Porque o Filho do homem veio buscar e salvar o que se havia perdido.

Lucas 19:10 

INTRODUÇÃO

Entre os antigos gregos, o “estigma” era uma marca ou um sinal que se usava no corpo com o objetivo de sinalizar algo extraordinário ou mau acerca de uma pessoa. Hoje em dia, a Sociologia trabalha esse conceito de forma mais ampla. Mesmo assim, a ideia central continua a mesma. Ou seja, o indivíduo estigmatizado é aquele que está fora de certo padrão de expectativa social. Isso porque as sociedades, via de regra, acabam por definir categorias de comportamento ou atributo considerados normais, comuns, aos seres humanos. Geralmente esses atributos frustram a expectativa da maioria.

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Havia estigmas que identificavam defeitos físicos (cegueira, surdez, desfiguração do rosto etc.), comportamentos (insanidade mental, vícios, sexualidade, reclusão prisional...) e identidade (marcas que sinalizam a pertença a uma tribo, nação e até religião).

Dentro desses aspectos, devemos aprofundar nossa reflexão sobre a lição de hoje. Podemos observar que, nos textos separados para o estudo, é possível identificar três tipos estigmatizados: uma prostituta ou meretriz (Lucas 7), um louco endemoniado (Marcos 5) e as autoridades (1 Timóteo 2). Quanto a esse último, você deve estar se perguntando: mas de onde podemos tirar isso? Paulo pede apenas para fazer intercessão por todos os homens! O foco, inclusive, parecer ser a frase de efeito: “Deus (...) deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1 Timóteo 2:3,4). Sim; isso é verdade. Porém, se você prestar um pouco mais de atenção, perceberá que as pessoas por quem Paulo pede intercessão também sofrem reprimenda social por causa do exercício de poder ditatorial, por ser complacente ou por ser corrupto. O fato é que as autoridades estatais nem sempre foram bem vistos com a relação a seus subordinados. E hoje não é muito diferente!

Dito tudo isso, cabem as perguntas: Por que a evangelização de tais pessoas seria algo desafiador? Realmente faz alguma diferença na ação evangelística reconhecer o grupo que se está querendo alcançar? O fato de os cristãos reconhecerem que os estigmas sociais são reais não os leva a fazerem acepção de pessoas?

Lidar com essas questões não é nada fácil, e aprender mais sobre o tema, sem sombra de dúvidas, vai edificar nossas vidas. Vejamos o desenrolar de nosso tema.

 

DE QUE GRUPOS DESAFIADORES ESTAMOS FALANDO?

A intenção não é apontar uma lista completa, mas apenas citar alguns grupos, como as prostitutas (ou garotos e garotas de programa), os homossexuais, as lésbicas, os viciados e os presidiários. Por que as pessoas que incorporam esses grupos representam um desafio à evangelização, hoje em dia? A resposta é que, de alguma forma, elas estão sob uma condição de vida de relação tensa com a sociedade. Alguns classificam os indivíduos desses grupos como marginalizados da sociedade. Aqui caberia uma ampla discussão sobre a definição de marginais. Porém, não é nosso intuito discutir o assunto tão profundamente. O fato é que a relação dessas pessoas com a sociedade é realmente tensa. Há luta por direitos em jogo; existe luta contra o preconceito que leva não só a danos morais e a humilhações públicas, como também à violência.

E o que a Igreja tem a ver com isso? Tudo, pois Jesus disse, em Lucas 19:10: “Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar o perdido”. O “perdido” mencionado por Jesus é toda e qualquer pessoa, inclusive as citadas acima. Colocado dessa forma, podemos afirmar que a missão de evangelizar não conhece barreiras! Todavia, a realidade é bem mais crua e triste do que estamos, talvez, dispostos a assumir. O fato é que a Igreja (uma instituição) e os cristãos (sujeitos responsáveis por si mesmos) têm enfrentado muitas dificuldades ao lidarem com pessoas estigmatizadas. Nos próximos tópicos, analisaremos a questão de forma mais detida.

 

O EVANGELHO PARA TODAS AS PESSOAS

A primeira questão que precisa ficar clara é que o Evangelho deve ser pregado a toda e qualquer pessoa. Não importam os grupos social e cultural, o gênero sexual, a condição financeira, ou a cor da pele; ninguém está fora do alcance de sua mensagem. Deve-se pregar o Evangelho todo para o Ser Humano todo.

Paulo descreve a mensagem do Evangelho como o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crer (Romanos 1:16). Na sequência dessa afirmação, o apóstolo faz referência a dois grupos étnicos bem distintos e em conflito: judeus e gregos. Esses povos podem ser tomados como grupos representativos para nossa reflexão. Se a mensagem servia para um, também servia para o outro.

Todavia, antes de pensarmos em qualquer grupo alvo específico, ao qual devemos dedicar uma atenção especial, é muito importante carregar na consciência que a problemática não está no fato de a pessoa ser homossexual, garoto de programa, ou viciado ou presidiário. O fato é que todos caíram e, destituídos estão da glória de Deus (Romanos 3:23). Isto é, o Evangelho não é o Evangelho só porque são para os marginalizados da sociedade. O Evangelho é para todo pecador. Não são estigmas ou “identidades” sociais que ditarão os rumos e a agenda da evangelização. O Evangelho é o poder de Deus! E, se Ele não muda, então o conteúdo central da mensagem do Evangelho não vai mudar. O que mudará, e assim esperamos, é a vida das pessoas a quem esse Evangelho alcança! Tudo que está perdido espera-se ser achado. Tudo que está ferido espera-se ser curado. Tudo que está longe espera-se trazer para perto e, por fim, tudo que está morto espera-se voltar à vida, espiritualmente falando.

 

OS CONTEXTOS DA EVANGELIZAÇÃO

Vejamos dois aspectos importantes relacionados ao nosso empenho na tarefa de evangelizar: o contexto social e a vida individual. Um é o reflexo do outro. Se vamos repensar a questão da evangelização de grupos desafiadores, então será muito significativo não deixar de fora a dinâmica e a complexa relação entre o indivíduo e a sociedade.

O Contexto Social. O que seria isso? É a estrutura de vida construída no espaço e no tempo pelas pessoas, sendo estas sujeitos ativos, os quais compartilham variados itens, como: produção e consumo de alimento e de vestuário, moradia, normas, valores, costumes, arte e conhecimento sobre a vida e o mundo. São as próprias pessoas que constroem normas e padrões aceitáveis a uma vivência comum. É muito importante entendermos isso, pois é a análise ou reflexão acerca da relação de cada pessoa com a outra, dentro de um bairro, uma cidade, um estado ou país. Daí, produzem-se questões, tais como: Por que as pessoas agem e pensam de uma forma e, não, de outra? Por que nos relacionamos uns com os outros de uma determinada maneira? Quais são nossos direitos e deveres?

Ao tentar responder essas perguntas, compomos um retrato da sociedade. A brasileira, em linhas gerais, é definida, em termos políticos, como democrática; no âmbito econômico, é capitalista (= em desenvolvimento, emergente, apesar da nítida desigualdade social). Quando se falam em raças, nossa sociedade é multirracial; definida ainda, em termos religiosos, como multirreligiosa (apesar de o Catolicismo romano ainda ser maioria) e, por fim, considerada pelo “cartão turístico de propaganda” como um país rico em belezas naturais, com povo amistoso e de beleza peculiar. É claro que isso não diz tudo o que somos! São apenas retratos; e retratos selecionados.

Por outras “fotografias”, identificamos uma sociedade que vem remodelando ou se adaptando a uma nova vivência cotidiana. Muitos se perguntam se essas transformações indicam uma reinvenção positiva (um progresso ou evolução do ser humano), ou se apontam para uma ruína silenciosa. Porém, trata-se de um fenômeno eficiente que, pouco a pouco, confunde e esmigalha a vida dos indivíduos.

Em nossa nova vivência, encontramos de tudo! A prática da compaixão não está muito em alta; ajudar virou sinônimo de se arriscar - arriscar-se a perder a vida, ser enganado, estuprado, assassinado ou feito refém! Essa vivência aponta tristemente para uma estrutura familiar sofrida, insensata, descompromissa e inimiga de si mesma, algumas vezes. A confiança de uns nos outros, um dos alicerces fundamentais da vida em sociedade, tem se apagado e está abrindo espaço para vários tipos de mazelas sociais. 

Isso tudo revela que a vida em sociedade produz, ao mesmo tempo, consequências boas e ruins. E nem sempre será a escolha individual a determinante para mudar um contexto social inteiro. Assim, somos levados a perguntas reflexivas: O fato de precisarmos uns dos outros significa que não temos autonomia? Até que ponto somos condicionados pela sociedade? É o contexto social que nos obriga a sermos o que não queremos? Essas não são perguntas fáceis de responder, tampouco devemos ter pressa para respondê-las. Em última análise, as indagações ainda nos acompanharão por toda a nossa existência uma vez que têm um forte poder de capturar nossa atenção, ou de pelo menos lançar luz sobre algo que não percebíamos antes. Se vamos evangelizar, então devemos estar atento a esse quadro maior.

O contexto individual. O contexto individual é o relacionado à vida privada. Significa que ainda que a sociedade apresente um padrão, quem decide o que quer da vida somos nós próprios. Esse conceito de individualismo nem sempre esteve em alta; na verdade, a liberdade individual é algo que ganhou presença significativa a partir do século XVIII. Antes, entre os povos antigos, por exemplo, o que se sobressaía era a identidade do grupo, ou seja, da família, da tribo etc. O desejo de uma pessoa perdia-se em meio do todo, a não ser que a pessoa fosse um soberano, quem detinha poder. Nesse caso, sua decisão estaria acima dos demais. Em linhas gerais, mesmo que vivamos sob uma estrutura social mais ampla, nossas decisões contam muito e podem ser cruciais.

Que implicações isso traz para nosso estudo de hoje? Primeiramente, revela que a sociedade (ou o contexto social) pode influenciar a maneira como enxergamos (nós, cristãos) e tratamos esses grupos desafiadores. Temos a propensão de tratá-los como seres humanos de categoria inferior. É bem verdade que os princípios a regerem a vida de um discípulo de Jesus são diferentes daqueles que geralmente regem a estrutura social dominante. Ou seja, amar, compreender, negar-se a si mesmo etc. Mas a realidade nem sempre caminha nessa linha. Atitudes mal pensadas por parte de alguns cristãos acabam aumentando o acirramento entre o Cristianismo e os grupos que pretendem alcançar com a mensagem do Evangelho. Ou se assume uma posição isolacionista, ou uma atitude militante. Some-se a isso a agenda e as críticas feitas por alguns movimentos sociais que se empenham em lutar pelo “direito das minorias”; e muitos desses acabam por culpar o Estado e também a Igreja pelos atos de violência e pelos preconceitos em nossa sociedade. É preciso bastante paciência e capacitação do Espírito Santo para dialogar sobre questões tão delicadas. 

Em segundo lugar, componentes dos grupos desafiadores assumem um posicionamento de resistência devido a uma má leitura da proposta evangelizadora do Reino dos Céus. Essa leitura parcial pode ser resultado de uma opinião também contaminada pelo preconceito. Não podemos mentir quanto ao fato de que inúmeras barbaridades foram praticadas em nomes de Deus, e que o testemunho dos cristãos nem sempre redeu honras e glórias para o Senhor. Porém, é bem provável que alguns homossexuais, lésbicas, viciados e criminosos estejam projetando sobre a causa evangelizadora de Jesus Cristo uma imagem distorcida, levando-os à desconfiança e a julgamentos precipitados. Por isso, a análise da proposta evangelizadora do Reino dos Céus deve focar nas ações de Jesus, pois Ele é o exemplo.

Seria interessante pensarmos que a mulher que ungiu os pés de Jesus sofria não só a pressão que a sociedade exercia sobre ela, mas também pela forma como ela mesma se via. Independentemente de rótulos sociais, não estava feliz com a condição de usar seu corpo como forma de sobreviver. Nesse ponto se abre uma brecha estratégica à evangelização dessas pessoas. Devemos levá-las a entender que as dores causadas pelos que se sentem superiores levou-as a uma tendência de repelir qualquer aproximação dos que apresentam uma proposta de mudança de vida. Os oprimidos têm tendência de projetar em quem realmente deseja ajudar uma imagem distorcida. Devido às experiências anteriores, amargas, não acreditem mais na ação religiosa do “bom samaritano” da atualidade. A imposição de rótulos não é questão apenas das pessoas que detêm o poder ou que dominam a maior parte da opinião. Rotular alguém é um defeito do ser humano que, devido à influência do pecado, perdeu o senso pleno de justiça e de exercício do amor.

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Outro fato bem importante é que a própria sociedade, criticada pela minoria (homossexuais, viciados, criminosos etc,), também tem “incentivado” alguns a “saírem do armário”, ou seja, aceitarem-se como são. Isso é uma forma de influenciar. Alguns dirão que é resultado de lutas, e que certos direitos devem ser conquistados. Mas, à medida que as minorias constroem um discurso e transmitem-no, não estão avançando e direção ao espaço do sagrado direito do outro (que é diferente delas)? Querem que esses diferentes passem a crer em algo que não concordam ou acreditam? Muitos da sociedade só passaram a ter uma confusão sobre sua identidade a partir dos discursos “libertacionistas” que a própria sociedade contemporânea patrocina! O “remédio” que oferecerem também traz efeitos colaterais. Sendo assim, parece que os cristãos não são os únicos a “forçarem a barra”!

Por isso, ao evangelizarmos, devemos ser realistas com essas pessoas. Em primeiro lugar, é preciso tentar retirá-las do “fogo cruzado”. Devemos nos esforçar para desarmá-las da ideia de que os cristãos querem mudar sua opção sexual ou o gosto pelos vícios simplesmente porque somos “santarrões moralistas” que pretendem colocar qualquer um que pense o contrário no inferno. Nada disso; o julgamento cabe só a Deus.

Cabe a nós, aproximarmo-nos, abrir um diálogo motivado pelo amor, assim como Jesus fez. Depois, falaremos o que Ele pensa a respeito da fragmentação a que o ser humano vem sendo sujeito. Quando o Senhor Deus disse a Adão que, certamente, ele morreria, isso não foi uma frase de efeito. Perceba que, até hoje, a morte faz contraponto à vida. Então, Deus não está mentindo quando nos adverte sobre as consequências de nossas escolhas erradas.

Em segundo lugar, depois de sinalizar às pessoas que não somos inimigos, mas amigos, apresentamos o Evangelho como a cura para as dores, como a verdadeira liberdade. Nenhuma utopia socialista, política ou econômica pode oferecer liberdade na eternidade. Somente Deus tem essa proposta.

Nossos textos de estudos de hoje também mencionaram outros tipos interessantes, que merecem nossa atenção e nos desafiam. O homem da Gadara, possuído por espíritos maus, é uma espécie de representante das pessoas que portam os mais variados transtornos mentais e psicológicos. De quem é a culpa por estarem assim: da sociedade, da própria pessoa, de um problema genético ou biológico? Seja qual for a resposta, o fato é que sempre estarão presentes em nossa sociedade. Uma simples abordagem de rua, ou superficial do Evangelho, não surtirá muito efeito. Nesses casos, é preciso um trabalho de pregação do Evangelho e apoio psicológico/psiquiátrico.

E quanto às autoridades mencionadas por Paulo? Foi-nos dito que devemos orar por elas. O mundo em que elas vivem é entretecido de corrupção; então, como chegar até tais pessoas? E se vierem a se converter, como as trataremos? Ou como lidarão com os demais? Difícil prever todas as reações. Nosso contexto político tem feito o cidadão olhar com desconfiança para todos. Mas, se Deus usou Felipe para evangelizar um alto oficial da Etiópia; e Paulo, para evangelizar a Festo, Agripa e Sérgio Paulo (o procônsul, Atos dos Apóstolos 13:7), por que não nos usaria?! Uma das etapas mais difíceis é ter acesso a essas pessoas. Em seguida, um discipulado eficaz faz-se necessário para fundamentar a fé de cada uma. Veja que os textos bíblicos não apresentam uma estratégia específica; apenas aproveitaram as deixas e começaram uma conversa evangelística. Parece ingenuidade, mas é preciso treinar em casa ou simular essas possíveis conversas. O crente deve preparar textos bíblicos para essas ocasiões e montar um repertório de respostas esperadas.

 

PASSOS PARA UMA AÇÃO EVANGELIZADORA DE GRUPOS DESAFIADORES

É preciso esclarecer: o que daremos como sugestão não deve ser encarado como uma “receita de bolo”. Lidar com pessoas não é simples; nem todas as igrejas terão os recursos necessários para realizar a tarefa com excelência. Mesmo assim, há alguns passos a serem dados.

Negar-se a si mesmo. Essa foi e é uma das lições mais significativas de Jesus. Não há como falar de discipulado e de evangelização sem levar em conta o fato de que nossa vontade deve estar submetida a Deus. A negação de nossas vontades, opiniões ou pensamentos precipitados (leia-se parcial também) é um projeto para a vida inteira! A validade do “negar-se a si mesmo” destaca-se como a maneira de contornarmos a resistência que temos em relação a quem não faz parte de “nosso grupo identitário”, no nosso caso, cristãos. Temos de admitir que nem sempre a vala entre congregantes e não congregantes é fácil de transpor.

Jesus não somente ensinou, mas viveu essa experiência de autonegação. E escolheu servir àqueles que necessitavam de salvação. O mais curioso é que nem sempre a quem Jesus veio servir achava que precisava ser salvo.

Mobilizar o coração de toda a igreja. Para que os cristãos alcancem êxito na missão de evangelizar grupos desafiadores, é preciso que a igreja esteja apoiando. E, na medida necessária, envolver-se com o projeto. O curioso é que todos sabem disso, mas o “agir” fica a desejar. Claro que a questão varia de igreja para igreja, pois a “sensibilidade” não é a mesma devido ao local onde se localiza (bairro nobre ou periferia) e ao perfil dos membros (se são pessoas integradoras, se há histórico ou visão de alcançar grupos marginalizados...). Uma vez que a comunidade toma consciência de que o trabalho deve ser conjunto, a probabilidade de êxito será grande.

 Direcionar pessoas específicas para esse tipo de trabalho. Tal ponto tem relação com o anterior. Significa que, mesmo que haja uma convocação geral para que toda a igreja envolva-se, será crucial que uma equipe com dons específicos assuma a frente do trabalho. Pessoas com os dons de evangelizar, aconselhar e presidir, por exemplo, são fundamentais para esse trabalho, pois serão uma espécie de ponte entre a igreja (agência do Reino de Deus na terra) e os que precisam ser alcançados pelo Evangelho. Em outras palavras, é necessário ter um ministério na igreja para lidar com a missão.

Criar ações estratégicas. Uma vez que a igreja é composta por pessoas dispostas a se envolver e tem uma equipe que enxerga a necessidade de alcançar grupos desafiadores, devem-se usar ações estratégicas para se mover em direção aos que se deseja alcançar. Nesses casos, acredito que as ações mais eficientes são, primeiramente, as que permitem a igreja ir até as pessoas. Em seguida, deve trazê-las ao local onde os cristãos reúnem-se para adorarem em comunidade. O pontapé pode ser dado pela própria equipe, que tem o coração focado nesse trabalho, que deve envolve o ouvir, conquistando a confiança de todos. E essa é, por sinal, uma tarefa dificílima.

Ao se ganhar a confiança, é chegado o momento de montar programações específicas para promover o encontro dos grupos desafiadores e da igreja local. Como já mencionamos nos tópicos anteriores, sabemos que tanto os membros da igreja quanto os marginalizados não estão isentos de preconceito. O único jeito de dissolver essas barreiras é aproximando-os; é aqui que as pessoas carentes podem experimentar os primeiros efeitos da aceitabilidade, solidariedade e reconciliação. 

Estabelecer parcerias com outros profissionais. Não será sempre que um cristão, ou o departamento, ou o ministério que almeja alcançar grupos desafiadores estará munido de todas as ferramentas para o trabalho. Por isso, vale muito a pena estabelecer parceria com profissionais da área da Psicologia, Psicanálise, Psiquiatria, Medicina e Assistência Social. Se o trabalho dessas pessoas será voluntário ou remunerado, isso dependerá da visão e condição econômica da igreja local.

Discipulado continuado. Diferentemente do que muitos pensam, o projeto de alcançar os perdidos não significa aceitar que fiquem perdidos! Na tensa discussão que se tem travado sobre a missão de alcançar quem faz parte de um recorte da sociedade pós-moderna, muitos mal-entendidos são gerados. No discurso sobre a necessidade de se alcançar o garoto de programa, os homossexuais, as lésbicas e os presidiários, parece passar a mensagem de que eles devem permanecer do jeito que Jesus os encontra. E a verdade é bem diferente! O discipulado proposto por Ele envolve uma ação evangelizadora na qual a pessoa deve negar-se a si mesma - arrepender-se de seus pecados; tomar a sua cruz (assumir um posto na Missão de Jesus) e seguir a Cristo. Não é apenas de curas física, emocional e psicológica de que precisam. Precisam também de cura espiritual.

No processo de discipular as pessoas, é muito importante oferecer não só um curso bíblico básico. É preciso trabalhar com materiais voltados ao contexto específico do grupo. No caso dos que apresentam problemas na área sexual, por exemplo, podem-se usar as obras: Desintoxicação Sexual: um guia para homens que querem fugir da imoralidade sexual [Vida Nova: São Paulo, 2011], Desejo e engano: o verdadeiro preço da nova tolerância sexual [Fiel: São José dos Campos, 2011] e No altar da idolatria sexual [Graça Editoria: Rio de Janeiro, 2003]. Vale mencionar também uma excelente ferramenta que as igrejas do Brasil vêm usando, o projeto Celebrando a Recuperação.

Integrá-las à vida da igreja. A participação, a interatividade, de um ex-viciado, ex-garoto de programa ou ex-presidiário é altamente significativa para que a missão continue. As experiências de quem enfrentou o outro lado deste mundo tenebroso conta muito. Por isso, à medida que esses irmãos redimidos pelo sangue de Jesus alcançarem um testemunho contundente da transformação operada por Jesus, não há porque não integrarem/assumirem uma frente de trabalho na igreja.

 

CONCLUSÃO

Você deve ter percebido que, ao longo de nosso estudo, a ação evangelizadora foi amarrada ou praticamente traduzida em ação de uma igreja/instituição. Se percebeu isso, não tem problema. Mas é necessário pontuar que as ações pessoais ou individuais de um cristão não são de pouco valor pelo fato de o mesmo não as fazer por meio de uma instituição. Entende-se que, para analisar esse tema, não havia como não relacionar a ação do cristão evangelizador ao “corpo” ou à igreja da qual faz parte. Até porque, sob o ponto de vista da análise social, é a igreja como um todo que se apresenta para o contexto social à volta.

Outro objetivo alcançado foi o de não fazer distinção no conceito de evangelização; e, sim, explorar a necessidade de utilizar abordagens diferentes para alcançar grupos diferentes. E, se de alguma maneira, isso já representa um desafio, considere também outra dificuldade maior: nenhum grupo social, dos dias atuais, tolera uma mensagem que lhe diga que está errado. O Evangelho será sempre contracultural, de alguma forma. Independentemente do contexto, o ser humano é chamado das trevas para a luz, e esse chamado gerará resistência sempre! Por isso, não desanime.

Deve ficar claro que, apesar de os cristãos (como qualquer outro ser social) não serem capazes de fugir da influência dos estigmas sociais, isso não inviabiliza a transmissão da mensagem de amor pregada por Jesus. O passo mais significativo é quando se transpõe o estigma para olhar a pessoa como um ser humano que depende da graça de Deus. Vimos que até mesmo os grupos desafiadores julgam com base em conceitos pré-concebidos. E, nesse jogo de julgamentos, constata-se que o ato de avaliar e o de interpretar o outro é inevitável. Contudo, não precisamos patrocinar discriminação, violência, intolerância e preconceito. Amar como Jesus amou é tão difícil quanto se deixar ser amado por Ele. A mudança virá enquanto se ama, pois nenhum estado do aqui e agora é ideal. Jesus nos transforma, porque o que somos ainda não é o melhor. Não devemos nos contentar com o que somos; e, sim, com o que seremos na eternidade.

 

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