Escrevo com o coração partido. Sinto-me febril, emocionado, entristecido. Não passa pela minha mente qualquer revolta, pois creio na absoluta soberania de Deus. Mas a dor toma conta de meu coração.

Escrevi há pouquíssimos dias um artigo que teve ampla repercussão, "EU IREI AO SEU VELÓRIO", sendo que velório, no texto, corresponde a FUNERAL (nós não acendemos velas aos defuntos). Chamamos tudo de velório. Porém jamais pensei em ser notificado de que um amigo muito amado seria velado ontem mesmo, o Pastor Jonas Sommer. Não apenas o ele, mas, com ele, toda a família: Irmã Clarice, a filha Paulinha e o filho Marcos. Um carro, uma estrada, uma curva e um caminhão-tanque. Uma batida de frente e o fim trágico de toda a família.

Eu estava sem internet fixa, só a do chip do telefone celular. As mensagens demoraram a chegar. Mas quando vi no grupo COMPARTILHANDO, grupo de e-mails que o Pr. Norberto, o Pr. Airton e eu criamos em 2000, e que transformou-se no único grupo de WhatsApp que utilizo, a mensagem do acidente, o meu chão sumiu. A minha esposa entrou em prantos; Milú condoeu-se. Nós amávamos o Pastor Jonas! Minha filhinha, tão tenra, veio abraçar-me e dizer: "Não chore, papai."

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Ele era um batista do sétimo dia. Conheci-o há quatorze anos. Ele procurou o nosso grupo e assim apresentou-se. Eu sequer sabia da existência desses batistas. Ao conhecê-los vi-os com a mesma soteriologia, conquanto algumas práticas e o dia de guarda fossem distintos. Estudante brilhante da faculdade batista em Curitiba, foi consagrado ao ministério. Eu o trouxe à Boas Novas. Pregou maravilhosamente. Veio visitar-me quando estive com paralisia facial. Nos vimos novamente quando ele trouxe o irmão Isaías para tocar em nossa igreja. Pregou a Palavra. Fomos à casa do saudoso Cantor Luiz de Carvalho, um sonho antigo que ambos mantinham, de conhecer quem tanto os edificava com as canções que cantava. Posteriormente o Pr. Jonas eleito presidente de sua associação mundial e o nosso contato tornou-se muito limitado, como limitada é a comunhão de quase todos nós, infelizmente. Nossas frases eram curtas e um cantato pessoal ficava postergado.

Agora ele não está mais aqui. Nem ele, nem a esposa e nem os seus tenros filhinhos. Estão todos mortos. O sepultamento parece-me que teve que ser rápido, uma vez que o estado dos corpos isso exigia. Meu Deus, que dor e que tristeza!

Mas eu não estive no seu velório. Infelizmente. Porém procurei estar em sua vida enquanto pude. Há muitos que lamentam não ter dado a atenção necessária e possível quando alguém parte. Esse peso em minha consciência eu não terei. Aliás, tem sido a minha grande briga literária e pessoal, apontar para a nossa consciência sobre a frieza com que temos nos tratado, nos considerado e nos afastado uns dos outros. Em nome de uma agenda cheia deixamos os nossos relacionamentos afetivos e depois lamentamos a perda súbita de alguém, alterando qualquer programação para estar em seu velório. Eu quis ir também, mas a cidade era longe demais, seria um vôo e outras horas de ônibus. Não daria tempo. Além disto acredito que ninguém ali me conhecia e eu a ninguém também. Todos os que conheci estavam mortos. Meu Deus, quanta dor!

Está na hora de sermos mais afetuosos. Está na hora de procurarmos mais pelos nossos amigos e irmãos. Está na hora de sairmos do conforto do whatsapp e ligarmos para a pessoa, visitarmos as famílias, desfrutarmos da doce e maravilhosa bênção da comunhão. No grupo que mantenho vejo o contato dele; está ali. Passa-me a falsa impressão de que ele está presente; mas é apenas uma ilusão. Uma ilusão tão grande quanto a de que temos comunhão por termos uma multidão de contatos, mas que são apenas sinais e não corações. Satanás conseguiu afastar-nos uns dos outros, iludindo-nos com falsos sentimentos de presença. As lembranças pessoais que temos dos nossos amigos vão aos poucos se tornando matéria de museu, geralmente anteriores à facilidade das múltiplas comunicações que estão à nossa disposição hoje.

Irmãos, choro pela partida do meu amigo. Choro por sua esposa, companheira fiel, que morreu ao seu lado. E choro muito mais pelas criancinhas lindas, aqueles alemãezinhos, que não pediram para nascer e não tiveram a chance de desfrutar da adolescência, juventude, vida adulta, casamento, criação de filhos e envelhecimento. Como entender os desígnios de Deus? Como entender a permissão de Deus? Talvez só na glória celestial compreenderemos. Mas, sem dúvida alguma, ELE SABE O PORQUÊ PERMITIU. E reverentemente damos a Ele graças por tudo, até pela dor intensa. "Em tudo dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco" (1 Tessalonicenses 5:18).

Penso na sua casa. Algum familiar irá abri-la, se já não o fez. Camas que nunca mais receberão os seus moradores. Mochilas de escola que não serão mais abertas. Bibliotecas que não serão mais consultadas. Documentos que perderão o sentido de existir. Cozinha montada que não terá mais a quem servir. Jardim que não será mais regado. Sala que não testemunhará nenhuma reunião familiar. Telefone que não tocará mais. Vozerio tão costumeiro que não estará mais disponível. Creio que o que sinto agora nem às paredes conseguiria confessar...

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Ah, bendita certeza a nossa, de que a vida não termina aí! Se terminasse seríamos os mais infelizes de todos os homens! Jonas, Clarice e os seus filhos criam em Jesus Cristo como único e suficiente Salvador, tinham a Cristo como o único mediador entre eles e Deus e construíram a vida sobre a rocha dos séculos! Cristo prometeu-lhes vida eterna e esta vida eles a possuem! "Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá" (João 11:25).

Jonas não era um batista clássico, como eu. Mas onde está escrito que eu deveria ter comunhão apenas com quem milimetricamente pensasse do meu jeito? A minha vida cristã tem sido dirigida a comungar com todo aquele que ama a Jesus Cristo como eu, ainda que em alguns pontos da teologia e eclesiologia tenhamos pensamentos divergentes e, em alguns casos, irreconciliáveis. Mas não há questão suficiente que limite a comunhão entre dois salvos pelo Senhor Jesus Cristo na cruz do Calvário, que crêem piamente em seu nome e ressurreição! Jonas era meu irmão, meu amigo, um querido de minha alma.

Meu leitor: até quando estaremos escondidos numa falsa comunhão de milhares de contatos e curtidas, sem desfrutar de um contato pessoal com os nossos irmãos e amigos? Até quando protelaremos aquela visita, aquele telefonema, aquele contato prometido e nunca cumprido? Creia-me: um dia alguém ficará desolado, quando uma mensagem aparecer na mídia social: "fulano morreu". Pode ser que seja ele. Mas, se não for você o leitor, certamente ele saberá do seu falecimento.

Não espere isso acontecer.

Até breve, meu saudoso amigo Pastor Jonas! Até breve, família Sommer! Encontrar-nos-emos no Céu, não por nós, por nossos méritos, pois não os temos; mas pelos méritos de nosso Senhor Jesus Cristo, único e suficiente salvador!

Wagner Antonio de Araújo,
com lágrimas e dor, com intenso sofrimento.

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