Texto de Estudo

  E roguei aos teus discípulos que o expulsassem, e não puderam.    

Lucas 9:40 

A Bíblia é um livro perfeito, por ser a Palavra inspirada do Deus que é perfeito. (Deuteronômio 32.4) Contudo, mui-tos cristãos mantêm a ideia equivocada quanto aos chamados por Deus para escreverem as palavras das Escrituras (os profetas do Antigo Testamento e os apóstolos do Novo). Assim, consideram-nos pessoas de caráter  irrepreensível, que viveram sempre em santidade. Mas, ao lermos os escritos bíblicos, percebemos uma realidade que se choca frontalmente a tal compreensão. Os homens que Cristo escolheu para serem testemunhas oculares

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de Seu ministério, para comporem os Evangelhos e epístolas, foram, na verdade, falíveis, como qualquer um de nós. Ao observarmos isso, devemos perceber que não há como fingirmos superioridade espiritual em relação aos demais. Todos nós, em algum momento, viremos a pecar, pois não há homem que faça sempre o bem e não peque. (Eclesiastes 7:20) Além disso, nossas falhas não podem ser vistas como erros sem perdão, pois temos um Deus generoso que oferece salvação. Na lição de hoje, analisaremos, no capítulo 9 de Lucas, diversas limitações no caráter dos apóstolos de Cristo - momentos em que se esperava que agissem de um modo, mas agiram de outro. Ficará evidente como, em Cristo, pode-se encontrar esperança para cada uma das limitações que também existem em nós mesmos.

A IGNORÂNCIA DOS DISCÍPULOS (Lucas 9:10-17)

No começo do capítulo (v. 1-5), encontramos Jesus comissionando Seus discípulos a “pregar o reino de Deus e a curar os enfermos” (v. 2). Ele confere-lhes “poder e autoridade sobre todos os demônios” (v. 1), para que os mesmos fossem de aldeia em aldeia, cumprindo o mandato recebido. Quando retornam, alegremente contam a Cristo tudo o que haviam feito (v.10). Jesus e os discípulos seguem, então, para uma cidade chamada Betsaida, onde Ele acolhe as multidões, pregando-lhes a mensagem, atendendo às necessidades de cura (v.10-11). Ao entardecer, os discípulos começam a ficar preocupados; é melhor despedir as multidões a fim de que achem abrigo e alimento para si mesmas (v.12). Jesus confere-lhes um pedido: os próprios discípulos deveriam dar- lhes de comer. Os apóstolos respondem que tudo o que possuíam eram cinco pães e dois peixes (v.13). Somos informados pelo apóstolo João que eram pães de cevada (o alimento dos pobres) e que André achara um rapaz com eles, possivelmente era o lanche do jovem (João 6:8-9). Não era muito, diante de toda aquela multidão. Devem ter imaginado que Jesus não estivesse falando sério, pois estavam ali cerca de 5.000 homens! (v.14) Quanta ignorância por parte deles! Haviam acabado de voltar da viagem evangelística, na qual demônios e doenças foram-lhes submissos pelo poder do nome de Jesus, e imaginavam que não seria possível providenciar alimento para tais pessoas? Estamos falando de homens que já haviam visto Cristo purificar leprosos (5:12-16), curar enfermos (6:17-19) e ressuscitar mortos (7:11-17)! Quantas vezes não somos nós assim também! Depois de testemunharmos tantos milagres e intervenções de Deus em nossa vida, continuamos nos questionando como Cristo poderá nos ajudar, como poderá resolver aquele problema, como poderá restaurar nossa saúde... Mas, assim como Cristo demonstrou Seu poder multiplicando pães e peixes, fartando a multidão, o Senhor não abandona os Seus e atende nossas necessidades. (Lucas 11:9-13) Com essa história, podemos aprender que não importao quanto nossa necessidade pareça impossível; com a ajuda divina, tudo pode ser feito. “Porque para Deus nada é impos-ssível.”(Lucas 1:37). Que o Senhor ajude-nos a deixarmos nossa ignorância de lado, fazendo que cresçamos em fé no Seu poder!

A INCREDULIDADE DOS DISCÍPULOS (Lucas 9:37-43)

No dia seguinte, ao descerem do monte, um pai aflito surge do meio da multidão e implora a Cristo que expulse o demônio de seu filho. Deveria ser uma cena lastimável: o menino gritava, jogava-se ao chão, convulsionava e espumava. Os discípulos, explica o pai, a quem Jesus havia conferido autoridade sobre todos os demônios (v. 1), não haviam conseguido realizar a expulsão.

O problema estava no poder conferido? De forma alguma! Acontece que o poder os tinha deixado. Deve ter ocorrido algum fracasso na sua vida espiritual (Marcos 9:29 refere-se à necessidade da oração e do jejum, e Mateus 17:20 fala da pequenez de sua fé). Jesus lamenta a incredulidade de Seus apóstolos: “ó geração incrédula e perversa, até quando estarei com vocês e terei que suportá-los? Traga-me aqui o seu filho.” (v. 41) A incredulidade é um dos pecados mais graves e conde-nados nas Escrituras. Conforme Charles H. Spurgeon diz, “a incredulidade foi como a parte mais afiada da lâmina mortal que Satanás introduziu no coração de Eva; foi ela quem abriu passa gem à curiosidade, à cobiça e a todo o tipo de maldades pensadas. E, desde o dia, nunca suficientemente lamentado, quando o pecado entrou no mundo, e pelo pecado a morte, quem poderia contar as iniquidades sem número, às quais a incredulidade deu origem? Todo incrédulo é capaz de cometer o mais negro dos crimes que jamais tenha poluído a Terra. A incredulidade, meus irmãos, foi ela que endureceu o coração de Faraó [Êxodo 8.32], ela que descontrolou a língua de Rabsaqué [2 Reis 18:19], ela que se tornou deicida e crucificou o Rei da Glória [1 Coríntios 2.18]!” Jesus repreendeu o espírito imundo e curou o menino, deixando a multidão maravilhada. (v. 42-43) Essa história indica que não possuímos qualquer poder em nós mesmos. Só somos úteis à obra de Deus quando estamos conectados ao Senhor, por meio de um relacionamento vivo. Nas palavras do apóstolo Paulo, “temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que este poder que a tudo excede provém de Deus, e não de nós.” (2 Coríntios 4:7)

Precisamos manter nossa fé atuante. Crescemos em nossa vida espiritual por meio do estudo constante das Escrituras e da oração. A. W. Tozer relatou que se recordava de “um homem de Deus a quem foi perguntado: ‘O que é mais importante: ler a Palavra de Deus ou orar?’. Ele respondeu: ‘O que é mais importante para um pássaro, a asa da direita ou a da esquerda?’”. Todas as disciplinas espirituais precisam estar presentes e equilibradas em nossa caminhada. Que Cristo ilumine-nos a fim de que possamos viver e pregar a Sua Palavra a este mundo necessitado!

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O ORGULHO DOS DISCÍPULOS (Lucas 9:46-48)Os discípulos passaram a discutir entre si sobre qual deles seria o maior (v. 46). O adjetivo comparativo meizon, traduzidocomo “maior”, possui o sentido de “mais forte que”. Quem é o primeiro, o mais forte, o mais apto? Tais discussões eram mui-to importantes na Palestina, onde a posição de uma pessoa na sinagoga ou nas refeições dava margem a frequentes brigas. Tal discussão demonstrou que eles ainda não haviam entendido a lógica do Reino de Deus. Não tinham assimilado que um discípulo de Jesus é chamado a levar a Sua cruz (v. 23-25). Cristo não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate de muitos (Mateus 20:28). O Cristianismo apresenta uma visão paradoxal sobre o poder: o maior é aquele que é o menor (Lucas 22:26). Quem quiser ser senhor que seja servo (Mateus 20:26); quem se humilha é exaltado (Mateus 23:12). São os mansos que conquistam a Terra (Mateus 5:5), e há mais alegria em dar do que receber (Atos dos Apóstolos 20:35). A fim de ilustrar a tolice da discussão dos apóstolos, Jesus toma em Seus braços uma criança e explica: “quem recebe esta criança em meu nome, está me recebendo; e quem me recebe, está recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre vocês for o menor, este será o maior.” (v. 48) Jesus usou uma criança como ilustração da humildade despretensiosa.83 A criança não possuía lugar de importância na sociedade e era exemplo do menor (v. 48) a respeito de quem o Senhor falava. Oremos para que Deus torne cada uma de nós uma criança, sem preconceito, sem sermos dominados por ambições, com humildade de espírito, alguém que reconhece a necessidade do Pai.

O EXCLUSIVISMO DOS DISCÍPULOS (Lucas 9:49-50)

O apóstolo João relatou a Jesus que haviam encontrado, possivelmente durante a viagem missionária, um homem que expulsava demônios em nome de Jesus. Eles proibiram-no; afinal de contas, não era do grupo de Jesus e dos apóstolos! (v. 49) E acharam que haviam agido corretamente. Mas recebem uma dura lição de Jesus: “não o impeçam, pois quem não é contra vocês é a favor de vocês.” (v. 50). A atitude demonstra-da pelos apóstolos chama-se exclusivismo. Muitos cristãos acreditam que Deus só pode ser louvado e adorado corretamente na própria denominação, ou seguindo a forma única como interpretam as Escrituras. Parece que não podem crer que Deus práticas antibíblicas, errôneas; mas, sim, de não permitir que só venhamos a enxergar o nosso grupo. Embora esse homem não fosse membro do grupo oficial dos 12, partilhava da mesma fé no nome de Jesus. Sem dúvida, somos chamados por Deus para sermos separados, mas não para sermos sectários. Não é à toa que Winthrop Hudson, historiador batista americano, disse, referindo-se aos Batistas do Sétimo Dia, que eles “não são intolerantes.... [Eles] recusam-se a declarar aqueles que não estão de acordo com suas práticas como estando fora da comunhão com Jesus.”

O ESPÍRITO VINGATIVO DOS DISCÍPULOS (Lucas 9:51-56)

Próximo ao final de Sua obra terrena, Jesus enviou os discípulos a uma aldeia de samaritanos a fim de Lhe prepararem um local em que ficasse (v. 51-52). Porém, Jesus não foi recebido, pois manifestava o semblante de quem ia para a cidade de Jerusalém (v. 53). Os samaritanos eram um povo mestiço na raça e semipagãos na religião, com um templo rival e a crença de que o monte Gerizim era o lugar correto para a adoração. A rivalidade entre a Samaria e a Judeia começou na divisão do reino de Salomão e intensificou-se após a miscigenação da raça pelos assírios. Recusar um lugar ao Senhor! Isso era inadmissível para os apóstolos. Tiago e João, os chamados “filhos do trovão” (Mc3.17), querendo fazer justiça por Jesus (e colocar em prática a antipatia pelos samaritanos), perguntam a Jesus se Ele deseja que roguem para descer fogo do céu a fim de consumir os samaritanos (v. 54). É no mínimo irônico que os discípulos não tenham tido fé, anteriormente, para alimentarem a multidão e expulsarem o demônio de um menino, mas passarem a tê-la de tal forma que creem que podem rogar fogo do céu para destruir outras pessoas! A reprimenda de Jesus é dura: “Vocês não sabem de que espécie de espírito são, pois o Filho do Homem não veio para destruir a vida dos homens, mas para salvá-los.”(vv. 55-56). Com Cristo, havia chegado uma nova era de amor, perdão e misericórdia divina. Ele não veio para destruir os pecadores, mas para lhes oferecer o Evangelho e uma oportunidade de arrependimento. “Portanto, sejam imitadores de Deus, como filhos amados, e vivam em amor, como também Cristo amou-nos e entregou-Se por nós, como oferta e sacrifício de aroma agradável a Deus.” (Efésios 5:1-2) Que Deus ajude-nos a amarmos sem acepção e pre-conceito, assim como Cristo ama a todos!

CONCLUSÃO

Sermos cristãos não nos torna super-homens, pois continuamos com debilidades que, apenas pela graça de Deus, podemos vencer. Quando os discípulos erraram, Jesus censurou e corrigiu-os por palavra e exemplo, mas jamais os abandonou. Nossa fé precisa estar ancorada no Evangelho eterno a fim de podermos resistir às ciladas e dardos inflamados do maligno em nossas vidas. Os exemplos bíblicos foram registrados para que, “por meio da perseverança e do bom ânimo procedentes das Escrituras, mantenhamos a nossa esperança.” (Romanos 15:4) Eles devem nos guiar no cultivo das virtudes cristãs. Sinta-se encorajado a ter uma vida de fé, oração constante e estudo da Palavra de Deus, sendo “transformado com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito.” (2 Coríntios 3:18)

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