E quando eles estavam junto da casa de Mica, reconheceram a voz do moço, do levita; e dirigindo-se para lá, lhe disseram: Quem te trouxe aqui? Que fazes aqui? E que é que tens aqui?    

Juízes 18:3 

  E ele lhes disse: Assim e assim me tem feito Mica; pois me tem contratado, e eu lhe sirvo de sacerdote.    

Juízes 18:4 

O livro de Juízes termina com dois apêndices, o primeiro nos capítulos 17 e 18, e o segundo nos capítulos 19, 20 e 21. Eles parecem não estarem relacionados nem ao material que os antecede nem entre si. Por exemplo, estes capítulos não descrevem o padrão cíclico do pecado, da servidão e salvação visto nos primeiros capítulos de Juízes. Enquanto do capitulo 2 ao 16 são descritas as ameaças externas a Israel, estes últimos mostram uma queda interna na adoração de Israel e na unidade. Esse ciclo citado acima pode ser descrito como: 1. O povo se afasta de Deus, 2. Adversidades emergem, 3. O povo ora, 4. Deus levanta um líder, 5. A ordem é restabelecida. Mas passa-se o tempo e uma nova geração surge e novamente o ciclo é recomeçado. No entanto, Os capítulos 17 e 18 não seguem o mesmo ciclo dos capítulos anteriores. Pois o povo nem percebe a necessidade de orar e buscar a Deus. Aqui vemos o que acontece com uma nação que chega no fundo do poço.

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I. A RELIGIOSIDADE

Esse texto de Mica e sua mãe deixa claro comportamentos reprovados por Deus. Vemos que, no começo da história (Juízes 17:01-02), sua mãe, quando percebe que foi roubada, amaldiçoa a pessoa que a roubou. Quando Mica descobre isso, fica com medo da maldição e, por isso, resolve devolver a prata. A atitude da mãe não é louvável, pois em Romanos 12:19 deixa claro que não é para nos vingarmos de nada, pois ao Senhor pertence a vingança.

Matthew Henry diz “Perdas materiais levam pessoas justas a orar, mas pessoas injustas a amaldiçoar.” Por isso, se ela fosse uma serva do senhor de verdade, não teria feito isso, pois quando se confia no Senhor e entrega a vida totalmente a Ele, não se sente mais necessidade de vingança, pois a pessoa sabe que o Senhor irá julgar suas causas. Porque Ele se torna o justo Juiz e o que Ele fizer será o melhor para a vida da pessoa.

Mas pior do que a vingança da mãe, é a atitude de Mica. Pois ele só devolve a prata porque ele ficou com medo da maldição. Ao invés dele se arrepender e perceber que roubar não condiz com os mandamentos do Senhor, e assim devolver o que havia roubado, pedindo perdão e com o coração arrependido pelo que fez, não! Ele só devolve porque está com medo da punição, da maldição lançada pela mãe. Esse comportamento é perigoso, pois a atitude de devolver está certa, mas a motivação e a intensão no coração está errada.

Quando fazemos algo correto como obedecer a Bíblia, mas a motivação do nosso coração é fazer o que é certo porque está com medo do inferno, não é o comportamento ideal que o Senhor Deus espera de nós. Ele quer que o obedeçamos por amor a Ele e não por medo d’Ele. Quando obedecemos por medo, estamos sendo meros religiosos e não filhos, pois os filhos têm intimidade e relacionamento com o Pai. Por isso O segue por amor, pois O conhece verdadeiramente. Já o religioso obedece por medo do que pode acontecer com ele no futuro. Ou seja, o foco do religioso está nele mesmo, já o foco do filho está no Pai. E Deus deixa claro que o centro de nossa vida deve ser nEle e não em nós mesmos.

Seguido o texto, (versos 3 a 5) eles fazem um ídolo com parte dessa prata que ela diz que era para o Senhor, o que é totalmente contrário aos mandamentos do Senhor escrito em Êxodo 20:4. Para piorar ainda mais essa situação, Mica cria seus deuses, faz estola sacerdotal e consagra seu filho como sacerdote. Ou seja, ele cria sua própria igreja, com os deuses que ele gosta, com a roupa sacerdotal que ele gosta, com os hinos e liturgia que ele gosta, com o sacerdote que ele gosta, na própria casa dele.

Mica cria sua própria religião à sua imagem e semelhança, e quando acontece isso, não há confronto, não há correção, não há arrependimento e consequentemente não há transformação de caráter. Essa situação lembra uma frase do pastor Tim Keller que diz “Se o deus que você adora nunca discorda de você, é bem possível que você esteja adorando uma versão idealizada de você mesmo”. Ele perde totalmente a comunhão com O Deus verdadeiro para seguir o que achava melhor. E para completar, num determinado momento, ele encontra um levita (versos 7 a 13), o convida para morar com ele e paga para esse levita ser seu próprio sacerdote. Agora, a “igreja de Mica” estava completa, pois ele tinha seus deuses, sua estola sacerdotal, seu próprio templo (que era sua própria casa) e seu sacerdote levita. E todas essas coisas e pessoas estavam ali para servi-lo e dizer-lhe como ele deveria viver.

Quando uma pessoa perde a comunhão com o Senhor Deus, mas continua querendo fazer as coisas espirituais, ela deixa de ser filho com relacionamento de amor com o Pai e cria sua própria forma de viver, de adorar e de servir a um deus que não é mais o Deus verdadeiro, pois a pessoa já perdeu esse relacionamento há muito tempo. A religiosidade afasta as pessoas do Deus verdadeiro, pois deixa livre para que todos possam cultuar o que querem do jeito que querem, esquecendo-se de que nós somos servos e adoramos um senhor que é o Senhor dos Senhores, ou seja, se Ele é Senhor, Ele é que deve dizer como quer ser adorado e servido, pois não nos foi dado o poder de criar nossas próprias regras.

Mudando o foco para o levita, esse homem nem era para estar naquele lugar, pois os levitas tinham cidades específicas para morar, conforme dr. Earl Radmacher e dr. Ronald B. Allen “O levita de Belém de Judá era alguém estranho naquela cidade. Levitas não tinham uma herança de terra permanente, mas possuíam acomodação garantida em 48 cidades, espalhadas por todo o território das outras tribos (Josué 21), porém, Belém não era uma dessas localidades. Tal levita procurava um lugar para se estabelecer e ficou muito feliz em aceitar a oferta de Mica” Esse levita se vende para Mica aceitando moradia, comida e salário em troca de seu serviço sacerdotal.

II. ENTRE O SAGRADO E O PROFANO.

Os levitas eram pessoas separadas por Deus para ministrar os cultos e cerimoniais a Deus conforme vemos em Números 3:5-10 “O SENHOR disse a Moisés: Mande chamar a tribo de Levi e coloque-a diante de Arão, o sacerdote, para que o sirvam e cumpram seus deveres para com ele e para com todo o povo, diante da tenda do encontro, para ministrarem no tabernáculo. Terão cuidado de todos os utensílios da tenda do encontro e cumprirão o seu dever para com os filhos de Israel, ao ministrarem no tabernáculo. Portanto, você entregará os levitas a Arão e a seus filhos; de todos os filhos de Israel, os levitas são dedicados ao serviço de Arão. Mas a Arão e aos filhos dele você ordenará que se dediquem só ao seu sacerdócio, e o estranho que se aproximar será morto.” (NAA)  Além disso, os levitas também não tinham terras conforme citado por dr. Earl Radmacher e dr. Ronald B. Allen. Sendo assim, esse homem não era para vir de Belém e nem era para estar andando por aquela região da casa de Mica. Esse homem já estava totalmente fora dos preceitos que Deus havia determinado.

Estando fora do seu lugar, ele recebe uma proposta indecente (verso 10) Então Mica disse: Fique comigo, como meu conselheiro e sacerdote. Eu lhe darei dez moedas de prata por ano, a roupa e o sustento.” Mas, pior do que receber uma proposta indecente, é ter uma reação indecente (verso11) O levita entrou e consentiu em ficar com aquele homem. E o jovem era para ele como um de seus filhos.” Perceba que esse levita, conforme Números 3 é um homem consagrado a Deus, mas ele profana sua vocação aceitando ser um sacerdote que adora ídolo de metal, numa cidade que não era para ele estar e ainda aceita receber dinheiro para fazer isso.

Mas nessa época não eram somente Mica e esse levita que estavam fora da vontade de Deus. No capitulo 18, a tribo de Dã quer conquistar uma terra, eles mandam uns espias que, pelo caminho, encontra esse levita na casa de Mica e descobre o que ele faz naquele lugar. Ao invés de denunciarem esse pecado aos juízes e sacerdotes da época, eles fazem diferente, eles pedem conselhos ao levita sobre ir ou não a guerra. Sobre essa situação, Matthew Henry diz: “Parece que eles tinham uma melhor impressão do terafim de Mica do que do urim de Deus, visto que eles passaram por Siló e, por mais estranho que isso possa parecer, não perguntaram pelo sumo sacerdote de Deus. Mas, o levita maltrapilho de Mica é escolhido para ser um oráculo para eles.”

Vemos que esses homens também profanam as coisas sagradas e dedicadas a Deus para seguirem a deuses estranhos. Eles perdem a noção de que era Deus que deveria ser consultado para a ação que eles queriam fazer. Deus é rejeitado por esses homens, é rejeitado pelo levita e também é rejeitado pela família de Mica. Eles não sabem mais diferenciar o certo do errado, eles perderam a sensibilidade de ouvir a voz de Deus e fazer o que Ele quer. Eles simplesmente vivem da forma que acham correto.

Por causa disso, esses homens têm uma ideia (verso 14) “Os cinco homens que foram espiar a terra de Laís disseram a seus irmãos: Sabeis vós que, naquelas casas, há uma estola sacerdotal, e ídolos do lar, e uma imagem de escultura, e uma de fundição? Vede, pois, o que haveis de fazer.” Será que eles sabiam mesmo o que era para fazer? Porque se eles lembrassem de Deuteronômio 27:15 “Maldito o homem que fizer imagem de escultura ou de fundição, abominável ao SENHOR...” Eles deveriam trazer uma correção e julgamento para essa casa. Mas não foi isso que fizeram, a ideia indecente trouxe uma ação indecente (verso 17a) “Porém os cinco homens que tinham ido espiar a terra entraram na casa e apanharam a imagem de escultura, a estola sacerdotal, os ídolos do lar e a imagem de fundição,...”

Depois da ação indecente de roubar os ídolos de Mica, fizeram uma proposta indecente (verso 18-19) Quando eles entraram na casa de Mica e apanharam a imagem de escultura, a estola sacerdotal, os ídolos do lar e a imagem de fundição, o sacerdote perguntou: O que é que vocês estão fazendo? Eles responderam: Fique calado. Não diga nada a ninguém. Venha conosco e seja o nosso conselheiro e sacerdote. Ou você acha que é melhor ser sacerdote na casa de um só homem do que ser sacerdote de uma tribo e de uma família em Israel?”

E para finalizar, essa proposta indecente recebe uma resposta indecente (verso 20) “O sacerdote ficou contente, pegou a estola sacerdotal, os ídolos do lar e a imagem de escultura e entrou no meio do povo. ” Percebe-se aqui que não era somente Mica e sua família que haviam se esquecido de Deus, mas sim, o levita e toda a tribo de Dã, pois estes homens roubam ídolos e ainda compram o levita para que vá com eles fazer seu trabalho de sacerdote para deuses estranhos. Nessa época o povo chega ao fundo do poço, pois detrás desse povo afundado em crise social e político, detrás de uma nação refém de uma ética relativista, sempre existe uma crise maior que é a ausência da percepção da existência de um Deus justo, presente e ativo na história.

Esse povo chega nessa crise sem precedentes porque se esqueceu de Deus, mas Deus continua presente e ativo na história desse povo querendo voltar a ter um relacionamento com eles novamente. Entretanto, eles estavam cegos e insensíveis a voz de Deus, por isso o povo sofre as consequências de seu pecado no decorrer desse livro. Voltando para o levita, vemos aqui um homem que foi consagrado para cuidar das coisas de Deus, mas que vive em lugar fora do estipulado pelo Senhor, que primeiramente aceita uma proposta de ser sacerdote de uma casa idólatra, e depois aceita uma proposta ainda pior que era levar essa idolatria a uma tribo inteira!

Esse levita que era para ser um servo do Senhor e ser um instrumento d’Ele para resgatar o povo para um relacionamento com Deus, torna-se um mercenário. Vende-se por status, vende-se por uma carreira promissora de ser levita de uma tribo inteira, mesmo sabendo que não era isso que Deus tinha para ele. Um homem que nasceu para ser separado para viver para Deus, decide viver para o dinheiro, status, fama e deuses próprios. Isso é decadência religiosa, é negligenciar o chamado e o propósito que Deus tem para uma pessoa para viver a Seu bel prazer, a aceitar ser vendido por coisas terrenas e materiais que não se comparam às coisas celestes que o Senhor Deus tem preparado para aqueles que O temem.

Mas o que mais assusta depois de estudar esses dois capítulos, é descobrir quem era esse levita que fez todas essas coisas indecentes. Quem seria esse homem? (verso 30) “Os filhos de Dã levantaram para si aquela imagem de escultura, e Jônatas, filho de Gérson e neto de Moisés, ele e seus filhos foram sacerdotes da tribo dos danitas até o dia do cativeiro do povo” (NAA). Nas versões da Bíblia Revista e Corrigida e Revista e Atualizada diz Manassés no lugar de Moisés, mas as outras versões deixam claro que é Moisés, o mesmo podemos ver pelo comentário de Artur E. Cundall:

“A ARA acompanha uma correção introduzida no texto hebraico, de modo a ler-se o filho de Manassés. Suas consoantes (msh) são as mesmas do nome de Moisés, pai de Gérson (Êx 2:21, 22) contudo, adicionou-se um n supralinear, entre as duas primeiras consoantes, dando, assim, as consoantes do nome de Manasses. Concorda-se unanimemente em que a referência, de início, era a Moisés. A razão para a emenda pode ter sido a seguinte: salvaguardar a reputação deste grande líder, excluindo-o da linhagem deste levita idólatra e secularizado.” 

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O maior líder da história do povo de Israel do Antigo Testamento tem um neto que rejeita seu chamado espiritual, rejeita sua ascendência de moral e ética social e religiosa para aquela sociedade, se tornando um mercenário idólatra e levando uma tribo inteira a fazer o mesmo. Apenas duas gerações foram necessárias para que Deus fosse esquecido. A primeira geração conheceu a Deus, pois viram as maravilhas que Ele fez na libertação do povo no Egito, no sustento e cuidado durante o deserto e a posse da Terra Prometida. Já a segunda geração ouviu falar de Deus que fez todas essas coisas, finalmente, a terceira geração se esquece de Deus. Isso é o que acontece com um povo que não sustenta um relacionamento real e pessoal com Deus e não repassa para sua descendência essa vivência.

III. PARALELOS TEMPORAIS: A RELIGIÃO ONTEM E HOJE.

É nítido que estamos vivendo um tempo de decadência religiosa igual ao ocorrido no livro de Juízes. Assim como antes dos Juízes o povo presenciou grandes maravilhas que o Senhor Deus fez no meio do povo, também vemos a mão de Deus operando no início do Cristianismo e depois com o crescimento pós Reforma. O problema que vemos em ambas as situações é que: enquanto o povo de Israel estava no deserto, sofrendo e tendo somente o indispensável para viver, eles reclamavam, mas pelo menos estavam perto de Deus e o buscava com frequência. Assim foi também no tempo da perseguição que os primeiros cristãos passaram, quanto mais eram perseguidos, mais se achegavam a Deus, mais eles trabalhavam para o Reino e mais pessoas eram salvas.

Ocorre que, assim que o povo de Israel chega na Terra Prometida, eles agora têm tudo que precisam: as coisas funcionam, tem terra para todo mundo, água para todo mundo, comida a vontade, chega o tempo da bonança, o tempo da paz e o tempo de descansar. E, quando isso acontece, eles relaxam na vida espiritual e se esquecem de Deus, pois agora não precisam mais d’Ele, porque agora têm tudo que precisam. No entanto, esquecem que, se eles chegaram onde chegaram, foi exclusivamente por causa de Deus. Mas não é isso que acontece, eles viram as costas contra Deus adorando deuses estranhos e afundam numa decadência religiosa sem precedentes.

Da mesma forma acontece nos dias de hoje. Enquanto a igreja foi perseguida, enquanto a vida era difícil, o povo de Deus se achegava a Ele, eram fervorosos, unidos, ativos e audaciosos para trabalhar no Reino. Mas, ultimamente, com avanço da tecnologia, com o consumismo exacerbado, com o sincretismo entre as religiões, acabou-se a perseguição. Pelo contrário, hoje é “moda” dizer que é crente. Artistas se dizem crente e posam para revistas indecentes, políticos se dizem crentes e são presos por corrupção, homens se dizem pastores de igrejas e são condenados por estupros, pedofilia ou caem em adultério. Essa é a religião que vivemos hoje:

  •  um evangelho açucarado no qual a Palavra de Deus só é lida na parte das bênçãos e das promessas, onde as pregações só dizem o que o povo quer ouvir e os líderes passam a mão na cabeça das pessoas em pecado, em vez de confrontá-las.
  • um evangelho banalizado em que tudo é “relativo”, que tudo “depende”, hoje se interpreta a Bíblia da forma que quiser, justifica-se pecados usando textos bíblicos e a hipocrisia é descarada, mas é aceita pela sociedade como normal.
  • um evangelho interesseiro em que a teoria da prosperidade atrai as pessoas pelo que Deus pode fazer, não pelo que Deus é. Onde as pessoas correm para as igrejas atrás de cura, libertação, dinheiro, emprego e restauração de lares, mas depois que elas conseguem isso, vão embora e não voltam mais porque já conseguiram o que queriam.
  • um evangelho confortável em que as pessoas buscam por igrejas enormes, com grandes infraestruturas, templos suntuosos, mega-shows na hora do louvor, poltronas de cinema para sentar, manobristas nos estacionamentos, canais de TV, rádio e transmissões ao vivo pela internet. Tudo isso para chegarem, sentarem e assistirem, como meros consumidores, recebendo tudo do bom e do melhor sem o mínimo esforço.

Porém, não foi nada disso que nossos antepassados passaram, eles sofreram, foram torturados, mortos, passaram fome, sede, padeceram necessidades por causa do evangelho, não tinham estrutura nenhuma, mas arregaçaram as mangas e trabalharam para o Reino propagando o evangelho genuíno de Cristo. E, é por causa disso que o relacionamento deles com Deus era constante, foram abençoados por Ele com frutos, tiveram experiências incríveis com Deus e muitas conversões ao cristianismo. Não tiveram nada do que temos hoje, mas tiveram vida e vida em abundância com Cristo. Mas agora, como estamos vivendo tempos totalmente diferentes, relaxamos, folgamos, porque tudo se tornou fácil demais, e nos perdemos nessas facilidades e comodidades do dia a dia. Nos tornamos frios e vazios e não produzimos para o Reino comparado a igreja primitiva.

Além disso, assim como o levita mercenário, vivemos em tempos que líderes estão cegos pelo dinheiro, iludem o povo para tirarem tudo que conseguem deles. Pastores se vendem por não pregarem o evangelho genuíno nas igrejas, pois têm medo do povo sair da igreja e perder os dízimos e ofertas dessas pessoas. Pois é mais fácil pregar o que as pessoas querem ouvir do que confrontar o pecado que existem nelas.

Sem contar os chamados “donos da igreja” que mandam e desmandam na igreja impondo sua vontade, eles demitem e expulsam pastores que confrontam seus pecados, causam rachas das igrejas quando percebem que estão perdendo influência e fazem apenas o que é melhor para eles, sem pensar no coletivo. Mas esquecem que a igreja tem um Dono, e esse Dono é Jesus. E o verdadeiro Dono, em Apocalipse 3:20 bate na porta da igreja de Laodiceia porque o colocaram para fora. Finalmente, a decadência é tanta que igrejas têm fechado as portas, templos têm sido vendidos, pastores estão desiludidos e os cristãos estão desigrejados ou desviados, isso tem acontecido em todas as denominações cristãs e em todo o mundo. 

CONCLUSÃO

Quando lemos esses 2 capítulos de Juízes, ficamos chocados com o que vemos. Mas essa situação se explica com o verso 6 do capitulo 17 que diz “Naqueles dias, não havia rei em Israel; cada qual fazia o que achava mais reto” Na verdade existia sim, o rei era o Rei dos Reis e Senhor dos Senhores, mas o povo estava tão cego em suas próprias vontades, em suas próprias iniquidades, que ignorava totalmente as leis de Deus para seguirem suas próprias regras, não se importando com nada do que Deus tinha falado por intermédio de Moisés. Agora, trazendo para nossos dias, será que temos visto situação diferente daquela? Será que nossos interesses, nossas vontades e as facilidades da vida não nos têm deixado cegos e relaxados em relação às coisas de Deus? E, será que estamos vivendo em nossas zonas de conforto, sem achar que precisamos dar continuidade ao chamado para trabalhar para o Reino? Quando nos esquecemos que existe um Rei, Rei esse que oferece direitos mas exige deveres, ficamos igual ao povo de Israel nos dias dos Juízes, cada um de nós fazendo o que acha mais correto. É tempo de voltarmos para a Palavra de Deus, de voltarmos ao primeiro amor a Jesus, de sairmos de nossas zonas de conforto e nos colocarmos dispostos a trabalhar para o Reino, usando os dons e talentos que o Senhor Deus deu a cada um. Dessa forma, será possível sairmos desse poço e termos vida e vida em abundância com Cristo. 

QUESTÕES PARA ESTUDO EM CLASSE

1 - Quais atitudes de Mica e sua mãe que estavam fora dos preceitos de Deus?

2 - Por que os danitas roubaram Mica e convidaram o levita para ir com eles? E por qual motivo esse levita aceitou o convite?

3 - Conceitue as palavras: sagrado e profano.

4 - De que forma você vê a IBSD nesse contexto religioso atual?

5 - Como você e sua igreja poderiam mudar esse cenário de decadência religiosa?

Notas de rodapé

1 RADMACHER Earl, ALLEN Ronald B. O novo comentario biblico AT, com recursos adicionais. A Palavra de Deus ao alcance de todos. Rio de Janeiro. Central Gospel, 2010, p.435

2 HENRY Matthew. Comentário Bíblico A.T, Livros Históricos, Josué a Ester. Rio de Janeiro. CPAD, 2010, pg 173.

3 RADMACHER Earl, ALLEN Ronald B. 2010. p.436

4 Versão da Bíblia Nova Almeida Atualizada da Sociedade Bíblica do Brasil, 2017

5 HENRY, Matthew. 2010. pg 176

6 CUNDALL Artur E. e MORRIS Leon. Juízes e Rute - Introdução e comentário. São Paulo. Mundo Cristão, 1986, Pg. 182

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