Assim o Filho do homem até do sábado é Senhor.
Marcos 2:28
Alguns alegam que Jesus é o Senhor do Sábado e usou Sua autoridade para transgredir e abolir a santidade do Sábado, justificando assim Seus milagres e o fato de colher espigas (“trabalhar”) nesse dia. Será tal compreensão correta?
Diríamos de início que, sendo a observância do Sábado um mandamento da Lei de Deus, se Cristo o transgredisse de qualquer maneira, Se tornaria um pecador, e nessa condição não poderia ser o nosso Salvador. No entanto, Cristo permaneceu em completa adoração e obediência ao Deus Pai. Teve uma vida humana impecável, um caráter irrepreensível.
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Jesus declarou-Se Senhor do sábado! É o Autor do sétimo dia, consagrado ao repouso e, nessa qualidade, sabe o que é lícito ou não fazer nele. Os fariseus que censuraram os discípulos por apanharem espigas, foram além dos reclamos divinos, ‘além do que está escrito’. Os fariseus tinham fanatizado a guarda do Sábado. Nas leis deles, era proibido caminhar mais que um quilômetro aos sábados; se uma pessoa deixasse cair um lenço, não poderia juntá-lo por que era Sábado; tinha-se aproximadamente trezentas regras em relação ao dia de guarda. Ao permitir que os discípulos colhessem espigas no Sábado, ao curar as pessoas neste dia, Cristo não estava abolindo o mandamento. Ele estava ensinando-os a guardarem o Sábado do modo correto.
O próprio Jesus disse que “é lícito fazer o bem aos sábados” (Mateus 12:12). Notemos que o Senhor disse “é lícito fazer o bem”, e não “trabalhar”, pois desviaria nossa atenção de Deus. Deus nos deu seis dias da semana para fazermos o que quisermos; Ele exige apenas um dos dias integrais da semana para dedicarmos em comunhão contínua com Ele. Portanto, o simples ato de colher espigas no Sábado não foi um pecado, pois eles não estavam fazendo uma “colheita” (o que as Escrituras não aprovam – ver Êxodo 34:21), mas apenas colhendo para “comer”, assim como se faz ao comer uma “fruta”. Não é pecado apanhar uma fruta para comer no Sábado.
“Os sacerdotes ... violam o sábado” (Mateus 12:5). O raciocínio do Senhor neste passo é muito claro: se seus discípulos estavam profanando o sábado por colherem espigas para comê-las a seguir (o que era perfeitamente legal), então os atos dos sacerdotes ao cumprirem sua função religiosa no templo (e faziam sacrifícios em dobro nesse dia, cf. Números 28:9) seriam também transgressão. Caso, por suas palavras, Cristo estivesse afirmando que os sacerdotes desrespeitavam o mandamento, então realmente se poderia concluir que Deus deu ao povo uma lei ordenando a santificação do sábado, para depois transmitir a Moisés outra lei eclesiástica que resultaria em violação semanal do sábado da primeira.
Broadus, renomado comentarista Batista, tratando desse texto, assim conclui: “Mas o sábado permanece ainda, pois que existia antes de Israel, e era desde a criação um dia designado por Deus para ser santificado (Gên. 2:3).” (Comentário de Mateus, vol. 1, pág. 345)
John D. Davis afirma: “No tempo de Cristo, os fariseus aplicavam a lei do descanso aos atos mais triviais da vida, proibindo muitas obras de necessidade e misericórdia. Acusaram a Jesus por fazer curas em dia de Sábado, ao mesmo tempo em que achavam lícito retirar o boi, o animal, ou a ovelha que tivesse caído dentro de um poço. Também julgavam necessário levar os animais a beber, como em qualquer outro dia da semana, Mateus 12:9-13; Lucas 13:10-17. E não eram somente as curas feitas em dia de Sábado que eles condenavam. Quando os discípulos de Jesus passavam pelas searas e colhiam espigas, e machucando-as nas mãos as comiam, porque tinham fome, os fariseus os censuraram, como se fosse essencialmente o mesmo trabalho de fazer colheitas e moer o trigo. A isto nosso Senhor deu uma notável resposta.” (Dicionário da Bíblia, pág. 520)
O Comentário Bíblico Moody também assevera que “Cristo não estava declarando sua liberdade de violar a lei do sábado, mas antes declarava sua qualificação de interpretar essa lei.”
A Revista de Jovens e Adultos para Escola Dominical, editada pela Convenção Batista Brasileira, relativa ao 4º trimestre de 1938, pág. 15, assim comenta este versículo: “... o ‘Filho do homem é Senhor do sábado (Marcos 2:28)’; isto é... o sábado é o ‘dia do Senhor’, o dia em que Ele é Senhor e pelo Seu senhorio Ele restaura o Seu dia ao seu verdadeiro desígnio.”
“Cristo e os Seus discípulos foram acusados de ‘fazerem o que não é lícito’ no Sábado, mas porque eles tinham violado apenas uma tradição rabínica, Cristo não se importou em contestar a acusação; ela simplesmente equivalia a nada. Não houve nenhuma contestação, pois Cristo não reconhecia a tradição dos anciãos como ‘lícita’. Contudo, Cristo toma isso como uma oportunidade para afirmar que Ele é ‘Senhor até mesmo do Sábado’. Mediante isso Cristo confirmou definitiva e positivamente o Sábado; de outra forma, Cristo estaria proclamando grandiosamente o Seu senhorio sobre algo que não existia. O Sábado não morreu com o advento de Cristo ou Sua obra Messiânica; até o nosso descanso eterno, o Sábado semanal continua a ser ‘dominado’ por Cristo e é um tipo da realidade vindoura. ‘O Sábado foi feito para o homem’ (Marcos 2:27), e o homem ainda precisa se beneficiar disso. A questão do Sábado não apresenta nenhuma contradição para a validade contínua da lei moral de Deus.” (Greg L. Bahnsen, Theonomy in Christian Ethics, p. 226-228)