1 E DIZIA também aos seus discípulos: Havia um certo homem rico, o qual tinha um mordomo; e este foi acusado perante ele de dissipar os seus bens. 2 E ele, chamando-o, disse-lhe: Que é isto que ouço de ti? Dá contas da tua mordomia, porque já não poderás ser mais meu mordomo. 3 E o mordomo disse consigo: Que farei, pois que o meu senhor me tira a mordomia? Cavar, não posso; de mendigar, tenho vergonha. 4 Eu sei o que hei de fazer, para que, quando for desapossado da mordomia, me recebam em suas casas. 5 E, chamando a si cada um dos devedores do seu SENHOR, disse ao primeiro: Quanto deves ao meu senhor? 6 E ele respondeu: Cem medidas de azeite. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e assentando-te já, escreve cinqüenta. 7 Disse depois a outro: E tu, quanto deves? E ele respondeu: Cem alqueires de trigo. E disse-lhe: Toma a tua obrigação, e escreve oitenta. 8 E louvou aquele senhor o injusto mordomo por haver procedido prudentemente, porque os filhos deste mundo são mais prudentes na sua geração do que os filhos da luz. 9 E eu vos digo: Granjeai amigos com as riquezas da injustiça; para que, quando estas vos faltarem, vos recebam eles nos tabernáculos eternos.    

Lucas 16:1-9 

A cada lição deste trimestre é tratado a respeito de uma das parábolas do Senhor Jesus. Na lição de hoje a parábola em questão é a do “Administrador Infiel”. Vale lembrar o poderoso alerta que essa parábola traz. Seu objetivo é falar ao cristão e não ao descrente. Sua abordagem principal está relacionada ao momento da chamada para prestar contas a Deus e revela sua necessidade de estar preparado em todo tempo para esse encontro; retrata também a prudência desse administrador em usar as riquezas (o dinheiro) para cultivar a gratidão do próximo e assim ter provisão no tempo da sua dificuldade. 

PORQUE JESUS CONTOU ESSA PARÁBOLA?

Segundo o dicionário Aurélio, parábola, que vem do grego parabolé, significa: narração alegórica na qual o conjunto de elementos evoca outra realidade de ordem superior1, que usa uma mensagem indireta através de comparações e/ou alegorias. Ao ler essa parábola a primeira impressão que se passa é a ideia de que o senhor da estória2 elogiou o mordomo por sua atitude desonesta, na verdade o que o senhor elogiou foi a esperteza, astúcia, inteligência do administrador. Ele era um mordomo que tinha sobre si a responsabilidade de administrar todos os bens do seu senhor, administrar com eficácia e qualidade, para que assim o fazendo, os pudesse multiplicar.

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Então quando seu senhor pede que lhe preste contas de sua administração porque em seguida seria despedido, ou seja, o senhor queria um relatório financeiro detalhado3. Foi nesse momento que o administrador teve a brilhante ideia de usar suas poucas horas em tal função para prevenir seu futuro que, diante de tal situação, claramente estava obscuro e incerto. Ele se dá conta que não tem forças para cavar e que para mendigar depois de ter estado em sua posição ele teria vergonha, então lhe ocorre uma solução inesperada. Chamando cada um dos devedores de seu senhor, apresentou-lhes suas dívidas.

Ao que devia cem potes de azeite disse: “Tome sua conta, sente-se depressa e escreva cinquenta. ” (v. 6). Três explicações são comumente dadas acerca do direito do mordomo de alterar a quantidade devida ao seu mestre: (1) o mordomo simplesmente reduziu o valor por conta própria; (2) o mordomo retirou as taxas de juros do débito, de acordo com a Lei (Levíticos 25:36-37; Deuteronômio 15:7-8; 23:20,21) ou (3) o mordomo retirou sua própria comissão, sacrificando apenas sua parte do dinheiro e não a de seu senhor.4 Ao que devia cem tonéis de trigo (ou 3.930 litros de cereal. Provavelmente valeria 2.500 a 3.000 denários)5, disse também: “Tome sua conta e escreva oitenta.” (v. 7) .

Observe que em momento algum o administrador tomou nota da dívida e alterou de seu próprio punho. Ele estava procurando amparo para o futuro e sabia que não poderia contar somente com a gratidão dos homens devedores, então prudentemente os colocou como cúmplices em sua artimanha mirabolante, assim nenhum deles poderia se levantar no futuro e se declarar inocente, ficando dessa forma vinculados a atitude desonesta do mordomo. E foi esse o gesto que recebeu o elogio do seu senhor, o fato do mordomo usar as riquezas deste mundo como meio de garantir o futuro. A maneira como ele usou do dinheiro enquanto ainda dispunha dele para fazer amigos e/ou aliados pois em breve já não o teria em mãos. Então, qual foi a motivação de Jesus ao contar essa parábola?

Vale lembrar que parábola é uma estória fictícia ou irreal usada para instruir e ensinar uma lição moral. Também é importante ressaltar o verso 10, que claramente demonstra que Jesus não incentiva a desonestidade. Em João 14:6 Ele se declara “A Verdade”, o que tornaria impossível a interpretação de que Jesus faz qualquer tipo de apologia à desonestidade e infidelidade. A verdade é que foi para combater a murmuração e avareza dos fariseus que Jesus contou-lhes essa estória. Os fariseus se julgavam santos e justos, eram totalmente convencidos de sua pureza e se mantinham com o coração endurecido, se negando a liberar o perdão para quem quer que fosse.

Jesus revela através dessa estória a necessidade de se desprender das riquezas para garantir um futuro eterno, como Ele fez referência no verso 9. A riqueza deve ser usada generosamente para construir obras que durem. O termo riquezas da injustiça é utilizado porque comumente essas riquezas geram perversidade e egoísmo nas pessoas 6(1 Timóteo 6:6-10; 17-19; Tiago 1:9-11; 5:1-6)

Todos os fariseus que ouviram Jesus contando essa parábola deveriam ter a capacidade de se identificar com ela, porque eram maus administradores, infiéis que abusivamente estavam dissipando, desperdiçando os bens do seu senhor. Eles eram profundos conhecedores da Palavra de Deus e com isso era necessário que eles administrassem bem o Seu Reino. Como isso seria possível? Ora, através da pregação e do ensino, da ajuda ao necessitado, mas a verdade é que os fariseus estavam preocupados somente consigo mesmos, eles desfrutavam descaradamente das riquezas e seus privilégios sobre o povo. O que Jesus dizia ao contar essa estória é que eles deveriam fazer o mesmo que aquele mordomo, pagar preço, renunciar, sacrificar em favor dos outros, em favor do seu próximo, aliviar o peso da dívida. E isso esperando receber uma recompensa eterna e não nessa vida.

O MORDOMO INFIEL X MORDOMIA CRISTÃ

Existe nessa parábola em especial um fato que a difere das outras, como por exemplo a parábola das cem ovelhas (Lucas 15), ou a do filho pródigo (Lucas 15), ou ainda a do publicano e o fariseu (Lucas 18) e mesmo a parábola dos dois filhos (Mateus 21), ou a parábola dos dois alicerces (Mateus 7), ou a parábola do joio (Mateus 13), ou a do rico e Lázaro (Lucas 16), ou a dos talentos (Mateus 25), ou a das dez virgens (Mateus 25), ou a parábola do bom samaritano (Lucas 10). Em todas essas mencionadas, você pode perceber que o Senhor Jesus retrata dois tipos de pessoas, sempre mostrando o bom exemplo de um a ser seguido, as noventa e nove ovelhas comportadas ficam no aprisco, um dos filhos não saiu para gastar toda a fortuna do pai, mas continuou a trabalhar ao seu lado, o publicano se mostra humilde e reconhece a necessidade de perdão, o filho se arrepende de dizer não e vai trabalhar para o pai, o melhor alicerce resiste a tempestade, o trigo é separado e guardado, Lázaro é consolado no seio de Abraão, as cinco virgens foram mais prudentes levando azeite com sobra, o samaritano ao ver o ferido lhe presta socorro.

A mensagem de Jesus sempre ensinando como ser uma pessoa melhor, que caminho deve ser seguido. Mas o grande diferencial dessa parábola em questão hoje é esse: não há um outro mordomo com atitude diferente da do mordomo infiel. O que nos leva a crer que é somente por uma razão. Todos os seres humanos são infiéis.

O homem rico (senhor) = O Criador

O administrador infiel = Cada um de nós

Note por exemplo um juiz que dá um veredito mediante provas constantes nos autos de um processo e a avaliação dos jurados, e isso pode falhar, um mercado ou um restaurante que joga comida fora, quando milhares e milhares de pessoas morrem de fome, um vendedor que vende mais caro, acima do proposto para obter mais lucros e assim por diante. Mediante isso, o Senhor Jesus vem através da estória do mordomo infiel declarar a necessidade de ser prudente e diligente. Ele acaba de contar essa parábola e, nos versos 10 ao 13, fica claro que Ele não aprova a desonestidade e nem a infidelidade, Jesus mostra que o mordomo de Deus deve ter um caráter totalmente diferente desse mordomo em questão, por Sua afirmação no verso 10 fica totalmente esclarecido “Quem é fiel no pouco, também é fiel no muito, e quem é infiel no pouco, também é infiel no muito”. O Senhor faz questão de ressaltar que os filhos deste mundo são mais prudentes que os filhos da luz. A segunda atitude do mordomo infiel é que foi louvável. Podemos observar ao menos três lições importantes aqui:

Todos vamos ter que prestar contas a respeito de como administramos a nossa maneira de viver. Aquele mordomo era um empregado negligente concernente às ordens de seu senhor. Por isso é preciso ser prudente, pois o Senhor Jesus declara em Apocalipse 22:12Eis que venho em breve! A minha recompensa está comigo, e eu retribuirei a cada um de acordo com o que fez”. A igreja precisa ser alertada do momento da prestação de contas.

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É preciso criar relacionamentos, o mordomo percebeu no momento que seu senhor o confrontou que é impossível seguir sozinho, ele notou nitidamente suas limitações e usa o que tem em mãos para adquirir vínculos com o próximo, que no futuro poderia ajudá-lo em sua necessidade.

É preciso dedicação, o Senhor Jesus dá o conselho: “Por isso, eu lhes digo: usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas”. (Verso 9). O projeto do Senhor é que ninguém se perca, por isso a necessidade da igreja dedicar-se em expandir o Reino de Deus.

A parábola do mordomo infiel é um alerta seríssimo quanto ao julgamento eterno, o Senhor Jesus procura com esse exemplo manter os olhos da igreja dEle bem abertos quanto à seriedade de Seu Evangelho. Ele não tolerará a preguiça e a nítida falta de compromisso. Ele ensina que Sua igreja, ou seja, os filhos da luz precisam usar tudo o que têm neste mundo para anunciar e espalhar o Evangelho da Salvação e assim criar relacionamentos, vínculos com os incrédulos e os levar aos Tabernáculos eternos.

Por fim, seriamente a igreja de Cristo precisa aprender com a prudência e a diligência desse mordomo, administrar melhor o tempo que nos é dado, com nossas famílias, nosso trabalho, mas acima de tudo com Sua obra nessa terra, isso inclui a frequência nos cultos, obrigações com horários e apoio nos trabalhos. Também administrar melhor nosso dinheiro, nossas palavras, nossas atitudes. Lembrando sempre que nós cristãos é que fomos chamados de filhos da luz, e que o único elogio que o mordomo infiel recebeu foi o fato de ser prudente, usando o que tinha em mãos para assegurar seu futuro. Precisa ficar claro no coração e mente da igreja do Senhor Jesus que nosso futuro não é aqui e sim na eternidade ao Seu lado.

CONCLUSÃO

Poderiam ser Seus discípulos, ou ainda os fariseus hipócritas ou mesmo nós como Sua igreja, todos precisamos aprender a lição mais valiosa que esta parábola nos traz, a necessidade de administrarmos bem todos os recursos deste mundo de injustiça em favor de nosso próximo e não em nosso próprio benefício ou deleite particular. Que estejamos certos de que Jesus verá nossa fidelidade neste tempo presente e cuidará para que as portas dos Tabernáculos Eternos nos sejam abertas. Que a prudência e a diligência façam parte de quem somos.

PERGUNTAS PARA ESTUDO EM CLASSE

  1. Qual era o propósito de Jesus ao contar essa parábola?
  2. Qual a importância do planejamento na vida do cristão?
  3. De acordo com a pergunta anterior, quais são as prioridades do planejamento na vida do cristão?
  4. Mediante a qual atitude do mordomo seu senhor o elogiou? Por quê?
  5. O que o Senhor Jesus quis ensinar com essa expressão: “Por isso, eu lhes digo: usem a riqueza deste mundo ímpio para ganhar amigos, de forma que, quando ela acabar, estes os recebam nas moradas eternas. ” (Verso 9)?
  6. O que o apóstolo Paulo ensina no texto de Efésios 5:15 que pode ser aplicado da mesma maneira que a parábola foi?
  7. Você afirmaria ser um mordomo infiel, com necessidades de mudança? Por quê?

Referências

1 Minidicionário Aurélio – 8ª edição – 2010 – Editora Positivo, p. 562

2 Narrativa de ficção oral ou escrita.

3 EARLE, Ralf; SANNER, A. Elwood; CHILDERS, Charles L.- Comentário Bíblico Beacon – editora CPAD, 2006, p. 456

4 ALLEN, Ronald B.; RADMACHER, Earl D.; HOUSE, H. Wayne. O Novo comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel – edição 2010- 5º parágrafo, p. 191 (trecho retirado)

5 ALLEN, Ronald B.; RADMACHER, Earl D.; HOUSE, H. Wayne. O Novo comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel – edição 2010- 6º parágrafo, p. 191

6 ALLEN, Ronald B.; RADMACHER, Earl D.; HOUSE, H. Wayne. O Novo comentário Bíblico Novo Testamento com recursos adicionais. Editora Central Gospel – edição 2010- 8º parágrafo, p. 191

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