Texto de Estudo

Pois eis que os que se alongam de ti, perecerão; tu tens destruído todos aqueles que se desviam de ti. Mas para mim, bom é aproximar-me de Deus; pus a minha confiança no Senhor DEUS, para anunciar todas as tuas obras.

Salmos 73:27-28 

O Salmos 73 trata de um assunto bem pertinente aos nossos dias, como também foi importante nos tempos antigos. Ele aborda a forma como o ímpio prospera, especialmente em se tratando de coisas materiais. Tal prosperidade, muitas vezes, acontece de forma imoral, corrupta, violenta, suja etc. Ao mesmo tempo em que os ímpios prosperam pelo lado material, alcançam a falência espiritual. Todavia, o Salmo dirige-nos a Deus como a fonte segura de prosperidade, não material, mas espiritual. Revela o cuidado de Deus para abençoar os justos e a Sua justiça aplicada para punir os ímpios.

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O texto foi composto por Asafe, mas quem foi ele?

Asafe, juntamente de Hemã e Etã, foi nomeado pelo rei Davi como responsável pelos cânticos na casa do Senhor (1 Crônicas 6:31-40). Era levita, filho de Berequias; nomeado como principal cantor quando a Arca foi levada para Jerusalém, e em várias outras ocasiões, quando havia festas nacionais (1 Crônicas 15:17-19; 16.5,7,37; 2 Crônicas 35:15). Ele liderou louvores quando o Templo foi consagrado pelo rei Salomão (2 Crônicas 5:12).

Sua influência musical estendeu-se muito além do serviço do Templo, até o livro de cânticos dos judeus, no qual permaneceu por todos os tempos. Seu nome é encontrado no título de 12 Salmos para indicar que, provavelmente, fazem parte de uma cantata, composta por ele (Salmos 50; 73 a 83). Esses Salmos figuravam entre os cânticos, durante o avivamento, nos tempos do rei Ezequias (2 Crônicas 29:30). Na época do retorno do exílio babilônico, os cantores do Templo eram referidos apenas como “filhos de Asafe” (Esdras 2:42; Neemias 7:44; 11.17; etc.).

Quanto ao gênero literário, boa parte dos comentaristas definem o Salmos 73 como “sapiencial”. Schokel afirma:

Há quem pense ser lamentação, há quem considere cântico de ações de graças; outros, porém, dividem-se entre ato de confiança e profissão de inocência. Mas a descrição que maior lhe cabe é a meditação sapiencial. O caráter sapiencial é patente pela discussão do problema da retribuição, pelo vocabulário, pelo parentesco com páginas de Jó e Eclesiastes. No entanto, o “sapiencial” é adjetivo; o substantivo é a meditação como forma privilegiada de oração.

UMA PROVA DE FÉ!

Vemos, no início do Salmo em estudo, Asafe demonstrar uma fé abalada – “Quanto a mim, porém, quase me resvalaram os pés; pouco faltou para que se desviassem os meus passos” (v.2). Ele observava o contraste entre a prosperidade dos ímpios e a sua vida como servo do Senhor. Vida esta de sofrimento, de lutas, de preocupações, de canseiras etc. Isso gerou, em seu coração, um sentimento de inveja, conforme ele diz: “Pois eu invejava os arrogantes, ao ver a prosperidade dos perversos” (v.3).

Até que ele recupera a paz ao voltar-se para Deus. Após uma autoanálise, o salmista compreende tudo ao redor e diz: “Em só refletir e compreender isso, achei mui pesada tarefa para mim; até que entrei no santuário de Deus e atinei com o fim deles” (vv.16,17). Schokel cita uma frase de Agostinho, referente à situação de Asafe: “No santuário de Deus, dirijo o olhar ao final, ultrapassando o presente”.

Ao aproximar-se de Deus, no santuário, é como se o Senhor tivesse tirado a venda dos olhos de Asafe, para que pudesse ver a real situação dos ímpios e, ao mesmo tempo, perceber que a justiça divina prevalece. “Os olhos do Senhor estão em todo o lugar, contemplando os maus e os bons” (Pv. 15.3).

Charles H. Spurgeon faz uma divisão do Salmo:

Em Salmos 73:1 o salmista declara a sua confiança em Deus, e como quem põe seu pé sobre uma rocha enquanto relata seu conflito interior. Em Salmos 73:2-14, declara sua tentação; depois, em Salmos 73:15-17, sente-se confuso para descobrir como agir, mas, por fim, encontra livramento para o dilema. Descreve com temor a sorte dos ímpios em Salmos 73:18-20, condena sua própria tolice e adora a Graça de Deus, em Sl Salmos 73:21-24. Conclui, renovando sua lealdade a Deus, que ele toma novamente como sendo a porção do seu deleite.

Contextualizando, surge uma pergunta: como continua, nos dias de hoje, esse paradoxo entre o justo e o ímpio? Certamente, a mesma situação vivida por Asafe é uma grande realidade atual. Isso leva muitos crentes a terem os mesmos sentimentos. O pior é que, em muitos casos, alguns cristãos não buscam em Deus a solução e acabam aderindo ao padrão dos ímpios.

Vamos dar um exemplo do que vivemos aqui no Brasil. Existe uma frase muito conhecida: “O jeitinho brasileiro de fazer as coisas”. É uma declaração simples, mas de efeitos práticos bastante catastróficos. Esse tal jeitinho representa toda a maldade do homem na sua forma de pensar e agir. Isso envolve tudo que temos visto atualmente, como a corrupção, a imoralidade, a falta de ética e de amor ao próximo, a cobiça, a prostituição, a mentira, o roubo etc. Tudo isso está impregnado na sociedade e já se tornou cultural. Se não combatermos, entrará com força na Igreja.

Basta observarmos a situação política e entenderemos como Asafe observou em seu tempo. O ímpio continua prosperando e, com certeza, surge no coração de muitos servos de Deus um sentimento de inveja. Pois o justo esforça-se por uma vida íntegra, honesta, paga os impostos em dia, luta constantemente por uma situação melhor, mas parece que nunca acaba o seu sofrimento. O corrupto, entretanto, prospera e não é punido.

O apóstolo Paulo expressa muito bem essa questão, em Gálatas, capítulo 5, ao falar sobre as obras da carne e o fruto do Espírito. Destacamos, aqui, os três últimos versículos: “E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito. Não nos deixemos possuir de vanglória, provocando uns aos outros, tendo inveja uns dos outros” (Gálatas 5:24-26).

Andando com Deus, e mantendo essa comunhão com Ele, vamos entender como Asafe entendeu, isto é, Ele sempre será a nossa rocha segura. Ainda que o ímpio prospere, isso é por um breve tempo, porque o Senhor fará com que pereçam enquanto que o justo, ainda que ande por um deserto, sabe que Deus cuida de cada detalhe em sua vida. “Com efeito, Deus é bom para com Israel, para com os de coração limpo” (Salmos 73:1).

A vida cristã é uma prova de fé. Deus está no controle de tudo, e a Sua justiça prevalecerá sempre, tanto para abençoar o justo, como para punir o ímpio!

ENTRE O SANTUÁRIO E O CALVÁRIO!

O fato de Asafe ter sido um levita, responsável pelos serviços na casa do Senhor e especialmente pelos cânticos de adoração a Deus (1 Crônicas 6:31-40), não fez dele um super-homem, isento às dificuldades humanas. Aliás, a Bíblia deixa claro que, mesmo aqueles personagens que tiveram destaque entre os “chamados de Deus”, apresentaram fraquezas.

Quando usamos a expressão “entre o santuário e o calvário”, referimo-nos a uma vida cristã, muitas vezes bem perto de Deus “no santuário”, especialmente quando está tudo bem. Já nos momentos de adversidade, ao que definimos como “no calvário”, sentimo-nos como Habacuque: “Tu és tão puro de olhos que não podes ver o mal, e a opressão não podes contemplar; por que, pois, toleras os que procedem perfidamente e te calas quando o perverso devora aquele que é mais justo do que ele?” (Habacuque 1:13).

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Então, podemos comentar a situação de Asafe desta maneira: um momento de crise espiritual, por ver que, por algum tempo, os perversos não sofriam punições pelos erros e deboches contra Deus. Ele e outros agiam com pureza de coração (v.1), mas não recebiam alívio ou alento diante da difícil rotina de vida de alguém que vive ou deseja viver de forma justa e digna.

Wiersbe, citando a francesa madame Guyon, escreve:

No início da vida espiritual, nossa tarefa mais difícil é o relacionamento com o próximo; à medida que esta progride, a maior dificuldade torna-se o relacionamento conosco mesmos; por fim, nosso maior desafio é nos relacionarmos com Deus.

Ele acrescenta: Os problemas de Asafe são com Deus, pois sabia que o Senhor ao qual prestava culto era bom (v.1), que Deus tinha uma aliança com Israel, comprometendo-Se com promessas de bênçãos enquanto o povo obedecesse. Porém, foram justamente tais crenças fundamentais, afirmadas por Asafe, que deram origem a seu problema, uma vez que os incrédulos não enfrentam dificuldades desse tipo. Se o Senhor era bom e cumpria as promessas feitas na aliança, então por que o povo sofria, e os perversos prosperavam?

Jesus é o nosso maior referencial de quem esteve “entre o santuário e o calvário”, mas nunca duvidou, tampouco desistiu de cumprir Sua missão. Certa ocasião, quando estava próximo o Seu calvário, Ele disse:

Eis que vem a hora, e já é chegada, em que sereis dispersos, cada um para sua casa, e me deixareis só; contudo, não estou só, porque o Pai está comigo. Estas cousas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. (João 16:32-33)

Muito melhor do que as nossas palavras são as de Cristo para definir as crises. Vejam que Ele estava entre o “santuário” e o “calvário”, mas tinha uma certeza: “Meu Pai jamais me abandonará”. As aflições fazem parte deste mundo; contudo, a aflição ou a prova mais difícil, Cristo venceu em nosso lugar. Portanto, a proximidade com Deus será a única maneira de vivermos em paz e na dependência d’Ele. Entre o santuário e o calvário, existe um Deus “Todo Poderoso” que cuida de cada detalhe. Aquiete o coração e descanse no Senhor!

PLENA CONFIANÇA EM DEUS!

Não poderíamos deixar de destacar, neste último bloco, toda a confiança que Asafe deposita em Deus. Eis o que ele afirma: Deus é bom para com Israel e para com os de coração limpo (v.1). Deus é a sua segurança (v. 23). Deus é o seu guia (v. 24). Deus é o seu único prazer (v. 25). Deus é a sua fortaleza e a sua herança (v. 26). Deus é o seu refúgio (v. 28). O salmista, dessa forma, querer exaltar toda a bondade, glória e majestade de Deus e descreve aquilo que havia experimentado, mostrando a sua fraqueza como ser humano. Contudo, deixa muito claro que, aproximando-se de Deus (v. 16 e 17), conseguiu entender tudo que lhe tirava a paz. Descobriu, por fim, o quanto Deus é fiel e justo, o tempo todo.

Moody faz um comentário, baseando-se na experiência do salmista:

Todavia, estou sempre contigo” (v. 23) – Agora o escritor encontrou vitória completa sobre suas dúvidas. Sua loucura é coisa do passado, porque Deus é o seu guia e a sua força. [...]. Contudo, o salmista enfatiza o senso da proximidade divina ao experimentá-la em suas circunstâncias presentes.

Wiersbe também comenta que, “Quando o culto terminou, e Asafe voltou a plantar os pés firmemente em sua fé, saiu do santuário e contou a todos o que havia aprendido. Havia se achegado a Deus, confiava n’Ele e estava pronto a declarar as obras do Senhor”.

Schokel faz uma analogia do Salmos 73 com Eclesiastes, no qual o autor encontra resposta para o problema pessoal na contemplação do Senhor. O autor esforçou-se para encontrar uma saída por meio da indagação e reflexão: “eu meditava para entender”, e ele fracassou. Porém, era necessária essa derrota para que se abrisse à nova visão, não conquistada, mas recebida como dom. A busca foi a oração; não menos que o estudo. Quando, na oração, o homem declara-se vencido, Deus desvenda-lhe os olhos.

O Salmos 37 é bem semelhante ao 73, embora tenham autores diferentes. Podemos destacar as palavras de Davi, no texto 37, no que diz respeito à confiança, e aplicá-las ao Salmos 73. Depois de Davi dizer para os justos não terem indignação por causa dos malfeitores e não alimentarem inveja, ele acrescenta: “Confia no Senhor e faze o bem; habita na Terra e alimenta-te da verdade. Agrada-te do Senhor, e Ele satisfará os desejos do teu coração. Entrega o teu caminho ao Senhor, confia n’Ele. E o mais, Ele fará” (Salmos 37:3-5).

Melhor do que as nossas definições, há a Bíblia que explica todas as coisas. Ela contém as promessas de Deus aos justos, do início ao fim. E Ele é totalmente imutável em Suas promessas; é 100% fiel, o tempo todo. A confiança no Senhor é algo imprescindível à vida do cristão. Isso envolve toda a nossa fé! O Salmos 125 afirma: “Os que confiam no Senhor são como o Monte Sião, que não se abala, firme para sempre” (Salmos 125:1).

Como está a sua confiança em Deus, diante de um dilema parecido com o de Asafe? Onde os injustos prosperam; e os justos, sofrem?

Lembre: quando o seu coração estiver a ponto de questionar ou murmurar, clame a Deus, busque-O, entrega tudo a Ele. E tudo mais Deus fará. Aliás, já está fazendo. Lembre-se também de que a sua maior riqueza foi dada por Deus, e ela não está aqui, mas no céu. Os corruptos e os ladrões podem tirar as suas riquezas materiais, mas jamais poderão tocar na riqueza conquistada por Jesus, na cruz do Calvário.

CONCLUSÃO

Após o conflito de Asafe, foi uma busca por Deus que mudou a sua maneira de pensar e agir. Asafe foi consolado e fortalecido pelo próprio Deus. E teve a sua alegria e confiança restauradas; o resultado foi um desejo ardente, em seu coração, de proclamar os feitos extraordinários de Deus (v. 28). Essa mesma missão o Senhor confiou, exclusivamente, à Igreja: anunciar o Evangelho de Jesus Cristo.

Eu e você somos a Igreja; andamos com Deus, cheios do Espírito Santo. Faremos visível a Sua justiça no mundo. Somente quando temos intimidade com o Senhor podemos ter ânimo, convicção e força para proclamarmos os Seus feitos. Que Deus nos abençoe!

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