Texto de Estudo

  E, LEVANTANDO-SE toda a multidão deles, o levaram a Pilatos. E começaram a acusá-lo, dizendo: Havemos achado este pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César, e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei.    

Lucas 23:1-2 

Após a Ceia com seus discípulos, Jesus dirigiu-se ao Getsêmani para orar. Sabia que Sua hora havia chegado e, em função dos acontecimentos futuros, preocupou-se com os discípulos e com o que aconteceria com eles. No caminho até o jardim, Jesus faz a oração sacerdotal, descrita no Evangelho de João. Por ela, Ele intercede diante de Seu Pai para que os discípulos (João 17) fossem um, assim como o eram. Em especial, teve compaixão de Seu discípulo Pedro, pois sabia que este iria negá-lo. Por isso, procurou adverti-lo quanto ao momento de prova que se aproximava. (Lucas 22:31)

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Em todos os momentos, a Sua preocupação não era consigo, mas com Seus discípulos, a quem amara até o fim. (João 13) Porém, de tudo que aconteceu naquela noite, o espetáculo mais solene ocorreu quando o Senhor Jesus teve Seu relacionamento rompido com o Pai. Ao entrar no jardim, a Palavra diz que Ele “começou a angustiar-se”. (Marcos 14:33) Essa angústia não se tratava de algo natural, de uma situação corriqueira aos seres humanos, em que nos sentimos sozinhos e desamparados. Era resultado dos pecados de toda a humanidade, lançados sobre Ele.

Nesta lição, ainda abordaremos os sofrimentos de Jesus entre Sua entrada no Getsêmani e Sua morte na cruz.

 

 

O ABANDONO E DESPREZO

 

            Na noite de Sua agonia, Jesus foi traído por Judas e abandonado pelos discípulos. Momentos antes, Pedro gabava-se de jamais O abandonar (Lucas 22:31-33); no entanto, horas depois, negava-O, junto a uma fogueira rodeada de pecadores. (Lucas 22:54-62) Judas, com um beijo, entregou Cristo a Seus algozes (Lucas 22:47-48), e os demais discípulos fugiram para não serem presos. (Marcos 14:50) Nem mesmo João, o discípulo amado, ficou junto do Mestre; seguiu-O de longe, junto a Pedro. (João 18:15)

            Na casa de Anás e, posteriormente, na de Caifás, Jesus sofreu todo o tipo de injúria e tratamento desumano - foi esbofeteado, cuspido e maltratado. ( Lucas 22:63-65; João 18:22; Mateus 26:67-68) Foi tratado injustamente por Seus seguidores e opositores. Mas a forma como Ele tratou os que Lhe viraram as costas mostra como é o amor de Deus.

Em momento algum, Cristo injuriou, proferiu palavras duras ou reagiu de forma violenta a Seus algozes ou a Seus discípulos condenáveis. Muito pelo contrário! A Judas, Ele advertiu de sua insanidade de trair o Filho do Homem, sem expô-lo aos demais discípulos. Somente após a ressurreição, eles entenderam o que Judas havia feito. (João 13:27-29) A Pedro, Jesus estendeu Seu perdão, de forma plena, ao trocar olhares com ele após este o haver negado três vezes. (Lucas 22:61-62) Naquele olhar, não havia acusação; caso contrário, provavelmente Pedro teria seguido o mesmo caminho de Judas Iscariotes. O olhar de Cristo trazia todo o amor de alguém que entende as fraquezas do homem desobediente. E tal amor levou Pedro ao arrependimento. Aos líderes religiosos, não lançou acusações e somente proferiu palavras, quando provocado por juramento. (Lucas 22:67-69) Disse que O veriam, um dia, sentado à destra do Pai. (Lucas 22:69) Quando a plebe batia-Lhe e cuspia, Jesus ficou submisso, ocultando Seu poder que poderia os ter exterminados em apenas um instante. (Lucas 22:63-65)

 

OS LÍDERES RELIGIOSOS

            Foi por interesse egoísta que os líderes judaicos quiseram a morte de Jesus. Eles sabiam que Ele era alguém muito diferente dos demais homens. Mas, por causa de suas ambições mundanas, preferiram atribuir o Seu poder e os milagres a Belzebu. (Satanás) (Lucas 11:15) Estavam cegos pelo ódio que nutriam por Roma e somente aceitariam um messias libertador que reinaria com poder, capaz de livrá-los do jugo dos inimigos. Esqueceram as profecias de um messias sofredor, como apresentado em Isaías 52:13 a 53:12.

A cegueira foi tão insana que, para matar Jesus, submeteram-se voluntariamente ao jugo de Roma ao afirmarem: “não temos nenhum outro rei senão a César” (João 19:15). Pilatos aceitou sua voluntária submissão a Roma e fez o que desejavam. Posteriormente, por se oporem a mesma submissão que voluntariamente ofereceram a César, rebelaram-se contra o império, seguindo a Eleazar, filho do sumo sacerdote daquele tempo.

O resultado de tudo isso foi a destruição de sua cidade santa, no ano 70. Esses líderes religiosos temiam também que Jesus mudasse a forma da religião. Entendiam que Ele era contrário à Lei de Moisés. (João 9:16) Então, resolveram matá-lO. Para isso, eles mesmos transgrediram a Lei. Ao apresentarem falsas testemunhas, iam contra a Lei de Moisés, que diziam defender. (Êx 23:1) Mas suas afirmações a respeito dos ensinos de Jesus eram errôneas. Na verdade, quem destruía a Lei e os Profetas eram eles próprios, seguindo uma tradição humana que frontalmente se opunha ao verdadeiro espírito dos Escritos Sagrados. (Marcos 7:5-13)

 

Pilatos

 

            Pilatos também teve oportunidade de conversar com Jesus. Naquela manhã, quando lhe trouxeram Cristo, ele soube, de forma clara, que os líderes religiosos estavam O condenando por motivos escusos. (Marcos 15:10) Ainda assim, sabendo que Jesus era justo e que nada havia feito de errado, não teve coragem de libertá-lO e mandou açoitarem-nO como um criminoso. O que torna a atitude de Pilatos mais grave é que Deus advertiu-o da inocência de Seu Filho, por intermédio de sua esposa. (Mateus 27:19) A despeito de ter essa revelação sobrenatural, infligiu a Jesus uma das mais cruéis punições que eram praticadas contra criminosos, o flagellum romano. (João 19:1)

Essa prática consistia em chicotear a vítima com um instrumento feito de tiras de couro, com bolinhas de metal nas pontas, ou ossos de animais ou humanos, ou ainda pequenos pedaços de ferro como navalhas. Era tão terrível o castigo que muitos não resistiam e morriam sendo chicoteados. Por fim, Pilatos entregou Cristo para ser crucificado, lavando as próprias mãos. (Mateus 27:24) Ciente da inocência do acusado, não teve coragem de enfrentar os acusadores e perdeu a grande oportunidade de sua vida. Esteve face a face com o Senhor; porém, por amor ao mundo e por orgulho, decidiu não O aceitar como Salvador e perdeu a sua alma.

 

Herodes

 

            Dentre os personagens que tiveram participação direta no julgamento de Jesus, o mais infame de todos foi Herodes. Ele já havia cometido o pecado de matar João Batista. Depois que João foi decapitado, ouviu falar de Jesus e temeu que fosse João Batista que tivesse retornado dos mortos. (Marcos 6:14) Durante muito tempo, desejou ver a Cristo, mas Deus não lhe deu essa oportunidade. (Lucas 9:9)

Apenas quando Jesus foi julgado, e colocado sob sua autoridade, pôde estar com o Salvador. Mas o seu desejo de ver a Cristo não era para ouvir a Palavra de salvação; e, sim, para procurar sinais, como se o Messias fosse apenas um mago, um mágico qualquer. (Lucas 23:8) Para Herodes, nenhuma palavra foi proferida dos lábios de Jesus. (Lucas 23:9) Cristo, no entanto, falou com Caifás, falou com Pilatos, mas calou-se completamente com Herodes, um homem vil, que zombou de Jesus. Para ele, nenhuma palavra sequer saiu da boca de Jesus.  

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            Herodes tratou Jesus com escárnio e zombarias, mas não pôde atribuir a Ele nada de errado. Sendo assim, devolveu-O a Pilatos. Por esse ato, também, simbolicamente, distanciava-se de Deus para nunca mais O encontrar.

 

A Multidão

 

            A multidão também rejeitou o Messias prometido. Os judeus da época de Cristo não podem ser considerados inocentes do sangue do Mestre. Muitos ainda colocam a culpa dessa morte nos líderes religiosos, mas o povo igualmente a aprovou! Durante o julgamento, a multidão clamou pelo sangue do Filho de Deus, a ponto de dizer: “o seu sangue caia sobre nós e nossos filhos” (Mateus 27:25). Mesmo sabendo da bondade e das inúmeras curas e sinais de Jesus, o povo não hesitou e pediu a libertação de Barrabás, um malfeitor. Consequentemente, pediu a condenação de Cristo. Isso porque preferiu dar ouvidos às acusações de seus líderes espirituais.

            Grande perigo existe quando deixamos de buscar a orientação da Palavra de Deus e colocamos nossa segurança espiritual em líderes religiosos. Embora esses sejam necessários e sirvam a Deus como pastores do rebanho, quando colocam os interesses pessoais acima dos interesses do Reino, causam um estrago espiritual semelhante ao que ocorreu com os judeus na época em que Jesus aqui esteve. Muitas heresias têm sido introduzidas no Cristianismo por homens que se dizem servos de Deus; contudo, agem como mercenários.

            Na época de Jesus, o resultado de ouvir falsos pastores foi a rejeição de Cristo como Messias e a dispersão do povo judeu entre as nações da Terra. E isso levou a uma forte perseguição do povo, que sofreu até o fim da Segunda Grande Guerra, no século XX. Somente, então, Deus trouxe Seu povo novamente à Terra Prometida, cumprindo de forma assombrosa a profecia de Ezequiel 37

 

Os Ladrões da Cruz

 

            Ao lermos os quatro Evangelhos, notamos que, quando Jesus foi crucificado, uma grande parte da multidão que assistia ao espetáculo zombava do Salvador. Havia fariseus e saduceus que possuíam um grande grau de influencia sobre o povo. Era natural que a plebe seguisse seus líderes no motejo ao Filho de Deus.

Esse escárnio não passou desapercebido por dois salteadores que estavam pendurados juntos ao Mestre. Influenciados pela multidão, procurando um meio de esquecer as dores do castigo que lhes era impingido, uniram-se aos outros em zombaria ao Messias. Mas, com o passar do tempo, segundo Lucas, um dos salteadores mudou sua forma de ver a Jesus. Não sabemos em que momento da crucificação a mudança ocorreu, mas o que realmente importa é que esse homem, que estava morrendo, viu um raio de luz em meio às trevas e percebeu que não se encontrava diante de um ser humano comum. Algo nas atitudes do Senhor fez com que percebesse que Aquele moribundo era mais que um homem! Rompeu-se, então, o véu que separava o natural do sobrenatural, e ele teve a certeza de que ali estava o Messias prometido.

Essa alteração de comportamento do criminoso veio acompanhada da repreensão ao seu companheiro de sentença. Olhando para o Filho de Deus, ergueu sua voz, seguro em um fio de esperança, e suplica: “Mestre, lembra-te de mim quando entrares em Teu Reino”. (Lucas 23:42) O que podemos ver aqui é a fé em ação, crendo na possibilidade de voltar a viver, mesmo após a morte. Apoderou-se dele a convicção de que seria aceito por Deus e salvo de seus pecados. E, nessa certeza, descansou. Ele não cria que Jesus desceria da cruz e estabeleceria Seu Reino aqui na Terra. De alguma forma, o Espírito Santo deixou-lhe claro que esse não seria o caminho, mas, agarrando-se na promessa de que Aquele era o salvador do mundo, entregou-se a Deus e não teve mais medo da morte. E, da boca do próprio Cristo, ainda ouviu: “Estarás comigo no paraíso”. (Lucas 23:43)

Infelizmente, o outro ladrão não seguiu o mesmo exemplo e morreu perdido. Esteve tão perto da salvação, mas rejeitou-a por causa do orgulho existente dentro de si.

            Como esses dois homens é a raça humana. Nascemos inimigos de Deus e assim permaneceríamos se não houvesse a ação divina. Esses bandidos, de início, eram rebeldes e zombavam de Cristo; da mesma forma somos todos inimigos do Senhor, desde a nossa concepção. Mas, quando vemos a providência de Deus e como Ele procura o melhor para o homem, começamos a ser atraídos por Ele. Uns aceitam; outros rejeitam. As oportunidades são idênticas para todos, assim como os dois ladrões tiveram a mesma oportunidade. A diferença está na capacidade de decidir pelo Senhor, de deixar nossa vontade de lado e colocá-la nas mãos do Criador.

 

O PREÇO DA SALVAÇÃO

            Após ser julgado de forma injusta e ter sofrido todo o tipo de humilhação e sofrimento, Jesus foi entregue nas mãos de homens ímpios, sendo levado para ser crucificado. No caminho para o lugar chamado calvário, Ele foi injuriado pela multidão. Seu sofrimento e fraqueza eram tantas que os soldados romanos tiveram que pegar um homem, Simão Cireneu, para carregar a cruz até o lugar da crucificação. (Lucas 23:26)

            No calvário, Jesus foi traspassado nas mãos e pés. Uma coroa de espinhos foi posta em Sua cabeça e, conforme o costume da época, de forma ignominiosa, levantou-se Jesus no madeiro, como um criminoso comum. À Sua direita e à esquerda, dois malfeitores estavam sendo mortos; a diferença é que esses morriam por consequência de seus maus atos, enquanto Cristo morria pelos maus atos de toda a raça rebelde. Ali, na cruz, Ele derramava-se pelos pecados de Adão, Eva, Caim, Abel, Abraão, Caifás, Nero, Hitler,Bin Laden e de todos nós. Não morria por Si, pois nada havia feito para merecer tal tratamento; morria porque era a única maneira de restabelecer a raça humana ao Seu Criador.

            Quando vemos o Filho de Deus pregado na cruz, não podemos deixar de entender que a salvação é gratuita para nós, seres humanos. No entanto, custou muito caro a Deus. Um preço foi pago pelas nossas almas; um preço infinitamente superior a qualquer coisa valiosa que possa existir neste mundo. Quando homens pecadores colocam a graça de Deus como uma espécie de permissão para o pecado porque, segundo eles, “onde superabundou o pecado superabundou a graça” (Romanos 5:20), devemos entender que esse Deus santo - que não poupou Seu Filho por causa do pecado da humanidade - não terá ninguém por inocente por rejeitarem a oferta de salvação e santificação. Aqueles que continuam a praticar o pecado, pensando que Deus um dia lhes perdoará porque Ele é amor, deveriam olhar com horror para a cruz e temer. Afinal, se Deus não poupou Seu Filho, por que poupará quem rejeitar “tão grande salvação?” (Hebreus 2:3)

 

CONCLUSÃO

            A Morte de Jesus, relatada por Lucas e por todos os evangelistas, é o ápice da obra de redenção. Sem o sacrifício vicário de Cristo, não teríamos mais esperança. A sepultura seria nosso destino e seríamos “as mais miseráveis das criaturas” (1 Coríntios 15:19), como afirma o apóstolo Paulo. Mas, em Sua imensa misericórdia, o Senhor proveu um grande sacrifício para a salvação da humanidade. Ao lermos a história da aflição de Jesus, no Getsêmani, Seu julgamento injusto e o sofrimento nas mãos dos romanos, e posteriormente na cruz do calvário, precisamos entender que tudo isso foi por amor, amor por cada homem que pisou neste mundo e quem ainda pisará.

Para Deus, somos seres únicos. Ele quer que cada um de nós chegue à vida eterna. E, para isso, deu-nos Seu Filho a fim de meditarmos no Seu sacrifício, nas consequências do mal e do pecado. Deveremos nos humilhar diante D’Ele, em arrependimento, e aceitarmos essa grande salvação oferecida a todos nós.

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