Uma foto que era motivo de comemoração acabou se espalhando pela internet e gerando polêmicas intensas. Isac Santos, pastor evangélico brasileiro, celebrava o fato de 38 indígenas da tribo dos Xavantes, incluindo o cacique, terem aceitado a Cristo e recebido o batismo, no estado do Mato Grosso.

O missionário acabou recebendo diversos insultos e mesmo ameaças de morte. Sua atividade foi interpretada como uma tentativa de “colonialismo”. Ele foi acusado de impor uma cultura “branca” e destruir as tradições indígenas. Antropólogos consideraram a atitude do pastor invasiva, um verdadeiro “absurdo” mudar crenças de centenas de anos. A partir disso, gostaria de fazer algumas considerações sobre a repercussão do caso.

Em primeiro lugar, os índios não foram forçados ao batismo. Foram batizados apenas aqueles que por livre e espontânea vontade colocaram sua fé em Jesus Cristo. Há um preconceito velado no argumento repetidamente apresentado de que eles sofreram “lavagem cerebral” porque eram ignorantes demais para avaliarem o que estavam ouvindo. Na verdade, a mensagem cristã é simples. Tão simples que mesmo uma criança pode entendê-la. Somos todos pecadores, pois quebramos as leis de Deus. Merecemos o castigo por causa disso. O próprio Deus então se fez homem na pessoa de Jesus. Jesus morreu na cruz, levando sobre si o nosso castigo, e ressuscitou dos mortos ao terceiro dia. Tendo fé nele, podemos estar em paz com Deus e ter esperança de morar com Ele para sempre no céu. [1]

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O pastor também esclareceu que não houve qualquer tentativa de “aculturação” por sua parte. Na verdade, a tribo já estava imersa nos costumes do “homem branco”. Conforme ele próprio explicou à BBC: “Eles eram convertidos ao cristianismo. Ao contrário do que os ignorantes pensam, na aldeia deles possui energia e televisão. Além disso, os indígenas daquela região têm conta no banco, título de eleitor, Bolsa Família, falam português e fazem faculdade. Eles não ficam dançando ao redor do fogo o dia todo.” [2]

Muitas críticas questionaram a sinceridade e compararam a ação do missionário às “atrocidades”, “escravidão”, “imposição” e “destruição” realizadas pela Igreja Católica. Apesar de muitos “cristãos” não terem se portado da forma mais cristã com os indígenas e outros povos ao longo da história, devemos entender que mesmo a Igreja Católica, de forma oficial, jamais sancionou tais procedimentos.

A bula papal Sublimus Dei, promulgada em 2 de junho de 1537 pelo papa Paulo III, afirmava que

...determinamos, e declaramos, que os ditos índios, e todas as mais gentes que daqui em diante vierem à notícia dos Cristãos, ainda que estejam fora da fé de Cristo, não estão privados, nem devem sê-lo, de sua liberdade, nem do domínio de seus bens, e que não devem ser reduzidos à servidão. Declarando que os ditos índios, e as demais gentes hão de ser atraídas, e convidadas à dita fé de Cristo, com a pregação da palavra divina, e com o exemplo de boa vida.” [3]

Urbano VIII, em carta datada de 22 de abril de 1639 ao procurador da Câmara Apostólica de Portugal, condenou todos aqueles que ousam ou intentam “reduzir à escravidão os indígenas ocidentais ou meridionais, vendê-los, comprá-los, trocá-los ou doá-los, separá-los das esposas e filhos, retirar-lhes os bens, transportá-los de um lugar para outro, privá-los por qualquer meio da liberdade, mantê-los escravos, favorecer os que praticam tudo isso através do conselho, ajuda e obra atuada sob qualquer pretexto ou nome, ou também afirmar e pregar que tudo isso é lícito, ou cooperar de qualquer outro modo no que foi dito.

Algumas missões cristãs, mesmo de orientação protestante, agiram com irresponsabilidade ao longo da história. Muitos pensaram que pregar a mensagem cristã era levar os costumes e a cultura europeia - como se Jesus tivesse sido europeu! Porém, muitos missionários entenderam também que questões relativas a idioma, vestuário, alimentação, estilos e instrumentos musicais etc., são aspectos que variam geográfica e temporalmente, não estando ligados aos princípios morais da religião cristã.

É possível ser cristão e preservar as tradições e costumes de um povo. Foi exatamente o que Hudson Taylor fez ao pregar o Evangelho na China. Taylor (1832-1905) possuía profunda sensibilidade à cultura chinesa e zelo pelo evangelismo. Utilizava roupas nativas da China (o que era raro entre os missionários de sua época) e também cortou o seu cabelo com um rabo-de-cavalo, como era costume nacional. [4] Sobre o respeito pela cultura, vale a pena também a leitura do livro Por esta cruz te matarei, de Bruce Olson (Editora Vida), obra que relata suas missões entre os índios Motilone da Colômbia.

No ano de 2014, a historiadora Patrícia Costa Grigório apresentou um trabalho no XVI Encontro Regional de História, na ANPUH, Rio de Janeiro, RJ, intitulado: “‘O Evangelho não destrói culturas’. A Missão Transcultural Batista entre os índios Xerente do Tocantins.” [5] Tratando sobre o trabalho dos missionários Guenther Carlos Krieger e Rinaldo de Mattos, ela explica que “[o Evangelho] é viável e comunicável para todos os homens em todas as culturas, em todas as épocas” e conclui com a afirmação de que “a utilização da cultura indígena e o reconhecimento de que os índios possuem um conhecimento que não deve ser descartado no processo de tradução da mensagem evangélica demonstram que há uma valorização desta pelas missões transculturais.

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Como resultado do evangelismo cristão, muitas tribos que se converteram abandonaram hábitos como canibalismo, infanticídio e abandono de idosos. O respeito às mulheres e crianças dentro das tribos melhorou. Não acreditemos no discurso relativista moral de que tais práticas devem ser mantidas em nome de uma “preservação” da cultura.

A vontade de Deus não é colocar um terno nos indígenas, e sim, um novo coração dentro deles (Ezequiel 36:26). Não destruir costumes, e sim o pecado que há em nós. O mundo sempre encontrará razões para criticar aqueles que levam a mensagem do Evangelho, mas a nós, apenas cumpre realizar o “Ide” de Jesus:

Então, Jesus aproximou-se deles e disse: "Foi-me dada toda a autoridade no céu e na terra. Portanto, vão e façam discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-os a obedecer a tudo o que eu lhes ordenei. E eu estarei sempre com vocês, até o fim dos tempos".

Mateus 28:18-20

Referências

[1] Veja o texto do folheto “A história da nossa salvação”. Disponível em: <https://gracamaior.com.br/estudos/batistas-do-setimo-dia/doutrinas/118-a-historia-da-nossa-salvacao.html>.

[2] Como uma imagem reacendeu um debate histórico sobre índios e religião. Disponível em: <http://www.bbc.com/portuguese/salasocial-41151841>.

[3] Robert J. Hutchinson, Uma história politicamente incorreta da Bíblia, p. 177-178.

[4] Confira sua biografia em Orlando Boyer, Heróis da Fé (edição de bolso), p. 165-186.

[5] Patrícia Costa Grigório, “‘O Evangelho não destrói culturas’. A Missão Transcultural Batista entre os índios Xerente do Tocantins.” Disponível em: <http://www.encontro2014.rj.anpuh.org/resources/anais/28/1400426618_ARQUIVO_encontro2014_anpuh_pgrigorio_oevangelhonaodestroiculturas.pdf>.

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