E no dia imediato chegaram a Cesaréia. E Cornélio os estava esperando, tendo já convidado os seus parentes e amigos mais íntimos.

Atos dos Apóstolos 10:24 

Uma ordem tão grandiosa dada diretamente pelo Mestre: “E disse-lhes: Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura” (Marcos 16:15). Das palavras à ação, os discípulos trataram de pô-las em prática imediatamente, pois o Evangelho possui uma mensagem capaz de transformar e gerar vida para o pecador arrependido. É por meio dessa prática que o Reino cresce; e ocorre A PROCLAMAÇÃO DAS BOAS-NOVAS.

No âmbito familiar, essa ordem não deve ser diferente; é dever dos pais convertidos ter uma vida de testemunho e fé que sirva de exemplo a seus filhos, a familiares e a todos que os cercam para que possam ser conduzidos a Cristo.

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O estudo de hoje retrata o exemplo de um homem que, mesmo sem compreender por completo a sua fé, sentiu o amor de Deus e quis compartilhá-lo com todos os parentes e amigos. 

UM HOMEM PIEDOSO

O comentarista Barclay esclarece o seguinte a respeito de Cornélio, o alto oficial do Império Romano:

 Era um centurião romano comissionado em Cesareia, onde se encontrava o quartel geral do governo na Palestina. A palavra traduzida por companhia é o termo grego que corresponde à coorte. Na organização militar romana, a legião ocupava o primeiro lugar. Tratava-se de uma força composta por seis mil homens; portanto, poderia igualar-se a uma divisão. Em cada legião, havia dez coortes. Então, cada uma delas tinha seiscentos homens e podia comparar-se a um batalhão. A coorte estava dividida em centúrias sobre as quais mandava um centurião. Equivaliam, aproximadamente, a uma companhia. Um centurião, em nossa organização militar, seria um primeiro-sargento. Os centuriões eram a espinha dorsal do exército romano. Um historiador antigo descreve as características de um centurião da seguinte maneira: "Devem ser bons líderes, prudentes e seguros, nem muito temerários, nem descuidados, sem a inclinação de tomar a ofensiva em uma luta descontrolada, mas capazes de não ceder e morrer em seu posto ao serem afligidos e pressionados pelo inimigo." Portanto, Cornélio era um homem que sabia muito bem o que significava coragem e fidelidade.

“Era um homem temente a Deus” (vs.2). Na época do Novo Testamento, essa se converteu em uma expressão técnica para os gentios que, cansados de seus muitos deuses e das imoralidades e frustrações de suas crenças ancestrais, tinham aceitado a religião judia.

Todos os pais crentes devem fazer o possível para, cedo, levarem cada um de seus filhos ao Salvador (Efésios 6:4). Abraão foi escolhido por Deus para ser pai do povo escolhido, porque o Senhor sabia que ele guiaria seus filhos em direção aos caminhos d’Ele (Gênesis 18:19). Eli, o sacerdote, foi julgado, pois não sabia criar seus filhos para Deus (1 Samuel 3:13-14).

O apóstolo João diz que “o mundo está no maligno” (1João 5:19); diante disso, não podemos assumir um posicionamento permissivo, inocente ou negligente. Devemos estar atentos e lutar; superar todos os desafios impostos pelo mundo e cativar nossos filhos e familiares. E a missão começa com os pais, dentro do lar.

O PRIMEIRO CONTATO

Estudos psicológicos mostram que a personalidade de cada pessoa é composta tanto por herança genética, como pelas informações recebidas das pessoas próximas. Aliado a isso, há uma dose da própria pessoa, ou seja, ocorre um processo natural de construção e desenvolvimento do ser humano, que se consolida em sua própria e única expressão. Por essa razão, somos tão diferentes uns dos outros.

O pai e a mãe correspondem a um grande “centro de informações”; são figuras imprescindíveis à manutenção do lar e à harmonia. Afinal, são o primeiro contato humano e referencial para os filhos. Devemos valorizar a missão de ser pai e mãe e, principalmente, no contexto cristão, transmitir as informações eternas, as verdades divinas.  

O primeiro contato dos filhos com o Evangelho ocorre mediante a devoção de seus pais – o exemplo. O culto doméstico pode ser, portanto, o melhor aliado nessa tarefa, se o considerarmos como um método prático de evangelismo, no qual se faz a leitura bíblica, momentos de oração e louvor a Deus. O culto doméstico não se trata de uma liturgia ou religiosidade, mas é o culto racional, o louvor diário, as atitudes sadias, a música edificante, as boas conversas a respeito do reino. É o “estar aos pés de Cristo” espontaneamente, como um bom hábito adquirido por meio de um bom relacionamento com o Mestre.

Cornélio buscava a Deus e, enquanto o fazia, Deus o encontrou. Era um homem que se destacava por sua bondade, que orava continuamente. Um exemplo a ser seguido; um referencial para seus filhos. O texto bíblico ainda o enaltece, dizendo que “era um homem piedoso e temente a Deus, com toda a sua casa”.

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OS PRIMEIROS PASSOS

Evangelizamos por pregar a Palavra e propagar a mensagem do Evangelho (cf. Romanos 10:17). Mas por onde começar? Quais os primeiros passos? Há um certo desequilíbrio quando, após nossa conversão, impetuosamente, vamos a todas as nações e esquecemos, ou não damos tanta importância, à prática de evangelizar nos lares, nas famílias, da forma correta. Analisemos:

O Equilíbrio: Proclamar as verdades divinas não é ato de imposição; muito pelo contrário, é desprendido e despretensioso. Ora, que havemos de receber em troca, se o que nos foi generosamente oferecido é a Graça? (Cf. Mateus 10:8). Ora, que havemos de forçar, ou impor, se o que nos foi generosamente oferecido é fruto de genuíno amor? (Cf. Lucas 4:22). Aqui se vê o equilíbrio; e entendemos o poder transformador do Evangelho, manifesto por uma nova vida.

Na fase de dar os primeiros passos, equilíbrio é tudo que a criança procura. Os pais ansiosos incentivam a nova aventura, pois acham tudo gracioso; é uma amostra do desenvolvimento natural dos filhos. Mas, para aquele pequeno ser, os pais são apoio e segurança, o lugar de firmeza. Neles, encontrará um abraço acalentador se, por ventura, vier a queda. Neles, achará o calor do afeto. As mãos de seus pais secarão toda a lágrima. Deles, receberá palavras de motivação. A maestria da paternidade e da maternidade se dá nisso: aprender a lidar com as descobertas dessa nova vida ao transmitir, genuinamente, os princípios ensinados por Cristo, a saber, a firmeza, o afeto, a alegria, a motivação. Família é instituição divina e carece de todos os cuidados, tal como a criança em seus primeiros passos.

A Urgência: Se devemos seguir um modelo bíblico de evangelização dentro do lar, precisamos enfatizar a urgência com que nossos entes queridos devem ingressar no Reino. Não devemos esperar até que surja uma oportunidade melhor, ou que o alvo de nossas investidas esteja maduro o suficiente para entender o plano da salvação. O evangelizar é agora. Apresentar a natureza urgente da salvação não é manipulativo, nem insensível. É a verdade. É o caminho. É a vida. 

O lar pode ser o nosso. Muitas vezes, o campo de trabalho não é o interior do país, nem o exterior, mas a própria casa, isto é, pais, irmãos, filhos, parentes. Jesus disse que o campo é o mundo (Mateus 13:38); ora, o mundo começa à nossa porta. Os crentes primitivos evangelizavam de casa em casa (Mc. 5.19; Atos dos Apóstolos 5:42; 20.20). Muitas grandes igrejas de hoje começaram em casas particulares. O lar foi a primeira instituição divina, e Deus tem em mira a salvação de todos no lar (Gênesis 19:12; Êx 12.3; Josué 6:23-25; Al 11.14; 16.31).  

A alegria: Equilíbrio e urgência trazem seriedade ao tema evangelizar. No entanto, a arte de transmitir as boas-novas é nutrida pela alegria, tendo em vista que as Escrituras usam, de maneira substancial, a linguagem do amor. Deus é amor. Deus nos amou primeiro. Nós amamos a Deus. Tudo gira em torno e por amor. Viver a verdade desse amor por intermédio de um relacionamento restaurado com Deus nos traz grande alegria. Evangelizar é, também, falar de pecado, arrependimento e condenação. É falar de uma graça imerecida. Mas falar do Evangelho com equilíbrio e urgência, sem alegria, traz para nós um ânimo moroso e descontente.

Dicas oportunas para evangelizar dentro do seu lar (e em qualquer lugar):

  1. Ore: O texto bíblico, referência de nosso estudo, enfatiza a frequente e firme vida de oração de Cornélio.
  2. Use a Bíblia: A Bíblia é a palavra de Deus, e sua mensagem deve se sobressair às nossas palavras. Os versículos iniciais apontam para um homem temente a Deus que, por certo, estava em processo de conhecer toda a verdade divina.
  3. Seja claro: Nenhum de nós possui conhecimento completo do Evangelho, mas precisamos expô-lo com clareza. No decorrer do texto bíblico, o apóstolo Pedro apresenta um discurso lógico e coerente para um grupo de pessoas que pouco ou nada sabia a respeito de Cristo. Inicie a evangelização pelo princípio, pelo básico, com simplicidade.
  4. Provoque autorreflexão: Algo marcante da sociedade atual é a defesa de que as pessoas devem chegar à verdade por elas mesmas. Não devemos “mastigar” o Evangelho para os outros. O alimento deve ser digerido por cada um, pois a absorção dos nutrientes é individual. Faça perguntas instigantes. Promova o pensamento crítico. No Evangelho, não há como ter cegueira espiritual.
  5. Use a igreja: Nossa vida é o que confirma nosso testemunho. Proclamar as boas-novas deve incluir nossa maneira de viver e a forma como vivemos na igreja local. Portanto, convide os familiares para visitar a sua congregação.

CONCLUSÃO

Algumas vezes, nossas prioridades ficam totalmente fora de lugar. O fato de sermos obedientes à ordem de Cristo “Ide por todo o mundo (…)”, não nos exime da prática da evangelização em nosso lar (a ordem é relacional). Afinal, é onde tudo começa; é o primeiro contato; são os primeiros passos. Trata-se da exposição da nova vida. Certo é que, nesse espaço, encontram-se grande parte dos desafios – rejeição, apatia, indiferença. O ninho é aconchegante, mas pode ser também desconfortável. Como bons cristãos, devemos exercer a paciência e a perseverança: “A todo aquele que bate, será aberto”. (Mateus 7:8 NVI)

O exemplo de Cornélio ensina o modo simples de viver o Evangelho: dar um bom exemplo, conduzir sua família em amor, reunir os amigos para receber a visita do Rei, manter sua fidelidade diante de um povo descompromissado e alheio ao Reino, ter esperança e estar pronto. Isso é evangelização. Vê-se uma mensagem centrada em Cristo. Um motivo centrado em Cristo, desde o começo da vida, no primeiro contato, nos primeiros passos. Todos os dias. À luz de tudo isso, a evangelização no lar, com a família, deve ser tanto uma disciplina como um ato de devoção e adoração.

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