma pessoa. 

Segundo a Bíblia, um dos melhores reis de Judá, Josias, teve como pai e avô dois dos piores reis (Amom e Manassés), sendo seu pai assassinado quando ele tinha apenas 8 anos de idade. Mesmo assim, é dito que “antes dele não houve rei semelhante, que se convertesse ao Senhor com todo o seu coração, com toda a sua alma e com todas as suas forças, conforme toda a lei de Moisés; e depois dele nunca se levantou outro tal.” (2 Reis 23:25)

Para aqueles que não puderam crescer com um pai, ou cujos pais não foram os modelos de paternidade que deveriam ter sido, a fé cristã afirma que “Pai de órfãos e juiz de viúvas é Deus na Sua santa morada” (Salmos 68:5). Deus pode trazer restauração e cura às feridas emocionais que a vida deixou, em qualquer pessoa. Com Ele, nunca estaremos sozinhos. “E, para mostrar que vocês são Seus filhos, Deus enviou o Espírito do Seu Filho ao nosso coração, o Espírito que exclama: ‘Pai, meu Pai.’ Assim vocês não são mais escravos; vocês são filhos. E, já que são filhos, Deus lhes dará tudo o que Ele tem para dar aos Seus filhos.” (Gálatas 4:6-7, NTLH)

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