O homem como parte da criação tem responsabilidade de obedecer às ordenanças embutidas na estrutura da criação. Três ordenanças, inerentes nas disposições criacionais de Deus, merecem atenção particular. São elas: o Sábado, o casamento e o trabalho. Cada uma destas três ordenanças da criação permanece como princípio inviolável, inerente à estrutura do mundo como Deus o tem ordenado.

A instituição do Sábado tem suas raízes no modelo da atividade criadora de Deus. Seguindo a ordem de seis e um no ato de fazer o mundo, Deus estabeleceu um padrão estrutural para a sua criação.

A significação do princípio do Sábado para a ordenança da criação aparece não somente no modelo de seis dias de atividade criadora seguidos de um dia de descanso. Aparece também explicitamente na afirmação de que Deus “abençoou o dia sétimo e o santificou” (Gênesis 2:3).

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Quando as Escrituras registram que Deus “abençoou” o dia de Sábado em conjunção com a Sua atividade criadora, obviamente não pode significar que Deus falou inexpressivamente em um vácuo. Sua bênção dada a este dia tem efeito significativo com relação ao mundo. Além disto, a referência ao fato de Deus abençoar o dia não deve ser interpretada como significando que Deus abençoou o dia com respeito a Si mesmo. Foi com respeito à Sua criação, e em particular com respeito ao homem que Deus abençoou o dia de Sábado. Como Jesus incisivamente indicou, “o Sábado foi feito por causa do homem” (Marcos 2:27). Deus criou o Sábado porque ele era para o bem do homem e de toda a criação.

Nem o antinominianismo nem o dispensacionalismo podem remover a obrigação de o cristão observar, hoje, a ordenança do Sábado surgida na criação. A ausência de qualquer mandamento explícito concernente à observância do Sábado antes de Moisés não relega o princípio do Sábado à legislação temporária da época-lei. O caráter criacional da bênção sabática de Deus deve ser lembrado. A partir bem do início, Deus conferiu uma bênção distintiva ao Sábado.

O quarto mandamento do Decálogo apela ao caráter relacionado à criação da estrutura do Sábado como a base de seus requisitos particulares. Por causa do modelo trabalho e descanso de Deus na criação, o homem deve “lembrar-se do dia de sábado para o santificar” (Êxodo 20:8 11). Mesmo os animais do campo devem participar desse descanso (v. 10), indicando a intenção de Deus de abençoar toda a criação por meio dessa instituição.

Deus abençoou o homem por meio do Sábado, livrando-o da servidão de trabalhar. Pela graça de Deus, o abastecimento para sete dias de sustento viria apenas de seis dias de trabalho. Deus graciosamente deu descanso do trabalho 52 dias por ano, ou seja um mês e meio em 12. Assim como Deus escolheu descansar do seu trabalho no sétimo dia, assim também deve o homem escolher descansar do seu. Neste dia, o Senhor descansou de todos os Seus trabalhos da criação e “tomou alento” nele. (Êxodo 31:17). Da mesma forma, o povo de Deus deve “tomar alento” em associação com esse dia (Êxodo 23:12).

A santificação do Sábado indica que o Senhor da criação estabeleceu o modelo pelo qual Ele deve ser honrado como Criador. É certamente apropriado que se separe tempo para o culto a Deus. Mediante a santificação do Sábado, Deus indicou que espera que os homens apresentem regularmente a si mesmos, bem como os frutos do seu trabalho, para serem consagrados diante dEle. [...] 

Falar da “abolição” do Sábado sob a nova aliança não envolve meramente a negação da contínua significação do decálogo mosaico. Envolve uma ruptura das próprias ordens da criação, da história e da consumação, tais como se acham reveladas nas Escrituras. Ao invés de negar o papel do Sábado na redenção, o participante da nova aliança deve regozijar-se nos privilégios associados com a ordenança sabática final de Deus. [...]

O princípio do Sábado sob a velha aliança foi apropriadamente associado com a redenção, tanto quanto com a criação. O caráter de um Sábado do sétimo dia direcionado para a frente antecipou o dia da restauração consumada na redenção. Ainda mais explicitamente, a segunda doação da lei entrelaça o Sábado com a redenção. A única modificação mais significante do decálogo em Deuteronômio 5 relaciona-se à razão dada para a guarda do Sábado:

 Porque te lembrarás de que foste servo na terra do Egito, e de que o Senhor teu Deus te tirou dali com mão poderosa e com braço estendido; pelo que o Senhor teu Deus te ordenou que guardasses o dia de Sábado.     

Deuteronômio 5:12

 Agora, a razão para a guarda do Sábado relaciona-se não somente com a criação, mas também com a redenção. Porque Deus deu descanso pela redenção, Israel deve observar o Sábado. As duas razões alternativas para guardar o Sábado enfocam os dois grandes pivôs do tratamento histórico de Deus com o seu povo. Estes dois eventos têm igual significação. A criação dá origem a um povo de Deus. A redenção cria de novo um povo para Deus. Em cada caso, o Sábado desempenha papel vital. [...]

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Por causa da sua posição na substância dos “Dez Mandamentos”, o Sábado semanal conserva seu caráter obrigatório sobre o recipiendário da nova aliança de tal maneira que não se aplica ao ano sabático ou ao ano do jubileu. [...] As “dez palavras” derivam seu poder obrigatório do fato de refletirem a natureza do próprio Deus. Como a essência central da fase mosaica da aliança da redenção, os “Dez Mandamentos” retêm um caráter tão obrigatório com relação ao crente da nova aliança como o princípio da fé que formava a essência central da fase abraâmica da aliança da redenção.

Na consumação, o povo de Deus entrará completamente no descanso que não terá interrupção. “Ainda há” um descanso para o povo de Deus. Quando ele entrar no estado de ressurreição com Cristo, conhecerá o Sábado da consumação da nova criação (cf. Hebreus 4:9-10).

Em resumo, o princípio sabático da ordenança da criação manifesta-se em- uma variedade de maneiras através das Escrituras. Tanto nos modelos repetitivos da experiência de culto quanto nos modelos de consumação da história, a ordenança do Sábado desempenha papel determinante. Esta ordenação afeta claramente a estrutura da história. Tendo sido abençoado por Deus na criação, o Sábado consuma os propósitos de Deus na redenção.


Extraído de: O. Palmer Robertson, "O Cristo dos Pactos". 2 ed. São Paulo: Cultura Cristã, p. 62-63, 65-67, 2018.


Nota: O autor do livro entende que, na Nova Aliança, os requisitos bíblicos da guarda do Sábado são transferidos para o primeiro dia da semana, devido à ressurreição de Cristo. Contudo, respeitosamente, discordamos do autor nesse aspecto doutrinário. Confira "Declaração de Fé: Sábado Sagrado"

 

Texto sugerido por Fabricio Lovato

 

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