E sucedeu que, como Gideão faleceu, os filhos de Israel tornaram a se prostituir após os baalins; e puseram a Baal-Berite por deus.    

Juízes 8:33 

Com a morte de Gideão, deu-se continuidade ao ciclo do pecado. A idolatria a Baal retornou com toda a força, tendo os cultos centralizados em Siquém. Neste período, há influência cananeia sobre o culto ao Deus de Israel. Em tempos de paz, deuses que indicavam fertilidade, sensualidade, pareciam oferecer mais do que a adoração a Javé. Ao mesmo tempo, a lembrança honrosa de Gideão foi rejeitada quando ocorreu o massacre de seus filhos. Nesta seção, veremos as consequências desastrosas por influência dos cananeus. Veremos também o surgimento de dois Juízes – Tolá e Jair, instrumentos de Deus para trazer paz aos israelitas.

1 - CONSPIRAÇÃO DE ABIMELEQUE

Abimeleque é filho de Gideão com uma concubina. Ele é representado como o filho rebelde de um pai digno. Ele entende que deve tirar proveito da oferta feita a seu pai e que este a recusou para assumir o trono. Por isso, ele vai até Siquém e propôs a seguinte questão: “Perguntem aos cidadãos de Siquém se é melhor ter setenta governadores ou apenas um. Não seria melhor se eu reinasse sobre vocês, agora que meu pai está morto, em vez de serem governados por meus setenta meios-irmãos? Todos precisam lembrar-se que eu tenho os mesmos ossos e mesmas carne de vocês.” Esta proposta que não era nova, foi aceita pelos hebreus, que decidiram acreditar em Abimeleque, por causa do elo sanguíneo que havia entre eles.

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A campanha de Abimeleque contou com o financiamento de setenta peças de prata tiradas do tesouro do templo de Baal-Berite, um falso deus adorado que os israelitas começaram a adorar. Foram contratados mercenários, denominados no verso 4 de “homens ociosos e levianos...” Em outras palavras, eram pessoas indignas, libertinas, lascívias, imprudentes e orgulhosas. O primeiro ato desse grupo foi assassinar os setenta meio-irmãos na cidade de Ofra, com exceção de Jotão, filho menor de Gideão, que conseguiu se esconder. 

2 - ABIMELEQUE É FEITO REI

Após esse genocídio, Abimeleque é proclamado rei pelos siquemitas. A extensão do reino de Abimeleque era bastante limitada: apenas Siquém, Bete-Milo, Arumá e Tebes. Seu reinado foi turbulento e durou 3 anos, obtido por meio de enganos e mantido à força. Fica claro que o oportunista Abimeleque não pode ser considerado um juiz de Israel, o qual ocupava esta posição de obediência ao verdadeiro Deus e das realizações para a libertação de Israel.

3 – A FÁBULA DE JOTÃO

A fábula é uma ilustração de história com moral. Há uma distinção entre as fábulas e parábolas. Estas ensinam por meio de situações ou fatos da vida. As fábulas utilizam-se do artifício do faz de conta para ilustrar uma questão. No caso específico da fábula contada por Jotão, as árvores não falam entre si.

A fábula...

Jotão então subiu ao monte Gerizim, ao pé do qual ficava a cidade de Siquém, e proferiu a seguinte fábula:

As árvores resolveram eleger um rei, e para tanto indicaram a oliveira, que recusou a honraria sob o pretexto de que não poderia deixar a sua função de alegrar os homens e honrar os deuses com o seu óleo precioso. Mediante tal recusa, as árvores então indicaram a figueira para governá-las, mas esta também recusou o cargo porque teria que renunciar à missão de proporcionar aos homens a doçura de seu fruto. Houve nova tentativa, desta vez com a videira, a qual, por sua vez, alegou não poder aceitar, pois tinha a importantíssima tarefa de dar o seu vinho, que alegra os homens e os deuses. As árvores, porém, não desistiram de encontrar um rei e lançaram sua proposta ao espinheiro, o qual aceitou ser rei com a condição de que as árvores se colocassem debaixo da sua sombra, caso contrário dele sairia fogo que as consumiria. Trata-se de uma ironia, pois sendo o espinheiro uma árvore rasteira, não produzia sombra nenhuma, mas quando seco tornava-se um excelente combustível para incêndios que devoravam florestas como as do Líbano, com seus famosos cedros.

Concluindo seu discurso, Jotão disse aos siquemitas: Se o que vocês fizeram foi sincero e honesto, sejam felizes com Abimeleque e seja ele feliz com vocês, mas se não, que dele saia fogo e queime vocês, e de vocês saia fogo e o queime.

4 – A QUEDA DE ABIMELEQUE

Passados três anos, o povo de Siquém, por motivos óbvios, rebelou-se contra Abimeleque, o qual com seu exército de bandidos cercou a cidade e matou todo mundo, sendo que os líderes, coincidentemente, foram queimados vivos numa fortaleza na qual se refugiaram. Dali Abimeleque foi para Tebes, outra cidade rebelada, nas cercanias de Siquém, mas lá, quando se preparava para incendiar outra fortaleza, foi atingido por uma pesada pedra atirada do alto da torre por uma mulher. Para que não fosse dito que teria sido morto por uma mulher, Abimeleque pediu que um soldado acabasse de matá-lo com sua espada. E assim cumpriu-se a palavra de Jotão.

Quando as tropas de Abimeleque viram o seu líder morto, interromperam o cerco e foram embora para suas casas. O autor de Juízes conclui essa história afirmando que “Assim Deus retribuiu a Abimeleque o mal que havia feito a seu pai, matando seus setenta irmãos. Deus também retribuiu aos homens de Siquém todo o mal que fizeram. A maldição de Jotão, filho de Jerubaal (Gideão), veio sobre eles.” (Juízes 9:56-57).

5 – TOLÁ E JAIR

Os dois juízes levantados por Deus após Abimeleque são considerados “Juízes Menores”. Isso se dá por informações reduzidas acerca de suas lideranças. No entanto, baseando-se pela teologia do livro de Juízes, é evidente que Tola e Jair foram levantados por Deus para trazer paz e estabilidade à nação israelita. Tolá significa “bicho”. Seu nome é igual ao do primeiro filho de Issacar, tribo à quem pertence. O nome do seu pai era Puá, semelhante ao do segundo filho de Issacar (Puvá - Números 26:23) A cidade onde vivia se chamava Samir que se localizava nas montanhas do território de Efraim, a uma distância de aproximadamente 75 km na direção sul. Liderou 23 anos, e após sua morte, Jair recebe a função de juiz.

Jair de Gileade tinha o mesmo nome do filho de Manassés que tomou as aldeias de Havote-Jair na região de Gileade (Números 33:41). A região era essencialmente agrícola, e as aldeias serviam como celeiros para colheitas. Não se tratavam de cidades fortificadas, mas basicamente vilarejos de colonos. No entanto, havia uma certa riqueza na região, o que deixa transparecer com o dado que ele tinha 30 filhos e cada um tinha um jumento como animal para batalha e uma vila à sua disposição (30 vilas compunham a região). Algumas características desses homens de Deus precisam ser pontuadas: Eles eram homens humildes, ativos e úteis governantes designados por Deus.

6 - ELES SÃO HERÓIS DA FÉ

Tolá e Jair são servos de Deus e devem ser vistos como heróis da fé. Apesar de não estarem no rol de heróis descritos no capítulo 11 do livro de Hebreus, estes dois juízes cumprem as principais características dos heróis bíblicos. O caráter heroico desses homens não nasce deles mesmos. Ao longo de toda Escritura, percebemos que esses heróis eram frágeis e falhos. Timothy Keller afirma que “o livro de Juízes tem tudo a ver com o Deus de misericórdia e paciência, que trabalha continuamente em seu povo, por meio de seu povo e a favor de seu povo, apesar da constante rebelião desse povo contra Seus propósitos, tanto ontem quanto hoje. No fim das contas, encontraremos apenas um herói em Juízes: Deus.” Assim, a heroicidade de Tolá e Jair e os outros juízes está no fato deles reconhecerem seu caráter humano, que é falho e pecador, e se colocarem a disposição da ação de Deus para a realização dos propósitos divinos.

ERAM INSTRUMENTOS DE DEUS

Estes homens foram instrumentos nas mãos de Deus, utilizados para o livramento do povo hebreu. Eles se levantaram para livrar suas tribos do jugo opressor e foram bem-sucedidos nesta missão. Baseando-se numa teologia do livro de Juízes, entende-se que aqueles homens foram direcionados por Deus para trazer paz àquele povo arrependido de seus pecados. Sem a operação divina na vida desses juízes, nenhuma façanha poderia ser realizada. Deve-se pontuar que todo sofrimento, pilhagem que o povo vinha sofrendo, era em decorrência do pecado. Somente a ação de Deus sobre a vida espiritual do seu povo teria eficácia na eliminação do inimigo e o estabelecimento da paz. Apesar de não demonstrados, o chamamento e a capacitação especiais que receberam, Tolá e Jair não realizaram sua missão de livramento por conta de seus atributos humanos. Livramento, no livro de Juízes, está diretamente associado à concessão especial do poder de Deus para que a opressão pudesse ter fim.

MANTIVERAM A PAZ POR UM LONGO PERÍODO

Ao longo de 45 anos, Tolá e Jair mantiveram a paz em suas regiões. O povo hebreu é demonstrado pela narrativa dos primeiros livros da Bíblia como de difícil relacionamento. Relembremos as dificuldades que Moisés teve que lidar para liderar o povo de Deus pelo deserto. O exercício da justiça é uma tarefa difícil numa sociedade marcada pelo pecado. Ela requer uma relação próxima de Deus, o que concluímos que somente pela ação divina foi possível a manutenção da paz por um longo período.

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PERSEVERARAM ATÉ O FIM

O narrador do livro de Juízes preocupa-se em relatar que a liderança de Tolá e Jair finaliza-se com a morte deles. Após a morte desses juízes, o autor narra o retorno das práticas pagãs entre os israelitas. Podemos concluir que Tolá e Jair perseveraram até o fim de suas vidas nos caminhos e desígnios de Deus, o que permitiu a manutenção da paz e estabilidade espiritual dos hebreus ao longo da liderança desses juízes.

7 - SÃO LÍDERES DIFERENTES, MAS IGUALMENTE USADOS POR DEUS

Deus usa pessoas bem diferentes em situações bem diversas. Tolá e Jair possuíam origens diferentes. Tolá pertencia a tribo de Issacar, mas a sede do seu juizado ficava na cidade de Samir, provavelmente, um nome antigo da capital Samaria, que se tornará sede do reino do norte, após a divisão anos mais tarde. A cidade de Samir localizava-se na tribo de Efraim que se caracterizava por ser a mais numerosa. Os efranitas presumiam ser os indivíduos mais importantes dentro daquela confederação. No lado oposto, Jair exerceu seu juizado numa região pouco desprezada e sua sede localizava-se numa inexpressiva cidade gileadita de Camon. Não há citação ao longo da Bíblia sobre essa cidade.

O narrador de juízes não se preocupa com a condição social de Tolá. Aparentemente, era um homem de inexpressivas posses. Paralelamente, o autor atenta-se para a condição socio-econômica de Jair. Este tinha 30 filhos e cada qual com sua cidade. Deus atua sobre nossa vida independente da nossa condição social, naturalidade ou da origem familiar. Não há condições estabelecidas pela humanidade que impeça que sejamos instrumentos nas mãos de Deus.

8 – CONCLUSÃO

O pecado gerou morte e divisão entre os israelitas. A resolução desse conflito e o estabelecimento da paz foram conduzidos pelas mãos de Deus, utilizando Tolá e Jair. Apesar das poucas informações, eles eram homens que foram instrumentos de Deus que perseveraram até o fim, proporcionando estabilidade espiritual.

 QUESTÕES PARA ESTUDO EM CLASSE

1 – Quem foi Abimeleque e qual problema ele trouxe aos moradores de Síquem?

2 – Descreva a “Fábula de Jotão” e qual a sua possível interpretação?

3 – Por que Tolá e Jair são considerados juízes menores?

4 – Quais são as diferenças e semelhanças entre Tolá e Jair?

5 – Por que podemos considerar os juízes heróis da fé?

6 – Reflita sobre essa frase: Juízes. Heróis Falhos e Herói Perfeito!

Notas de Rodapé

1 RIDALL, E CLYDE. Comentário Bíblico Beacon – Juízes. CPAD. São Paulo: 2015. P. 35 

2 MORRIS, Leon e CUNNDALL, Artur . Juízes e Rute. Introdução e Comentário. Vida Nova. São Paulo: 2010.

3 KELLER, Timothy, Juízes. Heróis Falhos e Herói Perfeito. Editora Vida Nova. São Paulo: 2016. P. 10.

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