Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei pela salvação da sua face.
“Por que te abates, ó minha alma E te comoves perdendo a calma? Não tenhas medo; em Deus espera, porque bem cedo Jesus virá” .
Acredito que apenas por esse trecho citado muitos já identificam o hino “Alma Abatida”, escrito por Paulo Leivas Macalão. Em nosso hinário, é o de número 62, encontrado nos Salmos 42 e 43.
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Com certeza, inúmeras pessoas apreciam essa canção. E por que gostamos tanto? Ela fala de anseios muito presentes em nossa vida, assim como da espera ante as nossas súplicas a Deus, da confiança que o cristão deve ter no Senhor e em Suas promessas, mesmo que aparentemente Ele demore a responder. O hino fala da intercessão de Jesus por nós; e a parte mais importante da letra é a que aponta a vinda de nosso Salvador, quando todas as nossas dores serão findas. Louvado seja Deus! O que é mais maravilhoso é saber que se trata de um texto da Palavra de Deus.
O objetivo da lição de hoje é mergulharmos nesses Salmos que falam tão profundamente ao coração. Vamos descobrir quem os escrevera, por que e quando. Mas, acima de tudo, buscaremos absorver a mensagem de Deus para nós.
CONHECENDO MAIS SOBRE OS Salmos 42 E 43
Muitos estudiosos concordam que, originalmente, os Salmos 42 e 43 formavam um único; Champlim diz: “Em muitos manuscritos hebraicos, os Salmos 42 e 43 são um único Salmo e deveriam ser tratados com unidade. Certas repetições assinalam a união íntima que havia entre eles (Cf 42.9 a 43.2 e 42.5 a 43.5)”.
Quanto à estrutura, é marcada pela tríplice repetição do estribilho. Observaram-na todos os pesquisadores e, antes deles, qualquer leitor com sensibilidade poética ou conhecimentos elementares de retórica. Escreveu Luiz Alonso Schokel:
Os Salmos 42 e 43 são dois poemas tão intimamente ligados em conteúdo e estilo que desafiam a separação. A ocorrência do mesmo refrão, em 42:5, 42:11 e 43:5, o fato de o Salmos 43 ser sem título, e a forma interna dos dois; tudo indica uma só composição original.
Sua autoria é atribuída aos filhos de Corá, porém não é possível provar a informação. Corá era neto de Coate e foi morto por se rebelar contra o Senhor (Números 16). Porém, seus filhos escaparam do julgamento (Números 16:11) e tornaram-se líderes da adoração no santuário (1 Crônicas 9:19ss; 26:1-19). Seus nomes também aparecem nos sobrescritos dos Salmos 44 a 49, 84, 87 e 88, porém não há uma indicação de que tenham sido eles a compor tais textos. O que podemos afirmar é que eram líderes de adoração e, provavelmente, que os cantavam nos cultos.
Alguns estudiosos associam esses Salmos à revolta de Absalão, mas a localização geográfica dos pontos citados em 42:6 parece situá-los muito ao norte, uma vez que Davi acampou em Maanaim, do outro lado do Jordão. Fica claro que o autor era um levita, exilado no meio dos gentios (43:1), que o oprimiam e questionavam sua fé (42:3,10; 43:2). Tratava-se de um líder espiritual que conduzira grupos de peregrinos a Jerusalém para as festas prescritas (84:7; Êx 23:14-17; 34:18-26; Deuteronômio 1 6:1-1 7). Era tempo de fazer essa jornada novamente, mas ele não podia ir por algum motivo; seu coração estava entristecido por sentir que o Senhor havia se esquecido dele (42:9; 43:2).
O CONTEXTO
Oscilando entre a fé e o desespero em seu conflito com o Senhor, o salmista questiona-O e pergunta-se por que Deus não faz algo por ele. Analisando o Salmo, podemos vê-lo passar por dois estágios, antes de conquistar a vitória e a paz.
O anseio por Deus (v.v. 1-5).
O Senhor revela-Se das mais variadas formas para aqueles que têm desejo constante por Ele. O salmista observava uma corça, esforçando-se para chegar às fontes das águas para saciar a sede. A imagem o fez lembrar de que ansiava pelo Senhor e desejava participar da peregrinação para Jerusalém. O Deus vivo era o Deus da sua vida, e ele não poderia viver sem o Senhor.
É interessante observar os elementos mais essenciais da vida física que o salmista cita: ar (suspira), água (v. 2), e alimento (v. 3). Porém, sem adoração (v. 4), a vida não fazia sentido. A fome e a sede são imagens usadas com frequência para a busca de comunhão com Deus e a satisfação que ela traz (Salmos 36:8 9; 63:1; Mateus 5:6; João 4:10-14; 7:37-39; Apocalipse 21:6; 22:1 7). Dia e noite (vv. 3, 8), ele sentia a dor causada pela separação do santuário divino. Para piorar a situação, sofria pela zombaria constante das pessoas ao redor. Alimentava-se da tristeza e de suas lágrimas. Seu choro era tão frequente quanto, em outros tempos, haviam sido as refeições. Era comum os gentios idólatras perguntarem ao povo de Israel: "O teu Deus, onde está?" (vv. 3, 10; 79:10; 115:2; Joel 2:17; Miquéias 7:10; ver Mateus 27:43). No entanto, a pergunta indica que o escritor, provavelmente, era um homem consagrado ao Senhor e que não se envergonhava de sua fé; pois, de outro modo, quem o importunava não o teria interrogado.
Diante dessas lutas, ele derrama o coração em oração, perante Deus, suplicando para que possa voltar a Jerusalém. No versículo 5, vemos que confronta a si mesmo a não ficar abatido, mas a esperar no Senhor. A repetição dessa confrontação, nos versículos 11 e em 43:5, demonstra que o salmista oscilava muito em sua vida. Suas esperanças haviam sido despedaçadas; e as orações não foram respondidas. Os inimigos expressavam- se livremente, e ele não conseguia lidar com os sentimentos. Entretanto, Deus ainda estava assentado em Seu trono; Sua presença mantinha-Se com ele, e ainda teria a alegria de adorar ao Senhor em Jerusalém.
A lembrança de Deus (v.v. 6-11)
Da falta de água, o salmista passa a descrever uma tempestade e sente como se estivesse se afogando em sua tristeza e dor (vv. 6-7). A nascente do rio Jordão localiza-se na cadeia de montanhas do Hermom; e as chuvas, bem como a água do degelo, transformam os arroios em cascatas ("catadupas") e em torrentes perigosas, uma imagem de sofrimento intenso (Salmos 69:1 Salmos 2; Salmos 88:7; Jonas 2:4).
O termo Mizar significa "pequenez" e, sem dúvida, o autor sentia-se extremamente pequeno em meio à tempestade. Porém, tomou a decisão sábia de se lembrar de Deus; e, não, dos "bons tempos" do passado (v. 6). As cascatas, torrentes e ondas pertenciam a Deus, e o salmista não precisava temer coisa alguma. Isso nos lembra a noite em que Jesus andou sobre as águas e assustou os discípulos, mesmo estando inteiramente no controle da situação (Mateus 14:22-33). Deus estava no controle, o Sol nasceria para um novo dia, e a situação mudaria. Assim como a experiência de Davi com uma tempestade relatada no Salmos 29 ao ver Deus em Seu trono, podemos antever a glória e a paz depois da tempestade. Os cristãos recordam como as ondas da ira divina cobriram Jesus na cruz quando Ele passou por Seu "batismo" no Calvário (Mateus 20:22; Lucas 12:50). Enquanto esperamos o novo dia raiar, Deus pode nos dar "canções de louvor durante a noite" (Salmos 77:4-6; João 35:10; Mateus 26:30; Atos dos Apóstolos 16:25).
No versículo 8, o salmista usa a designação Yawéh (Senhor) em lugar de Eloim. Yawéh é o Deus da aliança; o Deus fiel que se preocupa com Seu povo. Ele derrama Sua bondade sobre o povo e lhe concede as promessas. O povo apropria-se quando ora; Deus ouve as pessoas quando O louvam e O adoram. O autor não precisava ir a Jerusalém para adorar; podia fazê-lo exatamente onde estava! A Mão de Deus mantinha-se com ele durante o dia, e o cântico do Senhor acompanhava-o durante as longas horas da noite. Era possível que tudo estivesse mudando, mas o Senhor ainda era sua Rocha estável, forte e inabalável (Salmos 18:2 Salmos 31 Salmos 46; Êxodo 33:22; Deuteronômio 32:4; 1 Samuel 2:2).
LIÇÕES PRÁTICAS
Sede de Deus
Imagine você estar em um culto de oração e, de repente, alguém começa a orar, declarando todo o seu desejo de ter mais de Deus, de sentir a presença poderosa do Senhor. Acredito que muitos achariam estranho e talvez até chamassem tal pessoa de fanática. Em um tempo em que as orações estão focadas na bênção; e, não, em seu autor, esse Salmo destaca a importância de se buscar a face de Deus, não apenas Suas mãos. Perceba as expressões: “assim suspira a minha alma por ti, ó Deus, a minha alma tem sede de Deus”. Eis as expressões que Deus espera ouvir de Seus filhos; Ele não quer as expressões de nosso tempo, em que vigoram os pedidos de bênçãos no lugar de Sua presença
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Sinceridade com Deus
Com certeza estranharíamos se ouvíssemos uma oração tão sincera como fez o salmista; talvez achássemos que estivesse em pecado e, por isso, Deus não estaria ouvindo suas orações. Pode ser que a sua sinceridade e os lamentos mais íntimos não devam ser manifestados em uma oração pública, mas o fato é que, se quisermos experimentar a paz e o renovo divinos, precisamos parar de fazer orações superficiais em nossos momentos a sós com Deus. Precisamos dizer exatamente o que está em nosso coração.
O salmista manifesta, perante Deus, todo o anseio do coração, a falta de estar na presença de Deus, o conflito de sua alma... Parte dele confiava nas promessas de Deus, porém outra parte estava angustiada e aflita com o aparente silêncio de Seu Criador. É isso que Deus espera de Seus filhos. Vivemos um tempo de aparência e não queremos admitir que necessitamos de ajuda. Não reconhecemos nossas fraquezas e pecados e queremos mostrar a todos que conseguimos viver muito bem. Agimos dessa forma perante a igreja, perante a família e, quando estamos a sós com Deus, falamos com Ele como se não soubesse o que há dentro de nosso coração. Vivemos carregando culpas, medos e frustrações que poderiam, diariamente, ser depositados aos pés do Senhor.
Esse Salmo é um desafio para que sejamos completamente sinceros em nossos momentos de oração; só assim trocaremos o fardo pesado pelo jugo suave que Jesus tem para nós (Mateus 11:28).
Desejo e alegria de servir a Deus
Um detalhe que costuma passar despercebido ao se analisar este texto está registrado no verso 4, quando o salmista diz que guiava os peregrinos em direção à casa de Deus: “Pois eu costumava ir com a multidão, conduzindo a procissão” (NVI, grifo nosso). Ele era uma espécie de guia a quem desejava chegar a Jerusalém. Assim nós também devemos ser orientadores dos peregrinos que desejam chegar à Jerusalém celestial. Nesse mesmo versículo, fala-se da alegria em ir à casa de Deus: “Fui com eles à casa de Deus, com voz de alegria e louvor, com a multidão que festejava”. Aqui se ensinam duas lições: 1) A Obra do Senhor deve ser feita com alegria, não podendo haver murmurações e reclamações; 2) Ir à casa de Deus deve ser motivo de celebração; não, um fardo.
O perigo de alimentar-se com tristezas e com o passado
A alegria descrita no verso 4 era apenas uma lembrança; angustiado como o salmista encontrava-se, alimentava-se com suas lágrimas, de dia e de noite. As lembranças tanto podem ser um remédio abençoado ao coração perturbado, como pode serem capazes de abrir novas feridas e manter a dor continuamente viva. Essa segunda constatação tem sido o problema de muitas pessoas que se alimentam das tristezas ao invés das promessas de Deus. Nós queremos que todos vejam o quanto estamos sofrendo ou o quanto já sofremos por vários motivos; e, assim, descascamos as feridas e não buscamos a sua cura definitiva. É preciso perdoar, pedir perdão, deixar o que nos entristece para trás e trazer à memória aquilo que nos dá esperança (Lamentações 3:21)
No verso 4, o salmista diz: “Quando penso no passado, sinto dor no coração” (NTLH). Muitas vezes, o passado só nos traz más lembranças e dor, exatamente como ele o sentiu. Porém, no verso 6, declara-se: “A minha alma está profundamente triste; por isso de ti me lembro” (NVI). Ou seja, pensar em Deus traz esperança e alegria ao coração. No verso 5, ele diz: “Por que você está assim tão triste, ó minha alma? Por que está assim tão perturbada dentro de mim? Ponha a sua esperança em Deus! Pois ainda O louvarei; Ele é o meu Salvador” (NVI). Quando a dor e o sofrimento do passado quiserem sufocá-lo, lembre-se de Deus e de Suas ricas promessas. Elas nunca falham.
Onde está o teu Deus?
No Velho Testamento, as pessoas acreditavam que a presença de Deus estava ligada a um lugar. Ao lermos esses Salmos, temos a impressão de que o salmista acreditava que só sentiria a Sua presença em Jerusalém, no templo. Sabemos que Deus não está preso por quatro paredes, ou qualquer outra coisa; Ele é onipresente (está em todo lugar). Porém, ainda em nosso tempo, muitas pessoas acreditam que Ele esteja em um lugar específico, ou até mesmo em símbolos e amuletos; essa é uma teologia distorcida e enganosa, pois “Deus é Espírito, e importa que os que O adoram O adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). E ainda: “O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens” (Atos dos Apóstolos 17:24).
Como já dissemos, nosso escritor em questão, provavelmente, era um homem consagrado ao Senhor e que não se envergonhava de sua fé, pois, de outro modo, todos que o importunavam não o teriam interrogado. Ele estava sendo questionado por seus adversários. Como um Deus tão grande e amoroso, como provavelmente o salmista O descrevera para as pessoas, poderia tê-lo abandonado? Testemunhar sobre Deus quando tudo vai bem, e Ele responde rapidamente nossas orações, é fácil; contudo, permanecer firme nos caminhos do Senhor, mesmo quando Ele aparentemente demora, nem sempre é fácil... Além da própria luta interior, nesse caso, também surgirão pessoas questionando nossa fé, como fizeram com o salmista.
A nossa corrida da fé, descrita em Hebreus 12 não ocorre pela velocidade; e, sim, por resistência, pois haverá momentos em que Deus permanecerá em silêncio, assim como um professor quando seus alunos fazem a prova. Nesses momentos devemos nos alimentar ainda mais com a Palavra, pois as promessas contidas nas Santas Escrituras nos darão força e sabedoria para continuarmos testemunhando sobre Deus.
O DESFECHO DO Salmos 42 NO Salmos 43
Como já apresentamos aqui, os Salmos 42 e 43, originalmente, formavam um único poema; os cinco versículos do Salmos 43 complementam a oração, o lamento e as esperanças descritas no 42.
No texto 43, o salmista expressa sua confiança em Deus. O Senhor conduziu Israel, do Egito até a Terra Prometida, com uma coluna de nuvem durante o dia e uma de fogo à noite. Da mesma forma, sua luz e sua verdade (fidelidade) iria levá-lo de volta a Jerusalém. O exilado inocente seria justificado diante de seus acusadores e salvo daquela nação ímpia. Somente o Senhor era sua força, a Rocha da salvação (42:9); logo, seu desespero seria substituído pela alegria.
Ao confiar no Senhor, o povo de Deus deve lembrar que sua bondade e misericórdia sempre os seguirão (23:6) e que sua luz e verdade irão os conduzir (43:3; ver 27:1; 26:3; 30:9; 40:10). O "santo monte" de Deus é o Monte Sião, onde ficava o santuário, o lugar onde Ele habitava. Porém, o salmista não exulta, simplesmente, em ser libertado dos inimigos e em voltar à terra natal, mas também no privilégio de visitar o altar de Deus, em Lhe oferecer sacrifícios e em louvá-lO. Fez um grande progresso desde que observou a corça em busca de água. O "Deus vivo" (42:2) tornou-se o "Deus da minha vida" (42:8), e "Deus que é a minha grande alegria" (43:4). Sua atenção não está mais voltada para si mesmo, para suas decepções ou circunstâncias; mas, sim, ao Senhor seu Deus, e isso faz toda a diferença. Na oração "Espera em Deus, pois ainda O louvarei a Ele, meu auxílio, e Deus meu", o termo "auxílio" pode ser traduzido por "saúde". Quando, pela fé, vemos o rosto de Deus resplandecer sobre nós (Números 6:22-27), nosso semblante ilumina-se e torna-se espiritualmente saudável. Sabemos que Deus é por nós, que nos libertara e que nos conduzirá à Sua cidade santa, onde o adoraremos e cantaremos louvores a Ele. "Ao anoitecer, pode vir o choro, mas a alegria vem pela manhã" (Salmos 30:5).
CONCLUSÃO
Vamos recapitular as lições práticas que aprendemos com este Salmo:
- Devemos ter sede de Deus, não pelas coisas que Ele pode fazer, mas sede da Sua presença.
- Sejamos sinceros na presença do Senhor.
- Tenhamos alegria em participar da obra do Senhor.
- Tomemos cuidado com as lembranças más do passado.
- Demonstremos, mesmo em meio às lutas, que continuamos confiando em Deus.
Este estudo finaliza com uma pergunta: Deus está buscando pessoas que anelam por Sua presença; você é uma delas?
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