Inclinai os vossos ouvidos, e vinde a mim; ouvi, e a vossa alma viverá; porque convosco farei uma aliança perpétua, dando-vos as firmes beneficências de Davi.    

Isaías 55:3 

INTRODUÇÃO

   Podemos nos considerar uma Igreja afortunada, porquanto temos a Bíblia e, tão somente ela, como sendo a autorizada Palavra de Deus à humanidade. Ela é, pois, luz suficiente, que não necessita de qualquer candeeiro, lamparina e/ou “luz menor” que tenha o pretensioso condão de "guiar à luz maior". Como Igreja, temos plena liberdade em Cristo e em Sua Palavra para repelir com veemência esse falacioso ensino. Neste 4º trimestre, temos estudado sobre a “Palavra de Deus” na relação com Seus filhos. Na lição desta semana, abordaremos as “alianças” efetuadas por Deus com Seu povo. Deixaremos para outra ocasião a abordagem sobre as maravilhosas questões teológicas que encontradas nas figuras do "tipo” e "antítipo", que povoam a Antiga Aliança em plena conexão com a Nova Aliança.

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   Por falar em “aliança”, convém, de início, averiguar qual é o sentido desse verbete. Eis, pois, o socorro do Dicionário: “aliança: (s.f.) – ato ou efeito de aliar(-se). 1. Pacto ou tratado entre indivíduos, partidos, povos ou governos para determinada finalidade. 2. União, ligação pelo matrimônio. 3. (...) anel que simboliza noivado ou casamento. 4. União harmoniosa de coisas diferentes entre si. 5. liga de metais. 6. REl. – nas Escrituras sagradas, iniciativa de deus de fazer um pacto com indivíduos ou com um povo. (...)”. Pois bem. Essa é a definição dada pelos dicionários de nosso vernáculo. Julgamos de bom alvitre economizar tempo e espaço, evitando divagações sobre o sentido jurídico (mormente nas relações do Direito Internacional Público), como também o sociológico desta palavra. Avulta em importância, entretanto, descobrir qual é o sentido bíblico e teológico desse vocábulo.

   O Pastor e Professor de Teologia do Antigo Testamento, Dr. O. Palmer Robertson, ao tratar da “natureza das alianças divinas”, introduz a matéria, formulando a seguinte pergunta: “o que é aliança?” Atentemos à sua resposta. Pedir a definição de “aliança” é como pedir a definição de “mãe”. Pode-se definir mãe como a pessoa que nos trouxe ao mundo. Essa definição pode ser formalmente correta, mas quem se sentirá satisfeito com ela? As Escrituras testificam com clareza a respeito do significado das alianças divinas. Deus entrou, repetidamente, em relação de aliança com indivíduos. Encontram-se referências explícitas na aliança divina estabelecida com Noé (Gênesis 6:18), Abraão (Gênesis 15:18), Israel (Êx 24:8) e Davi (Salmos 89:3). Os profetas de Israel predisseram a vinda dos dias da “nova” aliança (Jeremias 31:31) e o próprio Cristo falou sobre a última ceia em linguagem de aliança (Lucas 22:20).

   Porém, o que é aliança? Qualquer definição do termo “aliança” deve admitir claramente uma amplitude tão extensa quanto o exigem os dados da Escritura. Todavia, a própria integridade da história bíblica, ao ser determinada pelas alianças de Deus, sugere uma unidade abrangente no conceito de aliança. O que é, então, aliança? Como você define a relação de aliança entre Deus e o Seu povo? Aliança é um pacto de sangue soberanamente administrado. Quando Deus entra em relação de aliança com os homens, Ele institui de maneira soberana um pacto de vida e morte. A aliança é um pacto de sangue, ou um pacto de vida e morte, soberanamente administrado.96 Calha assinalar que na Bíblia há variados usos da palavra aliança, descrevendo diferentes situações e, portanto, apresentando diferentes sentidos.

   Assim, estamos cônscios de que não há unanimidade entre os estudiosos dessa matéria sobre o número de alianças na Bíblia. Autores há que afirmam a existência de sete alianças na Bíblia: (i) Adâmica ou Edênica — com Adão, no Éden; (ii) Noática ou Noética — com Noé; (iii) Abraâmica — com Abraão; (iv) Mosaica ou Israelita — com Moisés e o povo de Israel no Êxodo; (v) Davídica — com Davi; (vi) Pós-exílica — com Israel após o exílio babilônico; e (vii) Cristã ou Nova Aliança. Há, ainda, os que classificam as alianças em dois grandes grupos, a saber, (i) condicional e (ii) incondicional. Para estes teólogos, na aliança condicional, para Deus cumprir Sua parte, é mister que a humanidade cumpra a sua contrapartida primeiramente. Já, na incondicional, Deus cumpre com Seu poder divino, independentemente de qualquer ação humana.

   Sem mais divagações, cumpre-nos informar que há um grupo de estudiosos dessa matéria que, numa construção de pensamento menos teológico e mais biblista, chegam ao ponto de resumir as muitas alianças (sete para alguns, oito para outros) em apenas duas: (i) Antiga Aliança e (ii) Nova Aliança. Nesse cenário, vale ressaltar que há, ainda, aqueles que resumem tudo em uma só aliança — a Aliança de Deus com os homens —, com seus diferentes desdobramentos. O vocábulo “aliança” traz, pois, no seu étimo, a ideia de um laço que une as pessoas. Traz ínsita a noção de conectividade, de pacto, de acordo, de convênio, de tratado (no sentido de tratativa). Tem a ver, por via de consequência, com relação interpessoal — envolve pessoas.

   Concordamos com o Pastor e Professor de Teologia do Antigo Testamento, Dr. Paul R. Williamson que conclui ser a aliança, essencialmente, um compromisso solene selado com um juramento que garante o cumprimento de promessas ou obrigações assumidas por uma ou ambas as partes.97 Logo, é de fácil constatação a conclusão de que a aliança pressupõe compromissos recíprocos, identificados como direitos e obrigações. Passemos agora a uma breve análise de algumas “alianças” na Bíblia.

 

ALIANÇA ADÂMICA OU EDÊNICA

   Oportuno esclarecer que há estudiosos que separam a aliança adâmica da edênica, apresentando alguns traços distintivos entre uma e outra. Conquanto não ignoremos esse arcabouço e metodologia de estudos da matéria, julgamos adequado, por economia de tempo e de espaço, tratar delas num só tópico. Para aquela linha de construção teológica, a aliança edênica é a da inocência. Foi firmada antes da queda. Situam-na de Gênesis 1:26 a 30 e 2:16 e 17. Naquela conceituação, tal aliança estabelece as balizas e extensão da responsabilidade do homem para com a criação, além de delinear sua relação com Deus — haja vista a árvore do conhecimento do bem e do mal.

   Já, a aliança adâmica — a da graça — é “pós queda”. Nela estão incluídas as maldições à humanidade em decorrência do pecado de Adão e Eva; mas, glória a Deus, nela está delineada a provisão de Deus para o aniquilamento do pecado e a consequente salvação dos fi lhos de Adão! A magnífica providência divina está registrada em Gênesis 3:15. Leiamos antes o v. 14 e, na sequência, o v. 15: “Então o senhor declarou à serpente: Uma vez que você fez isso, maldita é você entre todos os rebanhos domésticos e entre todos os animais selvagens! sobre o seu ventre você rastejará, e pó comerá todos os dias da sua vida. Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e o descendente dela; este ferirá a sua cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar” ( nVI).

   Concordamos com o saudoso Pastor Billy Graham, quando afirma que Adão escolheu seguir os conselhos de Satanás e se rebelou (pecou) contra Deus. A escolha de Adão (seu pecado) abriu uma “caixa de Pandora” de sofrimento para a humanidade. Um estudo cuidadoso de Gênesis revela que a atitude de Adão produziu um amplo espectro de sofrimento: físico, espiritual, social, psicológico e até ecológico. A tendência ao pecado, a natureza pecaminosa, é uma característica humana transferida de Adão e Eva para a segunda geração da humanidade. E foi transferida para toda as gerações seguintes. Faz parte da natureza humana que todos herdamos.

   E, no entanto, foi Deus quem agiu para solucionar o problema. No Jardim do Éden, Ele deu a Adão um raio de esperança — a promessa de que um dia enviaria o Seu Filho (gerado por uma mulher) à terra para destruir a obra do demônio e lidar com os problemas do pecado e do sofrimento do homem. Vimos essa promessa ser cumprida, historicamente em Jesus Cristo. Por Sua vida, morte e ressurreição, Ele triunfou sobre Satanás e o pecado, Ele é a chave para a solução do sofrimento. Por Sua morte, liberta-nos da punição do pecado. Por Sua ressurreição, dános o poder sobre a tendência ao pecado, à medida que permitimos que Ele controle a nossa vida.

   Assim, vemos que Deus não esteve passivo com relação à sorte do homem. Ele agiu. Na verdade, a história está se dirigindo para uma época em que Cristo estabelecerá o Seu reino sobre todo o Universo. Satanás, pecado e sofrimento serão eliminados inteiramente. Deus promete nos livrar da punição e do poder do pecado; e um dia Ele criará um ambiente no qual os homens fi quem livres da presença do pecado e do sofrimento associado a ele.98 Em Isaías 9:6 e 7, lemos: “Porque um menino nos nasceu, um filho nos foi dado, e o governo está sobre os seus ombros. E ele será chamado maravilhoso Conselheiro, deus Poderoso, Pai Eterno, Príncipe da Paz. E ele estenderá o seu domínio, e haverá paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino estabelecido e mantido com justiça e retidão desde agora e para sempre. o zelo do senhor dos Exércitos fará isso” (NVI). Maravilhosa aliança da Graça!

 

ALIANÇA NOÁTICA (NOÉTICA)

   É de todos conhecido o relato bíblico sobre o aumento da maldade na mente e coração da humanidade nos dias que antecederam o dilúvio. A depravação atingiu tal clímax, que o Senhor Deus houve por bem exercer juízo de extermínio. Confira-se, pois, o texto bíblico: “o senhor viu que a perversidade do homem tinha aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração era sempre e somente para o mal. Então o senhor se arrependeu de ter feito o homem sobre a terra, e isso lhe cortou o coração. disse o senhor: farei desaparecer da face da terra o homem que criei, os homens e também os animais, grandes e pequenos, e as aves do céu. arrependo-me de havê-lo feito. a noé, porém, o senhor mostrou benevolência” (NVI).

   Anote-se que, na história da civilização humana, há outras narrativas extrabíblicas de destruição por meio de uma inundação catastrófica (Épico ou Epopeia de gilgamesh, 1600 a.C., dentre tantas outras). Conquanto não seja objetivo deste estudo, julgamos oportuno esclarecer que essas diferentes narrativas tratando, na essência, de um mesmo tema, inclusive com circunstâncias assemelhadas, não colocam em dúvida o texto bíblico, como se fosse enganoso ou errado. Ao contrário, reforçam-no, porquanto têm a aptidão de confirmar a convicção da arqueologia bíblica de que todas essas narrativas provêm de um relato original e primário único — no sentido de ponto de partida. Logo, essas epopeias decorrem do relato oral único — tradição oral — que, ao depois, foi recebendo alterações (seja por acréscimo, seja por decréscimo), nas diferentes regiões habitadas pelo homem.

   Para esse estudo, entretanto, o que avulta em importância é a assertiva de que, após o dilúvio, ou seja, após as águas recuarem e Noé e sua família saírem da arca, Deus celebrou uma aliança com Noé, tendo por símbolo um arco-íris, com a promessa de que nunca mais o mundo seria destruído por um dilúvio. Vale a pena conferir o texto bíblico de Gênesis 9:8- 17. Não é ocioso lembrar que o Novo Testamento faz clara alusão ao dilúvio. Veja-se a 2ª Epístola de Pedro, cap. 2, v. 5. Essa aliança é classificada no rol das alianças incondicionais. Calha lançar aqui a seguinte indagação: qual é o significado teológico dessa aliança universal?

   Socorremo-nos, novamente, da cátedra do Pastor e Professor Dr. Paul R. Williamson quando preleciona que o significado teológico da aliança noética é, no mínimo, duplo. Em primeiro lugar, ela é a base da nossa confiança atual em Deus como Sustentador. É a aliança noética que nos dá a certeza de que Deus sustentará a ordem da criação apesar do caos que continuamente ameaça subjugá-la. Em segundo lugar, visto que a aliança noética oferece a estrutura bíblicoteológica dentro da qual todas as alianças divino-humanas operam, seu âmbito universal é, sem dúvida, significativo.

   Conclui-se, pois, que essa é uma aliança de preservação da criação. É um protótipo da aliança da recriação ou melhor, da redenção. Assinale-se que essa aliança tem como signo visível a todos, o arco-íris. Confira-se, nessa moldura, que o arco-íris é um sinal do propósito de Deus que abrange a história desde a Criação até a nova Criação. Na perspectiva cristã, a aliança noética pertence a uma história de alianças divinas que culmina na “aliança eterna”, feita por meio do sangue (sacrifício) de Jesus Cristo (Hebr. 13:20). A aliança de paz de Cristo não substitui a aliança noética: aquela é edificada sobre esta, ou seja, não há descontinuidade.

   A vontade final de Deus é de paz e harmonia em uma criação ideal. A aliança noética é o eixo em torno do qual essa promessa de um futuro brilhante gira. Deus fez uma promessa, um acordo, uma aliança com todas as pessoas, os animais e a terra, dizendo que nunca permitirá que o caos criativo suceda e destrua a criação divinamente realizada. Ele manterá a ordem sobre o caos, e o sinal que utilizará para conservar Sua aliança para sempre com a terra é o arco-íris. Não ousamos discordar do Pastor e Professor Dr. O. Palmer Robertson, quando proclama que a justiça do cabeça singular da família serve de base para a entrada de todos os seus descendentes na arca. Porque Noé é justo, toda a sua família experimenta a libertação do dilúvio.

   Cabe, por último, uma breve, porém, oportuna reflexão que, aliás, pode muito bem ser explorada pelo Pastor Patrick e sua esposa Débora, Diretores do Departamento de Lar e Família da Conferência Batista do Sétimo Dia Brasileira, a saber: Na aliança noética, Deus tratou e incluiu a família de Noé. Logo, as famílias integram o relacionamento pactual com o Deus da aliança. Observe-se que o texto de Gênesis 6:18 é de solar clareza, quando assenta: “mas contigo estabelecerei a minha aliança; e entrarás na arca, tu e os teus fi lhos, tua mulher e as mulheres de teus fi lhos contigo” (ARC).

 

ALIANÇA ABRAÂMICA

   O histórico dessa aliança tem seu início no capítulo 12 do Livro de Gênesis. Em verdade, o Senhor prometeu grandiosas coisas a Abraão. Entretanto, começa com uma ordem de Deus: “sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (ARC). Em decorrência do estilo redacional do texto, podemos afirmar que esse mesmo tom na voz de Deus aparece na narrativa do selo pactual da circuncisão em Gênesis 17:1 e 2. Confira-se, pois. Aliás, sugerimos, para melhor compreensão desse tópico, a leitura atenta — acompanhada de oração e meditação — do texto bíblico encontrado nos capítulos 12, 13, 15, 17 e 22 do livro de Gênesis.

   Decerto, na aliança que Deus firmou com Abraão, o patriarca seria abençoado e, em contrapartida, deveria ser bênção aos povos.

   Não é menos certo, na esteira desse raciocínio, que o pacto de Deus com Abraão projeta significativos reflexos na vida do salvo em Cristo. Sim, porque somos alvos das ricas e preciosas bênçãos do Alto, mas, ao mesmo tempo, somos chamados para ser “sal da terra” e “luz do mundo”. Anote-se, sobremais, que, em sintonia com um dos aspectos da aliança noética, Deus, aqui na aliança abraâmica, também assume a responsabilidade de, por intermédio da linhagem de Abraão, abençoar as famílias do mundo. Não é por outra razão, portanto, que o Messias viria — e efetivamente veio — da linhagem de Abraão.

  Por último, insta consignar que nas relações e pactos de Deus com Abraão, conforme estudos nos textos acima sugeridos (Gên. 12, 13, 15, 17 e 22), pode-se verificar, sem muito esforço, que há, em determinada situação, o aspecto unilateral, já em outras o bilateral (significando uma mão de duas vias, com deveres e prerrogativas, obrigações e direitos). Da mesma forma, é verificável o aspecto temporal em uma, e o aspecto eterno n’outra.

 

ALIANÇA MOSAICA. ALIANÇA ISRAELITA, OU PALESTINIANA

   Cumpre assentar, no início desse tópico, que os especialistas desta área da Teologia Sistemática não colocam a “aliança mosaica” como sinônimo da “aliança Israelita ou Palestiniana”. Em nosso estudo, entretanto, por economia de tempo e de espaço, reuniremos as duas alianças em uma só. Há um grupo de teólogos “antinomianistas” — referindo-se àqueles que são contrários à Lei de Deus, classificando-a como sendo a Lei de Moisés, que ensinam que a Aliança Mosaica era apenas temporal e de mão dupla, encerrando direitos e obrigações, que valiam tão somente para aquela época. Tal, não é, contudo, a conclusão que um estudo mais acurado do Livro Santo nos traz.

   Observe-se que no preâmbulo da enunciação da Lei, em Êxodo 20, vs. 1 e 2, lemos: “Então falou deus todas estas palavra, dizendo: Eu sou o senhor teu deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”.

   A inevitável constatação era a de que, a despeito do distanciamento do propósito de Deus, a despeito das contínuas violações de Sua Santa Lei, Israel foi acolhido pelo Senhor e resgatado da casa da escravidão independentemente de boas obras. Anote-se que o ato resgatador e salvífico antecedeu a obediência à Lei. Ora, isso tem um nome. Chama-se “graça”, favor imerecido. Portanto, ao contrário do que prelecionam os antinomianistas, a Lei não é incompatível com a graça. O mau uso da lei (como fi zeram os judeus, mormente os fariseus), sim, é uma negação da graça.

   Nessa moldura, socorre-me à lembrança as palavras de (Santo) Agostinho quando, alhures, disse: “a lei foi dada para que a graça pudesse ser exigida; e a graça foi dada para que a lei pudesse ser cumprida”. E, por falar em Aliança Mosaica — Aliança Israelita e/ou Palestiniana, na condição de batistas do sétimo dia, convém uma breve refl exão sobre a conexão do sábado do quarto mandamento do Decálogo, com a referida aliança. Poderíamos trazer à colação diferentes textos de estudiosos cristãos sabatistas, mas julgamos de bom alvitre trazer um texto do Pastor e Professor do Knox theological seminary, de fort lauderdale, Usa, Dr. O. Palmer Robertson que, ao que nos consta, não é guardador do sábado. Confira-se, pois:

   “A instituição do sábado tem suas raízes no modelo da atividade criadora de Deus. Seguindo a ordem de seis e um no ato de criar o mundo, Deus estabeleceu um padrão estrutural pala a sua criação. O significado do princípio do Sábado na ordenança da criação aparece não somente no modelo de seis dias de atividade criadora, seguidos de um dia de descanso. Aparece também explicitamente na afirmação de que ‘abençoou Deus o dia sétimo e o santificou’ (Gên. 2:3).

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   Quando as Escrituras registram que Deus ‘abençoou’ o dia de Sábado em combinação com sua atividade criadora, obviamente isso não quer dizer que Deus falou inexpressivamente, em um vácuo. Sua bênção dada a esse dia tem efeito significativo em relação ao mundo. Além disso, a referência ao fato de Deus abençoar o dia não deve ser interpretada como significando que Deus abençoou o dia com respeito a Si mesmo. Foi com respeito à Sua criação e, em particular, com respeito ao homem que Deus abençoou o dia de Sábado. Como Jesus incisivamente indicou, ‘o sábado foi estabelecido (egeneto) por causa do homem (diá tonantropon) — Marc. 2:27. Deus criou o Sábado porque era para o bem do homem e de toda a criação.

   Nem o antinomianismo nem o dispensacionalismo podem remover a obrigação de o cristão observar, hoje, a ordenança do Sábado originada na criação. A ausência de qualquer mandamento explícito concernente à observância do Sábado ates de Moisés, não relega o princípio do Sábado à legislação temporária da época da lei. O caráter criacional da bênção sabática de Deus deve ser lembrado. Desde o início Deus conferiu uma bênção distintiva ao Sábado.

   O quarto mandamento do Decálogo apela para o aspecto relacionado à criação da estrutura do Sábado como a base para seus requisitos particulares. Por causa do modelo de trabalho-e-descanso de Deus, na criação, o homem deve ‘lembrar-se do dia de Sábado para o santificar’ (Êxo. 20:8 a 11). Até mesmo os animais do campo devem participar desse descanso (v. 10), indicando a intenção de Deus de abençoar toda a criação por meio dessa instituição.

   Deus abençoou o homem por meio do Sábado, livrando-o da servidão de trabalhar. Pela graça de Deus, o abastecimento de sustento para sete dias viria apenas de seis dias de trabalho. Deus graciosamente deu descanso do trabalho 52 dias por ano, ou seja, um mês e meio em doze. Assim como Deus escolheu descansar do seu trabalho no sétimo dia, assim também o homem deve escolher descansar do seu. Nesse dia, o Senhor descansou de todos os seus trabalhos de criação e ‘tomou alento’ (Êxo. 31:17). Da mesma maneira, o povo de Deus deve ‘tomar alento’ em associação com esse dia (Êxo. 23:12).

   A santificação do Sábado indica que o Senhor da criação estabeleceu o padrão pelo qual deve ser honrado como Criador. É certamente apropriado que se separe tempo para o culto a Deus. Mediante a santificação do Sábado, Deus indicou que espera que os homens apresentem-se regularmente a si mesmos, bem como os frutos do seu trabalho, para serem consagrados diante dele”.

 

   Nessa aliança, em suma, está incluído o sacerdócio levítico, o ritual do santuário e, num sentido geral, o culto em Israel, riquíssimo em lições aos verdadeiros adoradores ainda hoje.

 

ALIANÇA DAVÍDICA

   Para os estudiosos dessa matéria, após a aliança com Israel, o próximo grande desenvolvimento pactual foi a aliança davídica. Aqui está retratada a promessa incondicional de Deus a Davi de que ele terá um trono eterno. Afirma-se a promessa de uma dinastia eterna. Em 2 Samuel 7:1 a 16 e I Crônicas 17:1 a 14 estão delineados os contornos da aliança davídica. Nesse pacto resulta consignada, pois, a promessa de (i) um trono eterno, (ii) um Rei eterno e (iii) um Reino eterno. Não é ocioso lembrar que o Novo Testamento, em diferentes passagens, apresenta Jesus Cristo como descendente de Davi, com o destaque de ser seu herdeiro.

 

A NOVA ALIANÇA

   O mais glorioso no estudo das “alianças” na história da redenção, é dizer, da relação de Deus com os decaídos filhos de Adão, é a firme convicção de que, em Cristo Jesus, todas as promessas e pactos encontraram seu cumprimento. Observe-se que no Velho Testamento, mais precisamente em Jeremias 31:31-34, encontramos a principal referência explícita à Nova Aliança. Esta é, pois, uma aliança estabelecida entre Deus e toda a humanidade. Mas, não há aqui qualquer sugestão da concepção teológica conhecida como “universalismo”, segundo a qual, toda a humanidade será salva. 2. A condição da eterna salvação, consoante Hebreus 5:9 é a aceitação da obra expiatória de Cristo na cruz do Calvário, demonstrada por uma vida de obediência ao Senhor. Inegavelmente, essa é a Aliança da Graça. Nela está a doutrina do perdão (I João 1:9), da justificação pela fé (Rom. 5:1) e da santificação (Heb. 12:14; I Ped. 1:13-23), cujo clímax é a glorificação (Col. 1:27).

 

APLICAÇÃO

   Somos o povo da Aliança. Adoramos um Deus soberano que, em Seu infinito amor e misericórdia, houve por bem entrar em aliança com Seus fi lhos. Nossa Igreja Batista do Sétimo Dia, desde os seus primórdios, vem proclamando a grandiosa mensagem da Salvação. Ensinamos que, do Gênesis ao Apocalipse, a Bíblia retrata um Deus empenhado em resgatar os caídos fi lhos de Adão. Por isso celebrou os pactos acima descritos.

   Temos em Cristo, com Sua morte e ressurreição, a concretização das alianças. Ele inaugura a Nova e Eterna Aliança, que traz o selo definitivo pelo sangue derramado na cruz do Calvário. Lembremo-nos sempre: o primeiro Adão falhou e, com isso, toda a sua descendência caiu e ficou destituída da glória de Deus. “todos pecaram”, diz Paulo, o apóstolo (Rom. 3:23). E em Romanos 5:12 lemos: “Portanto, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens por isso que todos pecaram”.

   Entretanto, o segundo Adão, ou melhor, o último Adão (porquanto não haverá um terceiro, nem quarto) — Cristo Jesus — veio trazer perdão, restauração e Salvação. Com isso, compreendemos melhor o texto paulino, quando afirma: “Porque assim como todos morrem em Adão, assim também todos serão vivificados em Cristo” (I Cor. 15:22). E, ainda: “assim também está escrito: O primeiro homem, Adão, foi feito em alma vivente; o último Adão em espírito vivificante” (I Cor. 15:45 — grifei).

   Nesse passo, concordamos com o já mencionado Pastor Paul R. Williamson quando observa que apesar de a morte e ressurreição de Jesus terem inaugurado esse reino, nós ainda aguardamos a realidade escatológica derradeira, quando as esperanças oferecidas pela nova aliança receberão expressão plena e eterna. O relacionamento divino-humano ideal — representado em diversos textos do Antigo Testamento que prenunciam a era da nova aliança — encontrou cumprimento na pessoa e na obra de Jesus Cristo.

• Por meio do sangue da eterna aliança, o povo de Deus obteve perdão completo dos pecados. Por meio da obra regeneradora do Espírito de Deus, as exigências divinas (leia-se: a lei de deus) foram escritas no coração de todo o Seu povo. 

• Por meio da iniciativa salvífica de Deus em Cristo, o povo de Deus foi posto em um relacionamento divino-humano cuja segurança é absoluta e eterna.

• Por meio de Jesus, a semente real de Abraão, a bênção divina agora foi estendida a todas as famílias da terra. Contudo, embora essas bênçãos já sejam desfrutadas por cristãos, a plena realização das esperanças oferecidas na nova aliança acontecerá apenas no fi m dos tempos, quando o grande pedido contido na oração do Filho finalmente será atendido: o reino de Deus virá à Terra assim como é no Céu.

 

CONCLUSÃO  

   Tivemos neste estudo um breve panorama sobre as alianças de Deus com Seus filhos. Vimos, de um ponto de vista didático e pedagógico, o desenrolar cronológico de algumas alianças. Mencionamos, ademais, que todas elas poderiam ser resumidas em apenas duas: Antiga Aliança e Nova Aliança. Conquanto assim possamos entender, cumpre ressaltar que o mais importante nessa reflexão é a convicção de que Deus, por Seu eterno amor e infinita misericórdia, entrou em relacionamento com os homens. Sendo assim, concluímos que todas as alianças poderiam ser resumidas em apenas uma: A Aliança da Redenção, por meio da Graça manifesta na vida, morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo. Por último, calha aqui relembrar que a Santa Ceia do Senhor nos remete à permanente celebração e vívida memorização da nossa eterna redenção. Deus nos abençoe!

 

 QUESTÕES PARA DISCUTIR EM CLASSE

1. À luz das explicações contidas no texto expresso desse estudo bíblico, aponte algumas características da aliança adâmica.

R.

2. Em que sentido você se sente afetado pela aliança noética? Discorra sobre a correlação que Jesus fez com o povo dos dias do Dilúvio com as pessoas nos dias da Sua Segunda Vinda.

R.

3. Em que aspectos podemos situar a Lei de Deus (o Decálogo) nos Pactos ou Alianças com Seu povo? É possível encaixar o descanso do sábado nesse pacto, abrangendo, inclusive, a Nova Aliança? Analise Hebreus cap. 4.

R.

4. O que a Nova Aliança — a Eterna Aliança da Graça — significa para você? Medite em Jeremias 31:31-34 e compare com Hebreus 13:20.

R.

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